domingo, 2 de dezembro de 2012

Refletindo sobre.......





Tem sido dias difíceis. Solitários....

Ficar sozinha, com os próprios pensamentos e sentimentos, pode ser assustador. A gente não sabe a força que tem nossa imaginação, nossos desejos, nossas ideias. Sufocamos eles no dia-a-dia, mudando o foco para as obrigações, para as responsabilidades, lazer, pessoas, redes sociais, smartphones.. Interferências acontecem o tempo todo e dificilmente estamos de fato... sós. Quando nos deparamos com nós mesmos, nus, despidos de papéis sociais ou de máscaras, longe de expectativas ou dos olhares alheios.... é diferente.

Ainda não tinha percebido isso. Vindo pra uma cidade desconhecida, morar sozinha, me mostrou o quanto sempre fui cercada de pessoas, coisas, prazeres, lazeres e até futilidades que, ainda que me tenham me deixado feliz e extasiada em grande parte das vezes, me fizeram esquecer o que é estar comigo mesma; o que é pensar sem interferências, ouvir o silêncio por horas, celebrar o ócio; escutar e sentir o próprio coração pulsar (entender por quem e por que ele pulsa), deixar a imaginação ir aos lugares mais proibidos ou gostosos.

Repito: tem sido dias solitários e difíceis, mas muito prazerosos.... Uma descoberta a cada dia... uma descoberta de mim mesma, dos meus limites, das minhas capacidades e potencialidades.

Assumo a liberdade de viver plenamente. Junto com ela, os riscos. A liberdade é como o amor: fascina e assusta ao mesmo tempo. Me delicio em suas asas, mas ainda há o medo de me perder. Liberdade... viva-a plenamente e perceberá o quanto a independência é uma ilusão: somos dependentes de tudo: de pessoas, de coisas, de emoções. De compartilhar o que pensamos e o que sentimos com as pessoas queridas. De ler um livro, escutar uma músicas, ver fotografias antigas. Cultivar uma saudade, um desejo, uma alegria e até uma tristeza....

Isso me fez lembrar de um filme: Into the wild. Quem assistir vai entender o porquê.

Seres humanos e suas contradições. Quer coisa mais fascinante?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Assim seja


"Que a coragem e a sabedoria acordem e andem juntas de mim para que mais um dia possa ser vivido, para que os obstáculos sejam vencidos, e se preciso for para que esse novo dia me renove por inteiro e que seja pra melhor a cada nascer do sol". Espírito Livre, via FB.


domingo, 11 de novembro de 2012

Tudo passa, tudo sempre passará.



Passei uma tarde de nostalgia nessa sábado, revendo fotos de momentos importantes, que marcaram a minha vida. E as fotos me fizeram recordar um outro tanto de momentos e emoções não registrados.

Não vivo no passado, mas relembrá-lo e revivê-lo de vez em quando é uma forma eficaz de deixar claro pra mim mesma que TUDO PASSA. Alegrias, tristezas, crises, realizações.... tudo é momentâneo e pequeno quando colocado sob a perspectiva do tempo e do universo.

Em fases de crise e de mudanças, como agora, é importante ter isso em mente. Os obstáculos se tornam menores, e as ilusões também. Aí, delicadamente coloco os pés no chão, ainda que a cabeça esteja voando por aí. Percebo a importância de, de quando em vez, mudar a perspectiva da vida, dos problemas, dos momentos. "A vida vem em ondas, como o mar.... num 'indo e vindo' infinito".

Mais do que nunca, tenho sentido a necessidade de me espiritualizar. Agnóstica que sou, não estou falando do culto a um deus ou de conduta religiosa, mas sim de transceder o aqui e agora ou o meu próprio umbigo e me perceber como uma pequena parte de um todo, que é o universo, a natureza, o "divino".... e, então, agradecer por estar aqui, por estar viva e por ter força, saúde, perspicácia e inteligência para conduzir a vida e minhas decisões. Agradecer pelas conquistas, pelo aprendizado, por tudo que passou e que me fez ser quem eu sou hoje, mulher forte e inteira.

Vivo, aqui e agora, sorrindo pro passado e pro futuro... com a certeza de que a vida não é fácil, mas é uma delícia.



segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Conto: Descobrindo-se parte III

 Por: Thais Wadhy



Ao chegar no cinema, Laura escolheu um filme que parecia interessante; nada muito denso, só tinha uma reflexão interessante sobre o relacionamentos interpessoais e a relação entre sexo, amor, amizade e cumplicidade entre as pessoas. Sentia como se algo a tivesse guiado para esse filme, porque precisava mesmo refletir sobre a vida e sobre as pessoas e suas relações. Comprou uma água e entrou para a sala.

O cinema estava vazio, tinha no máximo umas quinze pessoas espalhadas pela sala. Sentou-se na penúltima fileira, de onde podia ver perfeitamente a tela. Escolheu um lugar mais distante e escondido, para ficar bem à vontade. Ninguém ao seu lado ou ao redor. Reparou na decoração clássica do local, com grandes cortinas de veludo vermelho pendendo do teto, iluminação retrô. As cadeiras eram revestidas de madeira e acolchoadas, num tom bordô, confortáveis, com braços no mesmo estilo, esses braços que podem ser levantados caso queira se aproximar da pessoa ao lado ou ocupar dois assentos. Aconchegou-se em uma poltrona para esperar o início do filme, que iniciaria dentro de 15 minutos.

Enquanto assistia as propagandas, reparou os casais presente no local, alguns se mostravam grudentos e pegajosos, outros pareciam alegres e companheiros e outros, simplesmente distantes. Pensou em como agiria com Léo se ele estivesse presente... e não conseguiu visualizar a cena. E preferiu não forