quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Uma defecou, a outra filmou

Texto muito bom de Eliane Brum, tirado do site da revista Época. Segundo a autora, "uma reflexão sobre barbárie e civiliação". Vale a pena ler.



A cena diante da câmera:

Desde a semana passada circula um vídeo na internet em que uma mulher, totalmente nua, defeca em uma agência bancária de Aracaju. Em seguida, ela se atira no chão, de costas, como se sentisse um grande prazer. Alguém, talvez um funcionário da agência, a cutuca. Ela reage com agressividade, levanta-se e empunha a calcinha suja de fezes como uma arma ao caminhar pelo hall. Depois, volta, limpa as fezes no chão com a roupa. E sai, nua e altiva. A porta da agência é rapidamente fechada. E lá fora ela parece proferir alguns xingamentos.

Isso é o que se vê no vídeo. Mas há algo menos explícito, que não pode ser visto, mas que vale a pena enxergarmos.

A cena por trás da câmera:

Desde o início da gravação, ouvimos uma risada feminina, talvez de quem filma a cena ou está ao lado de quem filma. Não parece ser aquele riso nervoso, que às vezes nos sucede diante de algo inusitado. Parece mais uma risada de alguém que se diverte com a cena. A risada vai aumentando. Ao final, quando a mulher já está fora do banco, a dona da risada faz um comentário: “Está com o demônio no corpo.”

Isso não se vê no vídeo. Apenas ouvimos.

Ao assistir às imagens, senti incômodo. Mas fiquei tão incomodada com a mulher nua e defecando quanto com a mulher filmando a cena. (E aqui vou tratá-la como mulher, por causa da voz, mas não faz a menor diferença se for um homem.) Ao investigar a razão do meu incômodo, percebi que estava diante de dois atos pré-civilizatórios: um óbvio e escancarado, o outro menos visível, mas não menos chocante.

O que é uma mulher nua defecando em uma agência bancária? Somos nós, quando ainda estávamos na natureza – e antes de nos tornarmos cultura. Naquele momento, ela era como um bebê que sente vontade de fazer cocô e faz. Vira-se no chão com visível prazer e alívio. E então é alcançada pelo homem – a Lei – que a cutuca dizendo que ela não pode fazer aquilo. Lembrando-a, portanto, do contrato social. A mulher reage ainda como natureza, ameaçando o homem com suas fezes. E, de repente, algo que também está nela retorna. Ao limpar as fezes no chão, ela volta a se inscrever na cultura.

Não é possível afirmar se a mulher está vivendo algum tipo de surto, mas me parece mais delírio do que protesto. Por que os atos dessa mulher chamam atenção é óbvio. A grosso modo, nos tornamos civilizados no momento em que sacrificamos a nossa natureza, recalcando nossos instintos mais primitivos, para garantir a vida em sociedade. Não podemos mais sair por aí fazendo o que bem entendemos, como defecar nus no meio de uma agência bancária quando sentimos vontade. É preciso procurar um banheiro, chavear a porta, usar papel higiênico, lavar bem as mãos depois e, quem sabe, até aplicar um spray para mascarar o mau cheiro. A repressão de nossos instintos, em todas as esferas do humano, tem um custo alto. Mas, em troca, ganhamos a segurança proporcionada pelo contrato social. A mulher que defeca na agência bancária quebra o contrato que garante a vida em sociedade (na nossa, pelo menos) e por isso se torna perturbadora.

O que me parece é que a mulher que a filma também quebra, mas isso não é interpretado desse modo nem por quem está presenciando a cena nem por quem assiste ao vídeo. Por que não podemos estuprar quem desejamos ou matar quem odiamos? Porque isso nos devolveria a um estado de natureza. Temos de reprimir nossos instintos e, assim, abrir mão de nossa liberdade. Nesse processo, é necessário enxergar o outro como uma pessoa, um semelhante, alguém com direitos, para que o pacto se torne possível. Por que, então, é aceitável que alguém filme a cena de um ser humano em total desamparo e a dissemine na internet? Por que esse ato não é visto como um rompimento do contrato social?

Quem filma a cena e muitos dos que a assistem, a julgar pelos comentários, não reconhecem mais na mulher nua que defeca em público uma semelhante – uma humana. Esse estranhamento os autorizaria a desnudá-la de uma forma muito mais profunda, para além das roupas, diante não apenas dos clientes da agência bancária, mas do mundo inteiro. Ou talvez a reconheçam tanto como uma igual, ao invejar sua liberdade selvagem, defecando no banco enquanto eles esperam na fila para pagar alguma das muitas contas sempre chatas, caras e burocráticas da vida em sociedade, que precisam imediatamente se afastar dela. E afastam-se filmando e expondo o que consideram sua diferença.

Ao filmar a cena e ao difundi-la na rede, embora exponha a mulher por completo, aquela que a filma não a enxerga de fato nem por um segundo. Porque para enxergar é preciso se identificar com o outro. Se em algum momento a mulher que filma tivesse conseguido se identificar com a mulher filmada, acredito que a teria protegido – e não a exposto mais.

Nesse sentido, embora seja a mulher filmada que esteja sem roupas, é a mulher que filma a mais nua entre as duas. É isso, no meu ponto de vista, o mais interessante desse vídeo e o que me faz trazê-lo para esta coluna: ele revela mais da mulher que filma do que da mulher filmada. Mas, em geral, não chama atenção o fato de alguém filmar uma pessoa em total e visível desamparo. Isso é visto como “normal” e aceitável. Minha hipótese, porém, é de que é um ato de barbárie, na medida em que deixa de reconhecer o outro como humano. Ao apontar e amplificar a barbárie que acredita estar na outra mulher, é ela que se torna bárbara.

Assim, ambas – a mulher filmada e a mulher que filma – se igualam ao eliminar o recalque e dar vazão aos seus instintos sem se identificarem uma com a outra. Uma não se reprimiu ao defecar em público, a outra não se reprimiu ao filmar a cena. A primeira exibiu as próprias fezes no ambiente de uma agência bancária, a segunda exibiu as fezes da outra para milhares de pessoas no ambiente da internet. Por que uma causa espanto e a outra não?

Pessoalmente, acho mais ameaçadora ao pacto civilizatório a mulher que filma do que a mulher que caga.

Eliane Brum, para revista Época.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Estou querendo demais?


"Sempre precisei de um pouco de atenção.....
Acho que não sei quem sou, só sei do que não gosto...."

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Diário.

Surtei duas vezes neste final de semana. Duas vezes, as duas por motivos banais. Fiquei tão irritada, com tanta raiva de tudo e de todos, que achei que fosse passar mal. Aí, veio a crise de choro. Raiva e choro e pior: não estou de TPM. Fiquei preocupada.

Então, resolvi passar um domingo mais light, em casa. Livro, filmes. Então, veio novamente o exagero: assisti uns 7 filmes consecutivos, até a hora de dormir. Não sai de casa, mal falei com as pessoas. Quando contei isso pra uma amiga, soou depressivo demais. De novo, fiquei preocupada.

Estou sentindo que tenho ido muito fácil aos extremos, da apatia ao caos. Em um minuto, calmaria; ao mesmo tempo, pareço estar a uma gota de explodir. Será que tem algo de errado comigo?

Não queria fazer do meu blog um diário, mas escrever ajuda a organizar as ideias e, consequentemente, a espairecer. Me sinto melhor quando os textos expressam meus sentimentos. Parece dilui-los, torná-los menos intensos.....


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Desabafo: não quero um emprego.



Não tenho dúvida de que as transformações trazem coisas boas. Sempre trazem. Outro dia, escrevi pro meu cliente uma frase e ele até usou em uma palestra: velhos caminhos levam aos mesmos lugares; se quiser chegar a lugares diferentes, é preciso trilhar novos caminhos. 

Mas, ainda assim,  as mudanças assustam. Usei a frase assim, de forma impessoal, mas é porque acredito que todos sentem essa insegurança ao fazer novas escolhas. Mas, pra não dizer que estou querendo ser a voz do povo, confesso: as mudanças me assutam. Freak me out. 

Têm sido assim meus últimos meses: frio na barriga, às vezes de empolgação e excitação, e às vezes de puro medo. Medo de dar errado, de ter que recomeçar, de fracassar. Um puta medo de fracassar.

Ser empresária foi uma escolha que fiz há muito tempo e coloquei em prática há quase 3 anos. Passei pela crise dos 2, que gerou até ruptura de sociedade, mas as coisas seguem bem, fluindo em um ritmo bom. Mas não é fácil. Recebo cobranças de todos os lados: pais, familiares, amigos. Na maioria das vezes, de forma indireta: "quando vai sair de casa?", "E aí, vai comprar outro carro?", "Quando vai montar o novo escritório?", "Já está ganhando dinheiro como esperava?"....

Ainda assim, como todos esses questionamentos, sinto que a cobrança mais dura e pesada vem de mim mesma. Essas perguntas que todos me fazem eventualmente, me faço todos os dias. Exijo muito de mim; quero ser independente, ganhar dinheiro, ser profissionalmente realizada; três coisinhas que parecem simples, mas que são difíceis pra caramba.

De vez em quando, ouço a pérola: "por que não arruma um emprego"? A pergunta vem com boas intenções, porque a ela sempre se segue um comentário elogioso: "você é ótima profissonal, muito boa no que faz, tenho certeza de que conseguiria um bom emprego e um salário satisfatório". E eu juro que penso nisso de vez em quando. Acontece que arrumar um emprego traz mais carga do que aparenta: representa o fracasso de um projeto pelo qual eu batalho há quase três anos e significa abrir mão daquilo que eu gosto mesmo de fazer.

Dilemas, dilemas. A vida é cheia deles. Por enquanto, sigo em frente. Não tão firme e nem tão forte, mas lutando. Contra o desânimo eventual, contra a inconstância de dinheiro, contra as dificuldades peculiares do meu negócio. Dizem que a gente, uma hora ou outra, colhe o que plantou. Assim espero.


segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Fritando.



A gente vai escutando, falando, cedendo, gritando, ouvindo, gemendo, forçando, deixando, argumentando, observando, gesticulando, frisando, deixando, calando, mostrando... até que a gente cansa. De tanto gerúndio.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Horóscopo do dia

"Você precisa de tempo para ruminar emoções e sentimentos, está mais voltado para si mesmo e assim mais distraído dos problemas do mundo. É um bom dia para não aparecer muito, e para desviar os holofotes de si. É a minguante lunar em ação!" (UOL)

"Nesta fase você vai preferir ficar quieto em seu canto curtindo o relacionamento com os seus. O momento é de muita riqueza emocional. Neste período é possível que um de seus pais precise muito de você." (Terra)



Nunca bateu tão certo....

Pra você guardei o amor...

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Bom humor

"O bom humor vem do hábito de olhar para as coisas com esperança e de esperar sempre o melhor. Não se trata de um estado de espírito, mas uma visão de mundo. E como disse o romancista britânico William Makepeace, é uma das melhores peças de vestuário que alguém pode usar na sociedade."  Citibank.

Erotismo



"Não foi à toa que Adélia Prado disse que 'erótica é a alma'. Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras.

Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma.... Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: -Continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

(Rubem Alves)

Segunda-feira de chuva.



Horário de verão. A segunda-feira demorou para abrir um sorriso hoje pela manhã. Acordou tarde, preguiçosa. Sorriu levemente, um brilho meio opaco. Segurou o máximo que pôde e... chorou. Copiosamente, como se quisesse lavar toda a secura de outrora ou simplesmente desabafar, esvaziar-se. Melancolia gostosa.

Aos poucos, se recompôs. Voltou a si, ventou para espairecer e espantar os maus ares. Segurou, provavelmente refletindo sobre si. E depois... chorou de novo; dessa vez um choro mais leve, mais brando e aliviado, quase contente.

E assim segue esse segunda-feira, forte e chorosa, em tons de cinza. 

Não há o que lamentar: é a chuva que rega as flores da primavera.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Morreu o gênio Steve Jobs...

Agora, dizem por aí que 3 maçãs mudaram o mundo: "a de Adão, a de Newton, a de Steve Jobs".

A arte de ser leve.

"Gentileza é qualidade de vida. 

Por um motivo simples a vida é feita de relacionamentos. Vive melhor quem tem competência para se relacionar e faz parte dessa competência tratar o outro com civilidade e respeito. Estique o braço para os lados, para cima e para baixo. É nessa área que você deve atuar.  Crie harmonia e beleza em seu entorno. Basta que cada um cultive gentileza em seu palmo de terra.

Pessoas felizes não são pessoas que não têm problemas. São aquelas mais preparadas para enfrentá-los porque geralmente tem bom senso e resistência, capacidade de tolerar frustações. Investir na estrutura emocional é investir na felicidade.

A competência para conviver pode ser um grande aliado da felicidade. A arte de viver bem que inclui a competência para se relacionar com os outros deveria ser insinado nas escolas. Só é feliz quem souber reciclar suas tristezas.”


Citações da autora no livro “A Arte de Ser Leve”.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Boa noite!

"Não é raro, tropeço e caio. Às vezes, tombo feio de ralar o coração. Claro que dói, mas tem uma coisa: a minha fé continua em pé. Tudo que é Verdadeiro, volta."

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Laços

"Então, o amor é isso. Não prende, não aperta, não sufoca. Porque quando vira nó, já deixou de ser laço." (Mario Quintana)

Atualizando

Tanto tempo sem escrever! Pode parecer que as coisas estavam meio paradas, mas foi justamente o contrário: um mês de muitas novidades, mudanças, transformações. Coisas que deixam a gente atordoada. Por isso, fiquei até sem ânimo pra escrever, porque precisava viver. Afinal, enquanto escrevo, a vida continua.... 

No dia 20 de agosto, senti uma das emoções mais fortes da minha vida. Dia cheio, logo cedo fui levar minha amiga Cris Abreu ao hospital: era o dia de nascer meus sobrinhos / afilhados, Bento e Nina. Brincadeiras, descontrações e muita expectativa. Quando entrei no aquário e a vi deitada, com tantos médicos e enfermeiras ao redor, o coração começou a bater mais forte. 

 
Mas a maior emoção foi ver os dois bichinos sair de dentro da barriga, sujinhos e perfeitos, tão frágeis e, ao mesmo tempo, tão capazes de mudar nossas vidas para sempre.  Chorei feito neném.


No dia 21, viajei para NY. Viagem de muitas alegrias, risadas, novidades, programas interessante e algumas tristezas. Dentre elas, estar longe quando se foram deste mundo meu avô (o último que me restava) e um primo jovem, de 26 anos, vítima da combinação terrível de álcool e volante. 18 dias intensos e felizes, mas com o coração às vezes apertado de tristeza e saudade.


Agora, após retornar e colocar minah vida em dia, pretendo também retomar meu mundo subjetivo e atemporal, o qual é bastante narrado e refletido aqui neste blog.


domingo, 14 de agosto de 2011

Frase do dia....

"Tem vez que as coisas pesam mais do que a gente acha que pode aguentar. Nessa hora fique firme, pois tudo isso logo vai passar".

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Assinado: eu


Obrigada!


Hoje só tenho que agradecer. Agradecer por todas as bênçãos recebidas, por todas as conquistas. Pelo caminho iluminado, pelos passos guiados,  pela sabedoria das escolhas, pela paciência adquirida, pelas decisões acertadas.
Gratidão!


quarta-feira, 20 de julho de 2011

Grace is gone

 
 
Neon shines through smoky eyes tonight
It's 2 a.m., I'm drunk again
It's heavy on my mind

I could never love again
So much as I love you
Where you end where I begin
Is like a river going through

Take my heart, take my eyes
´Cause I'll need them no more
If never again they'll fall upon
The one I so adore

Excuse me please, one more drink
Could you make it strong
'Cause I don't need to think
She broke my heart
My Grace is gone
One more drink and I'll move on

One drink to remember and another to forget
How could I ever dream to find sweet love like you again?
One drink to remember, another to forget...

Excuse me please, one more drink
Could you make it strong
'Cause I don't need to think
She broke my heart
My Grace is gone
One more drink and I´ll move on...
One more drink and I´ll be gone...

You think of things impossible
Then the sun refuses to shine
When I woke with you beside me
Your cold hand lay in mine

Excuse me please, one more drink
Could you make it strong
'Cause I don't need to think
She broke my heart
My Grace is gone
Another drink and I'll go...

One more drink, my Grace is gone.

terça-feira, 5 de julho de 2011

A elegância do ouriço.

Hoje terminei de ler o livro "A elegância do ouriço". Não quero aqui fazer uma sinopse, ou contar sobre os interessantíssimos personagens e seus nomes franceses. Não. O melhor do livro não é a estória em si, mas o que ela provoca na gente. Olha, já li muitos livros bons ao longo da vida; levando em consideração que ler é um dos hobbies que mais gosto, tenho na minha lista pelo menos uns 15 livros dos quais gostei muito. Mas esse aqui merece um comentário especial.

O livro é lindo; me emocionou pelas reflexões filosóficas que trouxe sobre a vida e sobre as pessoas. É um daqueles livros que expandem nossa mente e que, quando terminamos de ler, nos sentimos um pouco melhores, pessoas melhores. Ao mesmo tempo, mostra o quanto precisamos - sim, toda a humanidade, uns mais, outros menos - evoluir no sentido não de "compreender" as verdades humanas e seu comportamento, racionalmente falando, mas de enxergá-los com os olhos do coração e do espírito.

Além disso, poucas vezes encontrei um livro cujas reflexões se parecem tanto com o que penso sobre a vida e sobre as pessoas, salvo os pensamentos que excederam minha compreensão. E, para arrematar, Muriel Barbery (a escritora) tem uma forma deliciosa de escrever, que nos transporta para o mundo que descreve.

Olha, para quem não conhece, vale a pena:

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Longe demais

Li hoje no site UOL a seguinte comparação:

"Pode ser uma coincidência, mas tudo que vai acontecer com o personagem Léo, vivido por Gabriel Braga Nunes em "Insensato Coração", lembra o filme argentino "O Segredo dos seus Olhos", com Ricardo Darin. Lá, o marido de uma mulher assassinada, consegue manter o autor do crime em cativeiro em seu sítio, preso no porão da casa e submetido a toda sorte de privações e humilhações. Norma, Glória Pires, de acordo com os próximos capítulos e com todos os indícios de psicopatia, está prometendo fazer algo bem parecido para completar a sua vingança. Justiça pelas próprias mãos pelo que ela passou por causa dele no passado. O Léo, segundo se anuncia, também ficará mantido como prisioneiro e obrigado a satisfazer todas as suas vontades. No filme, o personagem não é preso e nem morre. Resta saber como será na novela."

Nunca li nada tão desproporcional. Para quem assistiu o belíssimo filme "O segredo de seus olhos", a comparação é, no mínimo, irritante. O jornalista que escreveu o comentário acima ou não assistiu o filme ou não teve a sensibilidade suficiente para perceber suas sutilezas.

O filme, um dos mais bonitos que já vi, traz uma reflexão sobre as relações humanas que vai muito além de vingança e violência. Amor, medo, morte, obsessão e mudança são brilhantemente abordados no decorrer da trama e fazem com que nós (com nossos valores e perspectivas de mundo) nos envolvamos na história, de maneira emocionante; ao contrário da novela, que - devido ao próprio propósito das novelas - traz uma abordagem infinitamente mais dramática, mirabolante e um tanto descolada da realidade.

Sinceramente? Na minha opinião, a falta de assunto fez com que forçassem uma comparação de desfechos que não poderiam ser comparados.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Inverno

Seja bem vindo, inverno!




Adoro esse frio, principalmente quando os dias estão ensolarados. Mas não é só por causa do clima que adoro o inverno. É que os primeiros dias de inverno marcam também o início de uma fase de mudanças, reavaliações da minha vida, na qual entro para dentro de mim para repensar o que é importante e o que preciso deixar para trás.  Ainda que esse momento tenha traços "infernais" (não é à toa que é chamado de "inferno astral"), prefiro vivê-lo sob uma outra perspectiva: de mudanças, amadurecimento e evolução, necessários a todo ciclo que se encerra.

Li outro dia, no site de horóscopo do UOL, que o inferno astral é "nada mais é do que o momento certo, no ciclo eterno da roda da vida, de finalizar pendências, entender algo, fazer as pazes com o passado, aceitar fragilidades, dependências e vulnerabilidades pessoais. Tudo isso para estar novo em folha e pronto para mais um ciclo de aventuras, diversão, descobertas e realizações que começará a partir de seu aniversário". E é assim que procuro enxergar essa fase.

Bom, eu já vinha de um processo de introversão, causado por várias coisas em minha vida que estão mudando, sobre as quais não tenho tanto controle. E, com a continuidade deste ciclo até o mês que vem, espero que os resultados sejam bons. 



Bom dia a todos!

União gay: tem juíz e deputado precisando de carinho

Compartilho da mesma visão de Leonardo Sakamoto, por isso resolvi compartilhar sua publicação. Aliás, vale a pena visitar o Blog do Sakamoto (http://blogdosakamoto.uol.com.br). Se quiser ler essa matéria no blog, clique aqui.

"Detesto fazer cobranças de apostas em público – até porque o jogo é (oficialmente) ilegal no Brasil – mas gostaria de pedir para separarem meu engradado de suco de manga. Banquei que algum espertinho no Congresso Nacional, de alguma bancada ligada à religião, ia contestar, em menos de um mês, a decisão do Supremo Tribunal Federal que reconheceu a união estável homoafetiva no último dia 5. E eis que João Campos (PSDB-GO) vai tentar no Parlamento derrubar a decisão dos ministros. Seu pedido foi apresentado em nome da Frente Parlamentar Evangélica.

Não me orgulho em ganhar as garrafinhas, pelo contrário. Preferiria pagá-las mil vezes a ter que ler notícias desse naipe. E olha que já tinha dobrado a dose de Omeprazol desde que, na última sexta, o juiz Jerônymo Pedro Villas Boas anulou uma união estável celebrada entre dois homens e proibiu registros desse tipo em qualquer cartório de Goiânia. O STF terá que, agora, se reunir de novo para fazer valer seu entendimento.

A preguiça que tenho desse pessoal é de um tamanho que vocês não imaginam. Isso sem contar a ação abnegada dos auto-intitulados representantes das forças do universo aqui na Terra para travar a legislação que tornaria crime a homofobia. Querem ter o direito de continuar dizendo que “ser viado é coisa do diabo e, por isso, precisa ser extirpado a todo o custo”, como bem me explicou um ex-comentarista deste blog tempos atrás.

Ah, mas você é cientista político e não defende a separação de poderes e não critica quando a Justiça usurpa a função que deveria ser dos eleitos democraticamente para isso? Sim e não. O país tem uma Constituição que garante direitos iguais para todos, mas no vácuo da inação do Parlamento de efetivar esses mesmos direitos, a Suprema Corte, instada a partir de casos reais sobre dúvidas reais que não podem esperar, deve sim se manifestar. Se algum nobre político reclamar que isso soa como um atestado de incompetência do Congresso, ótimo. Pegue uma senha e entre na fila.

Um casal gay não pode ficar no limbo da cidadania só porque alguém acredita que uma força sobrenatural não gosta de duas pessoas que se amam independentemente se têm pinto ou vagina. Tenho certeza que Deus – se existe – deve tomar Frontal nessas horas para aguentar os argumentos dessa turminha. De certa forma, ele está acostumamo, pois é uma forma de Inquisição. Com os evangélicos tendo aprendido bem o modus operandi católico.

“E o meu direito à liberdade de expressão, de poder reclamar dos gays? Você não defende essa liberdade para os maconheiros que marcham?” Desculpe, mas se você está usando esse argumento, peço encarecidamente que procure outro blog. Vai. Mas vai mesmo e não olha para trás para não virar estátua de sal, ok? Não pela sua opinião, que por mais bizarra que seja é sempre bem-vinda neste amável circo, mas pela incapacidade de entender o que estamos discutindo aqui há anos. Que por nascerem seres humanos, todos compartilham do direito à dignidade, que precisa ser garantida a todo o custo e acima de qualquer coisa. Obrigação do Estado que, lembremos, é (ou deveria ser) laico, defendendo a liberdade de culto, mas protegendo as minorias do absolutismo bisonho dos Torquemadas contemporâneos.

Tanto o nobre magistrado quanto o excelentíssimo deputado não lograrão êxito em suas buscas pelas trevas, pela desigualdade e a intolerância. Toda ação gera uma reação, já diria São Newton. Isso já era de se esperar e não irá abalar a decisão. Mas vale lembrar que o dois não são casos únicos, mas representam uma parcela da sociedade que ficou com sangue nos olhos com a decisão do STF. Não digeriram ainda o que aconteceu e devem vomitar por um bom tempo uma série de tentativas de voltar atrás, alimentando o querido Festival de Besteiras que Assola o País, lembrando nosso saudoso Stanislaw Ponte Preta/Sérgio Porto.

Enquanto isso, o que fazemos? Simples, tratamos esse povo como a mesma complacência com a qual se trata uma criança que não entendeu ainda que não pode machucar o amiguinho só porque ele é diferente. Educando, com amor e carinho, um dia vão entender."

Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Tic tac

Dentre as piores coisas do dia-a-dia está a insônia. Não tanto pelo cansaço do dia seguinte, nem mesmo por causa da irritação que causa. O pior da insônia são os pensamentos inúteis que invadem a mente. Cabeça a mil, uma avalanche de imagens, na maioria irreais ou ilusórias. Algumas horas com a cabeça disponível e o diabo faz a festa. Sou capaz de criar estórias com desfechos dramáticos e tão convincentes que choro e até tomo decisões definitivas. 

Ah, se a insônia fosse, para mim, produtiva.... Se pudesse transformar essas horas em estudos, reflexão, libertação. Mas não: massacra e sufoca, e os pensamentos ruins brotam como cogumelos na merda.... (desculpe-me pelo palavreado).

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Todo "pão duro" passa fome na cama

Prezados leitores,


Não sei de quem é o texto (não foi citada a fonte no email que recebi), mas vale muito a pena ler.


Abraços.


 "Uma mulher de 30 anos razoavelmente bonitinha pode não se lembrar de todas as noites razoavelmente boas que teve ao lado de homens razoavelmente legais. Mas certamente se lembra de todos os mãos de vaca. Esses a gente não esquece. Até os maravilhosos, dependendo da quantidade de remédios que se tomam pra dormir, a gente acaba apagando da memória. Mas dos “muxibas” a gente vai se lembrar até o último dia de nossas vidas.

O primeiro pão-duro que conheci foi quando eu tinha uns 17 anos. Um dos meus primeiros namoradinhos. Não lembro o sobrenome nem a cara dele, mas nunca vou esquecer o dia em que me falou: “Você paga o cinema porque já gastei a gasolina pra te pegar em casa”. Achei que esse tipo de homem fosse raro, mas com o passar dos anos descobri que, assim como os ejaculadores precoces, os pães-duros estão aos montes por aí. 

Teve uma vez também que conheci um grande empresário, dono de produtora e o escambau. Era a noite de lançamento de um dos meus livros e ele, gentilmente, reservou uma mesa para nós, que namorávamos havia poucos meses, e minha mãe, que ele iria conhecer naquela noite. Na hora da conta… Minha mãe se ofereceu. E ele somente sorriu e fez carinho na minha perna. Na mesma hora minha mãe chutou minha canela. Era nosso sinal já conhecido há anos de “cai fora dessa, minha filha”. 

Outra noite inesquecível foi quando outro namoradinho, com preguiça de passar no supermercado, resolveu levar um vinho de sua adega para o aniversário de uma amiga que oferecia um jantar. Ele passou o caminho inteiro reclamando: “Pô, custou 80 paus essa garrafa! 80 paus!” No momento de ir embora do jantar, como não havíamos aberto a garrafa, ele a pediu de volta — chocando a todos e selando pra sempre o fim do nosso amor.

Já viajei com homem que dividiu o quarto comigo e com outro casal em pleno Carnaval. Adepto da suruba? Não, pão-duro mesmo. O que, ao menos pra mim, é mais sujo e sacana que qualquer experimento grupal. Já ganhei presente de Natal igual ao da cunhada e ao da sogra porque, levando três vestidos, um saía de graça. E a mãe ainda achou uma boa idéia (aliás, isso é culpa delas, que não educam seus filhos).

Meu caro amigo: não peça pra embrulhar o que sobrou do jantar, não leve o resto da bebida, não reclame dos 4 reais a mais da água que você não lembra que tomou, não preencha cupom, não faça a moça andar sete quadras de salto pra economizar manobrista, jamais mencione a palavra “standard” e, principalmente, por favor, não comente depois de pedir camarão: “Porque afinal de contas hoje é uma noite especial, né?”.

Não tem dinheiro pra levar no DOM num primeiro encontro, leva no cachorro-quente, mas paga o raio da conta. Chegou antes no cinema, compra os dois ingressos e não cobra. Comeu feito um cavalo no 37º encontro enquanto ela beliscou uma salada? Paga a conta. Tá mauzão de grana? Convida prum filme em casa e capricha na massagem. Dinheiro não melhora o homem — mas o modo como se comporta em relação a ele definitivamente pode torná-lo pior.

Se algum homem duvida disso, deveria saber quanto custa se arrumar para uma noite especial. Quanto custam uma depilação perfeita (fora a dor), um cabelo bem tratado, as unhas bonitas, a pele sem manchas, uma roupa bacana, os dentes branquinhos, os pelos alourados do braço, o brinco que sumiu depois dos amassos no carro e, principalmente, aquela calcinha que você não vai ver… Afinal, homem que escolhe o prato pela coluna da direita não merece ver a coluna do meio."


quinta-feira, 9 de junho de 2011

As coisas do coração


Pegando embalo na música que marcou época, a Vivo fez um comercial fantástico em forma de clip. Assisti ontem e fiquei emocionada de verdade. Pode parecer sentimentalidades na véspera do chatíssimo Dia dos Namorados, mas não. "Eduardo e Mônica", por ter feito parte da minha adolescência,  tem um forte apelo emocional pra mim e mexe com minha subjetividade; ainda mais assim, com imagens carregadas de sentimento.

Depois de tanto tempo, adorei ouvir novamente a letra de uma música que conta a história de um casal, tão singular e, ao mesmo tempo, tão parecida com tantas outras histórias de amor. Um casal, que nada tinha para dar certo (por questões práticas e objetivas do dia-a-dia), superou obstáculos e segurou "a barra mais pesada que tiveram" para construir - contra todas as expectativas - uma longa vida feliz e conjunta, apostando no sentimento e na vontade de ficar juntos. É o contrário do que temos visto no mundo contemporâneo, de relações tão vulneráveis e tão frágeis. 

"Eduardo e Mônica" trouxe pra mim, dessa vez,  uma reflexão diferente. Talvez porque tenha escutado com ouvidos mais abertos ou esteja mais madura para entender o significado de "Eduardo e Mônica eram nada parecidos, ela era de Leão e ele tinha 16; ela fazia Medicina e falava alemão e ele ainda nas aulinhas de inglês...", ou talvez simplesmente porque se encaixa na minha subjetividade atual.... sei lá. Mas a verdade é que, mais do que nunca, "Eduardo e Mônica" trouxe, pra mim, uma lição de tolerância e respeito nas relações interpessoais; de superação, parceria e amor. E ser "tocada" por isso, me emocionando com o vídeo, foi uma das coisas mais deliciosas dos últimos meses.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Conhecimento

Em tempos de estudos, tenho aprendido tanta coisa nova! Conceitos e palavras que nem imaginava, os quais abrem janelas para novas visões do mundo e da vida.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

O amor como ele é


 "É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado.

É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.

Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado.

Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja.

Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.

Difícil é amar quem não está se amando.

Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente."

Por ANA JÁCOMO

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Sobre as escolhas.

A gente não escolhe sentir, mas escolhe o que vai fazer com o sentir. E a escolha que a gente faz é o que faz a diferença.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Psicossomático: texto completo

"O resfriado escorre quando o corpo não chora. A dor de garganta entope quando não é possível comunicar as aflições. O estômago arde quando as raivas não conseguem sair. O diabetes invade quando a solidão dói. O corpo engorda quando a insatisfação aperta. A dor de cabeça deprime quando as duvidas aumentam. O coração desiste quando o sentido da vida parece terminar. A alergia aparece quando o perfeccionismo fica intolerável. As unhas quebram quando as defesas ficam ameaçadas. O peito aperta quando o orgulho escraviza. O coração enfarta quando chega a ingratidão. A pressão sobe quando o medo aprisiona. As neuroses paralisam quando a "a criança interna" tiraniza. A febre esquenta quando as defesas detonam as fronteiras da imunidade."

Autor desconhecido. Se alguém souber quem escreveu, me avise.

Perfeccionismo


Está funcionando bem esse período de auto-descoberta, ou auto-conhecimento. Minha forma de agir, ou de reagir, ou se sentir, tem ficado cada vez mais clara pra mim. Isso me assusta um pouco, mas me sinto mais forte, mais verdadeira.

Estava lendo aqui no blog, postei um dia: "A alergia aparece quando o perfeccinismo fica intolerável", mas não tinha me dado conta do quanto isso é realmente a minha cara. E não só porque minhas alergias estão tão evidentes, um pouco mais a cada dia; porque também, mais evidente que elas, é o meu perfeccionismo, que tanto tem me sufocado. Uma necessidade de estar sempre certa, de fazer sempre o melhor, de não errar, de não fracassar.

Cheguei à conclusão de que não sei abrir mão do controle... contro;e sobre a vida, sobre as pessoas, sobre os sentimentos, sobre o incontrolável! E, mesmo sendo muito "coração",  pondero as coisas em demasia, e daí a minha fama de "racional". Não há nada errado em ponderar, mas faço isso mais do que deveria. É preciso ter o momento de chutar o balde, de se permitir.... de errar!  Mas não, só faço o que é certo, me atenho ao politicamente correto, mesmo que não seja o que eu quero! Abro mão do que quero pelo que é melhor, ou equilibrado...

Os sentimentos? Nossa, sou um desastre pra lidar com eles. Quando dou uma brecha pro sentimento, parece que tudo dá errado... então, fico querendo me manter fora de confusão, controlando tudo por meio de deciões devidamente pensadas. Mas não sei bem o timming disso aí. Então, quando resolvo baixar a guarda, realmente as coisas dão errado e eu fico me culpando por ter me permitido.... e pensando: "tá vendo? Eu deveria ter feito isso, isso e aquilo, sabia que ia dar merda".... (me vejo pensando isso).

Hoje, olhando pra mim, penso: tenho que relaxar mais! Cobrar menos de mim, ser menos perfeita, descer do salto, deixar as coisas fluirem com leveza e naturalidade, ser mais boba e menos politicamente correta, ser mais sentimento e menos razão, perder as estribeiras, morrer de amor, fazer besteira, quebrar a cara, passar vergonha.... errar, levantar e seguir em frente de novo, com alegria, sem que isso me incomode tanto. Preciso aprender a  lidar com o fracasso, com a frustração....

Não há problema algum em fazer papel de bobo!

A música como produto

Escrevo esse texto mais como um desabafo do que, propriamente, com o propósito de argumentação. Trata-se de um assunto delicado, que envolve temas como música, arte, marketing, comércio, profissão e sobrevivência. Por isso, não se esgota aqui; ao contrário, é apenas o início de um debate que precisa ser amadurecido em nossa sociedade.

Contextualizando: tudo começou com um vídeo musical que virou febre na internet. A música chamada "Oração" da banda curitibana “a banda mais bonita da cidade” foi postada na internet na semana passada, via You Tube, e já teve mais de um milhão de visualizações, além de ter se tornado um "viral" em meio às redes sociais. Os jovens músicos apostaram no “fofo” e no “meigo” na letra e melodia de “Oração” e – motivo de polêmica – praticamente “copiaram” o também conhecido clipe da banda Beirut (veja aqui o video da banda Beirut), assumindo na descrição do vídeo (postado abaixo): “é, a gente adora Beirut mesmo”. Veja:



As críticas vieram tão rapidamente quanto aos elogios. Se milhares de pessoas “curtiram” e compartilharam, por outro lado, alguns acusavam a banda de “bobinha”, por seu estilo alegre. Um dos internautas arriscou o depoimento “essas bandas "moderninhas" parecem querer habitar um plano mais elevado que o nosso, fazendo (sempre) alguma coisa simples-doce-meiga-ingênua-cult...” e continua “todas são mais ou menos parecidas (até essa tal Beirut) e veneradas por um grupo que é igual à banda, do corte de cabelo ao discurso... fica aquela atitude (?) blasé "vamos tocar na rua/praça pública porque é cult”. Outros, indignados com o suposto plágio, atacavam os jovens que tentam fazer uma música.... para vender!

Aqui entramos no foco da discussão que gostaria de propor. Primeiramente, quero ressaltar: não vamos entrar na questão de gosto musical, porque cada um tem um. O meu, por exemplo, é tão eclético que vai de música clássica, como Mozart, Vivaldi e Chopin ao som pesado de Rage Against The Machine, passando por bandas alternativas como Camera Obscura, tristes como Nick Drake, de rock como Dave Matthew's Band, politizadas como Moby, “bregas” como Belchior, de black metal como Burzum amplamente conhecidas, como Rolling Stones. Escuto o que agrada meus ouvidos, sem rótulos e sem levantar bandeiras. E confesso: gostei da música Oração.

Mas a questão é que a banda, que a princípio fez uma música “comercial”, foi atacada por alguns que dizem não se tratar de arte. Aqui, aproprio de algumas palavras que encontrei pela internet para descrever o que penso: “Existe arte e existe entretenimento. Qual é o problema de existirem os dois? E quem falou que a banda visava criar um objeto de arte? Eu não sei”. Se visavam ou não, eu também não sei, mas isso não desmerece o que fizeram, na minha opinião. Quiseram criar uma música e divulgá-la; quiseram tornar-se conhecidos. Seria pretensão julgar os trabalhos de outros e classificá-los ou não como arte; com base em que?

Acho atrasada a discussão que alguns grupos levantam de que só são “bons” aqueles que não fazem músicas “comerciais”. Ora, todo músico quer ter suas músicas conhecidas, nem que seja em meio a um público segmentado. Se não, tocariam por “arte” ou por mero prazer nas garagens de suas casas, e não se esforçariam para publicar vídeos na internet ou criar perfis no My Space, ou divulgar músicas pelo FaceBook. Então, não dá para fazer música só para si mesmo e cair no argumento (este sim, blasé) de que “minha música é para poucos”.

Claro que, infelizmente, nem tudo que vende é bom (na minha modesta opinião, 10% ou menos do que é amplamente vendido e divulgado é bom). Temos muitas bandas e cantores que são frutos de uma bela produção de marketing e não fariam um bom som ao vivo porque não são músicos de verdade. Mas, também, nem tudo que é underground é bom! E nem tudo que vende é ruim! Falta um pouco de raciocínio lógico aqui: existe um grupo enorme de boas músicas e bons músicos; dentro deste grupo, existem subgrupos: das músicas comerciais, das músicas não comerciais. Estes dois, também se subdividem, e assim sucessivamente. Assim, uma coisa não exclui a outra: ser bom não é sinônimo de não ser comercial, a exemplo de bandas belíssimas e famosas, como The Doors, The Beatles, dentre outas. É questão de gosto!

Tenho amigos músicos e vejo da seguinte forma: ser músico é uma profissão como outra qualquer, e faz-se necessário algum sacrifício. Para obter sucesso, muitas vezes é preciso sim abrir mão da vaidade e apostar em algo que vai vender (aqui não vamos entrar na discussão da ética, para não nos estendermos demais no assunto). Essa é uma forma eficaz de ter o trabalho reconhecido, de maneira a também promover as chamadas músicas “lado b”, geralmente mais interessantes.

Antigamente, ficávamos reféns das gravadoras e de suas vontades, que gravavam e divulgavam somente o que era vendável. Isso sim era uma limitação terrível. Hoje em dia, agradeço por termos a internet como forma democrática de divulgação de trabalhos para os artistas e de acessibilidade para os interessados. Ouvimos o que queremos, desde as bandas mais conhecidas até as bandas de garagem, graças a essa democratização da informação e do desenvolvimento de tecnologias nos meios de comunicação. É um avanço, e outros avanços estão por vir. Então, creio eu que devemos deixar para trás o pensamento atrasado, polarizado, estilo guerra fria, como se realmente estivéssemos entre bons e maus.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Quando trair faz bem

Uma fábula moral, mas ao contrário.

Por Ivan Martins, para a Revista Época (clique aqui para ler).

O celular tocou por volta das oito da noite. Quando vi quem era, soube do que se tratava mesmo antes de atender. “Eu estou jantando com você, tá?”, disse uma voz de mulher. Eu concordei sem fazer perguntas. Foi a única vez que uma amiga, não um amigo, ligou para pedir um álibi. Ela iria sair com um sujeito, era casada e, caso precisasse mentir em casa, queria usar meu nome. Não precisou.

Eu vinha acompanhando o caso há semanas.

A amiga estava às voltas com um sujeito que mexia com os sentimentos dela. Eles haviam se conhecido durante uma viagem de avião e estabeleceram nos meses seguintes uma relação de enorme intimidade. Conversavam por telefone várias vezes ao dia, almoçavam pelo menos uma vez por semana e trocavam emails, dezenas de emails, cheios de desejo sublimado. A cumplicidade só não incluía sexo.

No momento em que eu soube da história, a amiga já estava a ponto de ligar para ele, que também era casado, nas noites de sábado e domingo. O convívio com o marido estava se tornando difícil. Ela pensava no outro, desejava o outro, sentia falta do outro. Veio desabafar comigo, perguntou o que eu achava. Nós nos conhecíamos desde antes do casamento dela e eu sabia da sinceridade e da intensidade dos seus sentimentos. Aquela mulher não iria conviver com ambiguidades por muito tempo.

Para mim, a questão era óbvia: o desejo pelo outro estava arruinando o casamento dela. Ela disse que se sentia parte de uma relação sólida e feliz até conhecer o cara do avião. Agora já não tinha mais certeza. Àquela altura, me pareceu que havia três possibilidades.

A primeira era virar as costas para o desejo, cortar relações com o cara que o provocava, ater-se ao casamento e viver com as consequências emocionais dessa decisão, que não me pareciam promissoras. Pensei nisso como a solução heróica. A outra possibilidade era contar ao marido o que estava acontecendo e correr o risco óbvio de que ele, magoado, saísse de casa para não mais voltar. Era o sincericídio. A terceira, claro, era transar com o sujeito e descobrir o que vinha depois.

Na época me pareceu – e eu disse isso a ela – que a solução menos danosa era a terceira. Se toda aquela comoção fosse apenas luxúria, se todo aquele romance fosse só uma projeção do desejo, ela perceberia depois de transar. Sexo (ao menos para os homens) ajuda a dar dimensão real a sentimentos que, de outra forma, crescem até se tornarem fantasias asfixiantes. Era o que estava acontecendo com a minha amiga.

Havia também a possibilidade de que ela sentisse, depois de transar, que queria mesmo o tal sujeito – e, nesse caso, seria covardia fugir do sentimento, não? Em assuntos de tal gravidade, antes de ser leal a qualquer outra pessoa convém ser verdadeiro consigo mesmo, eu acho.

Enfim, ela e eu falamos algumas vezes sobre o impasse, mas a situação não parecia se resolver com palavras ou resoluções. Por isso eu entendi imediatamente quando o telefone tocou. Ela havia decidido correr o risco.

Essa história tem alguns anos, mas eu ainda consigo ver as sobrancelhas grossas da amiga, seu sorriso constrangido com a situação. Ela não era especialmente bonita, mas chamava a atenção em qualquer ambiente pela sensualidade e pela alegria. Tinha tido desde muito jovem uma vida afetiva e sexual intensa. Casara-se aos 30 e dizia estar pronta para o compromisso. Mas, cinco anos depois, no momento em que ela e o marido discutiam a possibilidade de ter filhos, apareceu o tal sujeito. Alto, falante e sedutor, segundo ela me disse, parecia o oposto do parceiro dela, que era reservado e irônico. Seria natural que ela achasse o contraste excitante, mas deixar-ser envolver daquele jeito... Enfim, nada mais fácil do que julgar os sentimentos dos outros.

Por uma semana depois daquele telefonema de cúmplice, minha amiga sumiu. Quando ligou de novo, era outra pessoa. Me chamou para almoçar e contou quase tudo.

Fiquei sabendo que a noite de infidelidade fora “boa”. Ela fizera reserva num hotel no centro da cidade e convocara o fulano. Quando ele chegou, havia no quarto champagne gelada e uma mulher nervosa, mas determinada. Sem me contar detalhes, disse que o sexo fora como ela imaginara. Melhor, até. Mas, cinco minutos depois, quando ela voltou do banheiro, ficou claro: a mágica tinha evaporado junto com o tesão. Resolvida a curiosidade física, ela sentiu que não tinha mais nada a fazer ali. Não estava apaixonada coisíssima nenhuma. Teve vergonha da própria nudez e da nudez do outro. Sentiu urgência de voltar para casa. Foi tomada por um medo terrível, quase pânico, de que o marido descobrisse. Só conseguia pensar – na verdade, ela me disse, tinha vontade de gritar – o quanto gostava do marido.

Se a vida fosse um filme americano ou uma parábola bíblica, sua transgressão teria sido punida com um flagrante ou um acidente terrível, que tornaria explícita a natureza abominável do seu ato – e a punição inevitável dos céus. Mas a vida foi melhor do que isso.

Ela voltou para casa apreensiva, mas sentia-se melhor do que antes. Deixara para trás uma dúvida capaz de envenenar seu casamento e seu espírito. Estava mais segura dos seus sentimentos. Nos dias seguintes, o sexo com o marido melhorou sem que ele entendesse por quê. O casal voltou a discutir a possibilidade de ter filhos. Isso aconteceu faz alguns anos e eu paro de contar por aqui.

Na semana passada eu tinha dito que a traição, às vezes, pode fazer bem. Neste caso, fez. Se a minha amiga descobrisse que amava o outro sujeito, teria sido bom também. A verdade é importante. Mais importante, em algumas situações, do que as regras que nós inventamos há milênios para nos proteger da dor e da solidão.

As mulheres e o horóscopo

Não sei porque tenho esse péssimo hábito de ler horóscopo de vez em quando, principalmente quando tenho insegurança sobre algo da vida. Que coisa de mulherzinha, né? "Ai, vou ler a previsão do meu signo". Não sei o que é pior, se é ler ou acreditar. Aí vem aquelas previsões mefistofélicas, estranhas, abstratas, e é claro que me deixam ainda mais insegura. Putz, pra que ler então?

#revoltadacomohoroscopo.

domingo, 15 de maio de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Conto: Descobrindo-se parte II

Após o ritual pós banho, foi para o quarto para vestir-se. Não queria nada muito chamativo, preferia passar despercebida naquele momento, já que estava mesmo introvertida. Mas queria se sentir bonita e arrumada, não para que o mundo a admirasse, mas para si mesma, para que pudesse se ver e se admirar e apaixonar-se de novo por si mesma...  "eu mereço", pensou. 

O tempo estava frio, no clima do outono. Escolheu roupas íntimas confortáveis, de algodão, em tons de verde. Colocou uma meia-calça grossa de cor preta, saia xadrez de marrom e preto e uma blusa preta justa de gola alta, para tampar do frio. No pescoço, enrolou um cachecol preto de lã que havia ganhado de uma amiga muito querida que tinha se mudado para a Austrália... "que saudades da Amanda", pensou enquanto ajeitava o acessório. Fez uma maquiagem leve, apenas para realçar os traços, secou os cabelos para não sentir frio, calçou uma bota preta de saltos altos e saiu levando consigo uma bolsa pequena, de tamanho suficiente para levar seus documentos, cartões e algum dinheiro. Deixou o celular em casa.

Laura era o nome dela. Apesar de gostar de seu próprio nome, achava estranho quando alguém o pronunciava assim "Laura", parecia que estavam brigando. Preferia Lau, Laurinha, algo que soasse menos formal. Pensou nisso enquanto descia pelo elevador e saía pelo portão do prédio, localizado em um ponto privilegiado por ter por perto vários bares, restaurantes, shoppings, padarias, farmácias e todo tipo de comércio que precisava. Tinha várias opções naquele momento.

Ao dar os primeiros passos pela calçada, pensou que seria mais interessante se fosse ao cinema; afinal, como sentar sozinha e pensativa na mesa de um bar cheio de gente? Seria assediada demais, ou pareceria incrivelmente deprimida ou abandonada. Se ainda fosse um Café, onde pudesse ler e pensar enquanto bebericava uma taça de vinho, ok. Um bar, não.

Havia, a uns cinco ou seis quarteirões da casa dela, um cinema que gostava muito, com ar mais reservado e filmes mais alternativos, não tão "hollywoodianos" quanto os dos cinemas dos shoppings. Neste cinema havia um Café onde as pessoas ficavam para esperar os horários dos filmes ou para conversar sobre eles. Seria perfeito: uma caminhada tranquila até o cinema, durante a qual poderia pensar um pouco na vida, e um filme interessante; depois, comeria algo antes de voltar pra casa. "Pego um táxi depois, se ficar muito tarde", concluiu, finalizando o planejamento de sua noite.

Olhos para frente e seguiu caminhando....

Nossa, quanto tempo não caminho sozinha, não saio sozinha.... tinha até me esquecido como é bom ficar comigo mesma... aliás, ficar comigo mesma... hum, hoje termino a noite com um filminho pornô na internet, vou transar comigo mesma pra fechar com chave de ouro esse momento... Hum, delícia, será que meu notebook tem bateria suficiente pra assistir o filminho deitada na cama? Usei muito a bateria dele hoje para enviar aqueles emails para aquele mala... ai, que saco, é só descuidar e já começo a pensar em trabalho e nessas coisas chatas que me perturbam. Mas acho que tem sim, acho que a bateria ainda dura uns 40 minutos, também não preciso ficar uma hora com notebook ligado, vou estar cansada, resolvo em 30 minutos, no máximo.. Hum, se bem que seria bom não ficar preocupada com a bateria, vou ligar pra Carol e pedir pra ela colocar o notebook pra carregar, mas que desculpa vou dar? Ah, não preciso de desculpas, qualquer coisa eu falo que quero ouvir música antes de dormir, sei lá, invento uma coisa qualquer, sou boa nisso. A Carol anda desligada ultimamente, nem vai perguntar nada, está no mundo da lua por causa do Paulo, tá apaixonada... espero que ela não sofra, essa coisa de se entregar muito dá um medo, sei lá, a gente fica vulnerável... mas Carol não sabe ser metade, ela se joga nos relacionamentos, é uma fofa, mas é bem idealista também, ela deveria se cuidar mais, ou talvez ela esteja certa, ficar com medo por que? Melhor viver intensamente do que depois se arrepender de não ter vivido tudo.... Nossa, que calçada mais irregular, coisa chata andar de salto nessa calçada, as calçadas deveriam ser retas e sem buracos, iguais aos pisos das casas. Se o Léo estivesse aqui, já estaria xingando o governo, que não cuida das calçadas... mas o Léo não serve de base, ele reclama de tudo, tudo é culpa dos outros.. do governo, dos pais dele, minha... odeio quando ele coloca a culpa em mim das coisas que acontecem entre a gente! Léo é muito mimado, isso sim, a mãe fica paparicando e fazendo as vontades dele, e como eu não faço igual ele fica reclamando de mim, fico parecendo a chata da história... tá ficando desgastante já essa história, tenho ficado tão irritada com o Léo! Que ódio quando ele fala qualquer coisa, me liga naquele tom de  "tô nem aí " , sei lá, descaso. Nossa, que moça gentil, obrigada moça!... Hoje em dia é tão difícil os carros darem passagem para os pedestres que quando alguém faz isso fico com medo de ser pegadinha... , na verdade falta gentileza no trânsito. Falta gentileza na vida, todo mundo só se preocupa em se dar bem, só com o próprio umbigo... ai, tô reclamando que nem o Léo, que saco isso, convivência é foda, a gente  pega até as manias que não quer pegar, nossa, que cara bonito, que casal bonito, que menina mais bonita, andar por aqui é tão bom, só gente bonita, fiz bem em sair hoje sozinha, pra ver gente, preciso ver gente, delícia, depois do filme vou tomar um vinho sozinha, tô nem aí.....  bom que dá pra pensar no filme e até conhecer alguma pessoa interessante que esteja por lá, trocar ideias, lá sempre tem pessoas tão legais.. quanto tempo não vou lá, nossa, o Léo não gosta de cinema e muito menos de lá, aliás, ele não gosta de nada que seja meio cult, acha esse povo chato, eu adoro... adoro climinha alternativo... o Léo é um chato mesmo, tem horas que somos tão diferentes... será que é isso mesmo que eu quero pra mim? Ai, que roupa linda nessa vitrine, meodeos, que linda, nossa, vou vir aqui amanhã, aproveitar que está em promoção, nossa, é a minha cara essa roupa...  nossa, tô começando a sentir calor com esse cachecol... mas também, caminhar esquenta o corpo, daqui a pouco entro no cinema e sinto frio, me conheço, sou frienta, só estou sentindo calor porque vim andando, que bom que está chegando, quero assistir um bom filme, será o que deve estar passando? Deveria ter olhado na internet antes de sair... se bem que é bom assim, sem escolher antes, sem planejar, talvez algum dos filmes me surpreenda, os filmes de lá são sempre bons, pelo menos me faz pensar na vida, na minha vida... tô precisando pensar na minha vida, ando tão consumida pela vida cotidiana, tá difícil pensar na vida, não posso deixar as coisas passarem assim não, coisa de gente alienada, sempre fui tão engajada, intelectual... só depois que comecei a namorar o Léo é que parei de fazer essas coisas que gosto, pensar na vida, ir ao cinema cult, ler meus livros...  que coisa, ultimamente só saio pra buteco, mas tá bom, um buteco é sempre bom, aliás, vou ver se as meninas animam um buteco nesse final de semana, pra conversar fiado, tô precisando de uma folga do Léo, não quero sair com ele no sábado, vou ligar pra Lorena, a gente articula, chama todo mundo, a Flor, a Joana, Claudinha e Aline, um encontro só de mulheres, sem os namorados, ai, a-do-ro... ué, engraçado, não tinha reparado esse bar aqui nessa rua, será que é novo? Parece que sim, depois quero vir aqui, vou chamar o Léo, é bar pra casal, as meninas não vão querer vir aqui sem os respectivos, certeza, mas de repente a gente marca uma saída com alguns casais, gostei daqui, acho que o Léo não vai gostar, aposto que vai falar que é chiliquento, Léo é chato demais, aqui deveria ter faixa de pedestre, que dificuldade para atravessar a rua! Nossa, será que aquilo é fila pro cinema? Ou será apenas um aglomerado de fumantes? Agora que não se pode fumar dentro dos lugares o povo fica tudo na porta pra fumar... não entendo essa coisa de fumar, credo, Deus me livre, ai, que bom que cheguei, caminhada boa!

Conto: Descobrindo-se - parte I

Por: Thais Wadhy


Já era tarde quando ela decidiu sair de casa para se distrair um pouco, deixar de pensar nos problemas. Estava se sentindo ansiosa demais devido aos últimos acontecimentos: atritos no trabalho, sobrecarga de responsabilidades (sentia até os ombros mais pesados do que deveria), desentendimentos no relacionamento. Quando pensava no relacionamento, ficava ainda mais angustiada; havia algo errado, ela sentia com sua intuição feminina, mas não sabia dizer ao certo o que era. Tinha coisas por trás das brigas banais, alguma subjetividade, alguma coisa mal resolvida; mas o que?  Para pensar melhor, queria sair. "Sozinha", pensara. Então ligou para o namorado:

- Oi, linda - atendeu ele do outro lado, com a voz um tanto entediada, jurando que o telefonema seria para conversar mais uma vez. Detestava conversar por telefone e discutir a relação.
- Oi. Estou ligando pra avisar que vou dar uma volta - respondeu ela, fingindo não perceber o tom da voz que ela não gostava que ele fizesse, pois parecia estar culpando-a pelos problemas.
- Dar uma volta? Estou em casa, cansado. Trabalho amanhã cedo.
- Eu sei, eu vou sozinha. Vou dar uma volta.
- Dar uma volta sozinha? - Perguntou, desconfiado. Ela nunca queria sair sozinha. - Está doida? Vai sair sozinha a essa hora? 
- Vou, preciso pensar um pouco na vida, espairecer. Vou dar uma volta, estou ligando pra avisar.
- 'Tá bom então. Vai aonde? - Aquilo era muito estranho pra ele, que sempre esteve acostumado com o jeito caseiro da namorada.
- Não sei....   beijo, boa noite - Disse ela, querendo colocar um fim na conversa. Não estava a fim de muitas explicações.
- Beijo, boa noite. Qualquer coisa, me liga.

Qualquer coisa me liga? O que foi aquilo? Pensou ela, percebendo as palavras vazias do namorado, sem significado. Quer coisa mais vaga do que "qualquer coisa, me liga"?  Mas não estava nem um pouco disposta a pensar sobre as palavras dele, que quase sempre nessas horas representavam um "ahan pra não render".

Entrou no banheiro, olhou-se no espelho. Reparou em seus olhos cor de mel, levemente puxados, em sua boca bem feita, no nariz arrebitado e até nas marcas de expressão, que demonstravam para o mundo que já não era mais uma menina. Sentiu-se bonita, há tempos não se sentia assim. Analisou-se de frente, de perfil, esticou a pele do rosto para ver como ficava lisinha, sorriu para si mesma. Tirou a calça jeans surrada que tanto gostava de usar,  a camisa xadrex acinturada e a lingerie lilás, soltou os longos cabelos castanhos que exibiam poucas mechas mais claras, da cor de seus olhos. Ficou na pontas dos pés para ver seu corpo inteiro, ou pelo menos do joelho pra cima; admirou suas curvas, de frente e de perfil. Murchou um pouco a barriga pra ver como ficava se estivesse um pouco mais magra. "Se eu perder uns 2kg, vai ficar ótimo", pensou, como toda mulher pensaria. Então olhou sua bunda pelo espelho, checou os pelos das axilas, conferiu se havia algum cravo para ser retirado e, sentindo-se pronta, rumou para o banho.

Ligou o chuveiro, deixou a água cair em seu rosto, como se pudesse limpar a alma. Fechou os olhos para se desligar do mundo e, mais uma vez, sentiu um peso nas costas. Para aliviar, virou-se de costas e deixou a ducha massagear seus ombros. Então lavou-se vagarosamente, curtindo o deslizar de suas mãos ensaboadas pelo corpo. Arrepiou com seu próprio toque, o bico dos seios endurecidos. "Tesão acumulado", pensou ela, que há alguns dias não transava com seu namorado por causa dos atritos das últimas semanas. Então, para não se entreter demais no chuveiro, desligou-o. Enxugou-se lentamente, hidratou o corpo com uma loção de cheiro suave e foi para o quarto para vestir-se.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A guerra dos sexos

Isn't it ironic?


Aprendo muito com a vida cotidiana, com pequenas cenas do dia-a-dia e comentários que se seguem diante das situações e das reflexões. Neste final de semana, não foi diferente. Uma situação particular me chamou a atenção para a diferença entre os universos masculino e feminino; grandes diferenças!

Eu nem posso  falar muito sobre o universo masculino, porque neste eu vivo e convivo muito pouco, por opção e por gosto. Mas, como já disse aqui, a vida tem muitos mistérios... e, por circunstâncias da vida, fui "levada" a deixar de lado essa intolerância e aprender a conviver e a respeitar as diferenças. Vou enfatizar que acho isso bom: nada é por acaso, tudo vem para nos mostrar ou ensinar alguma coisa. Então aceitei de bom grado os desafios a mim colocados, e desde então a minha convivência com os homens aumentou um pouco. Bom, mas isso tudo aí foi só para contextualizar, porque o que eu quero contar mesmo é o caso do final de semana, fato curioso que me fez amadurecer um pouco mais e enxergar com olhos mais brandos as diferenças entre os de Marte e as de Vênus. E estou feliz com isso.

Estava eu em uma festa muito agradável de amigos muito queridos que resolveram se casar. Hoje em dia eu já convivo bem com essas formalidades e esses compromissos sociais, indispensáveis a vida em sociedade. Então, lá estava eu, bem humorada, satisfeita por ter sido convidada para tamanha solenidade, que foi a festa de noivado. Falo solenidade porque representa muito para os noivos, mas na verdade a festa foi muito simples e tranquila, bem do jeito que eu gosto, com conversas e risadas e cerveja gelada e petiscos e muita alegria e chinelo Havaianas.

Acontece que minha amizade com esses queridos amigos surgiu a partir do Pablo, meu digníssimo atual namorado, que é amigo de longa data dos noivos e também dos amigos dos noivos, homens e ogros, hoje todos casados... menos o Pablo, até porque ele ainda não encontrou uma noiva para poder se casar (e o Marcão... que já foi casado uma vez e que hoje em dia deve ter lá os seus traumas, porque namora há 6 anos com a Baixinha, que é uma fofa, e levam vida de casado, mas até então têm deixado as coisas assim, no quase. Mas ele não conta, porque já foi casado uma vez; então é "menos o Pablo"). 

Algumas das queridas esposas dos amigos do Pablo, queridas de verdade, senão nem diria aqui, até porque elas não lêem meu blog e nunca saberão de meus escritos, mas se souberem e lerem, ressalto que são realmente muito queridas e queridos, todos. Mas, ao mesmo tempo, são muito diferentes de mim essas esposas, e nessas ocasiões aparecem com assuntos de casamento e de coisas que pouco me interessam nesse momento, então fico deslocada com os assuntos e acabo saindo de perto delas; menos da noiva e da Baixinha, essas sim são mulheres interessantíssimas, cada uma com seu jeito peculiar, com muita consciência de suas vidas, casadas ou não. São mulheres admiráveis. Mas a noiva, Paulinha, era a anfitriã, e não era possível manter uma conversa com ela por mais de dois minutos, era sempre muito solicitada, ainda mais ela, a cozinheira da festa... cozinheira não, chef! Gastrônoma de verdade e de mão cheia, que fez comidas deliciosas, como sempre. E a Baixinha estava a conversar com as outras esposas e namoradas, porque a Baixinha é uma pessoa tão especial e simples, que se relaciona com todo mundo sempre com a melhor carinha do mundo, animada seja qual for o assunto, e também fica calada e quieta se necessário. Admiro a Baixinha. E nesse contexto, eu não queria mais que as pessoas começassem a perguntar quando é que eu vou me casar, ou me perguntar sobre meu futuro (ainda mais eu, que mal sei do meu presente nos assuntos do coração) e todas essas coisas sobre as quais mulheres criadas para casar e constituir família querem falar. Então, me levantei e fui lá conversar com os ogros, que nunca falam de casamento, nem de relacionamento e nem nada que possa estar relacionado com os sentimentos e relações entre pessoas. Falam de futebol, de mulher gostosa, do Direito (porque todos se formaram juntos - advogados), dos processos e ações, da vida e da sociedade, Bin Laden e tudo mais. Achei que fosse gostar mais do papo, apesar de - como já disse - ter pouca vivência nesse meio aí. Pelo menos não me colocariam em saia justa.

Mas acontece que lá pelas tantas os amigos já não estavam tão legais, estavam bêbados, falando alto, gritando uns com os outros, não conversavam sobre nenhum assunto relevante, aliás, nem conversavam, só grunhiam (é assim que escreve?), riam, gargalhavam, tomavam cachaça, atrapalhavam o discurso dos noivos e todas essas coisas típicas de bêbados chatos que têm muita intimidade uns com os outros. Uma coisa meio animal, totalmente masculina e heterossexual (sem preconceitos, mas é que não vejo isso entre meus amigos gays), dava medo. Juro.

Então eu, que já não conseguia mais interagir com nenhum dos grupos, nem o das esposas casamenteiras, nem o dos ogros, nem com uma criança que lá estava (com a qual pude interagir um pouco, já que adoro crianças, mas que depois foi curtir seu próprio mundinho) ou com sua mãe, que estava ocupada demais com as estripulias de sua cria para arriscar assuntos com qualquer um que fosse, sentei derrotada em uma cadeira um pouco isolada (mas não anti-social), quando Pablo veio falar comigo, perguntou se havia algo errado. "Não, está tudo ótimo!", disse sorrindo. E estava mesmo, não tinha nada de errado com as pessoas... tinha algo de errado comigo, pensei, meio peixe fora d'água. Eu que talvez tenha deixado a arrogância tomar conta de mim, ou tenha me acostumado tanto a conviver com minhas amigas, mulheres modernas e independentes, que tenha esquecido que no mundo real existem pessoas de todos os jeitos, e que não há certo e errado, nem melhor ou pior; há "diferente".

Nessa hora, me sentindo mal por ser tão pouco compreensiva, escuto de um dos queridos amigos ogros, chateado com a esposa por pequenas incompatibilidades na rotina: "mulher é uma DESGRAAAAÇA". Choquei. Fiquei olhando pra ele, mil coisas se passaram pela minha cabeça... e ainda pensei "como assim? Homens são..... são.....", mas nem ousei completar a frase, nem mesmo em pensamentos, porque iria por água abaixo todo meu esforço de tanto tempo para ser "elevada", "evoluída", tolerante, sábia e essas coisas que a gente quer ser quando chega nos 30 anos. Então calei meu pensamento e escutei a explicação dele, que tinha a ver com essas diferenças entre homens e mulheres e com a guerra dos sexos, e me senti mais humana nesse momento, juro. E então tudo ficou tão claro pra mim, percebi que homens não são mesmo criados para gostar de mulher... muitos não gostam de mulher. E não digo isso porque acho que sejam gays e querem se relacionar com homens... não! É porque eles gostam de mulher (do sexo, do corpo...), mas não do universo feminino, da forma que as mulheres pensam e  enxergam o mundo. Não querem conhecer o universo feminino: acham chato, futil, idiota, e todas esses conceitos que aparecem embutidos em piadinhas machistas. E as muheres querem ser compreendidas e respeitadas! E, da mesma forma, nós mulheres não fomos criadas para gostar do universo masculino, e dessa coisa tão animal e primitiva, apesar de sermos criadas para sermos mais tolerantes e a ceder mais que os homens, então muitas vezes aceitamos melhor as diferenças. Observei, e lá estavam as mulheres casamenteiras, sentadas, algumas observando seus maridos, entediadas e embaraçadas pela situação, outras ignorando, mas nenhuma interagindo, compartilhando do momento "ogro" da turminha. Dois mundos distintos precisando interagir, mas totalmente sem jeito para isso, como uma criança que aprende a andar e tropeça, ou que aprende a tocar um instrumento e desafina, sai do compasso. "Por que não nos ensinam a conviver uns com os outros?", poderia ter dito eu em voz alta, mas não disse. Guerra dos sexos é um dilema tão antigo quanto a humanidade.... e esse dilema não é só meu!

"Que coisa", pensei eu, diante de uma verdade que ia de encontro às minhas verdades... verdades que eram contraditórias mas, ao mesmo tempo, complementares.... precisava de todos esses elementos para entender um pouco mais da vida... coisa paradoxal isso. Iroinicamente, de um fato talvez cômico - como são algumas tragédias - surgiu um outro olhar sobre a vida,  sobre o amor e a tolerância....

Esse caso é pra você, Peterson, que vive ponderando sobre meus posts excessivamente feministas e que cobrou de mim um texto hoje mais cedo.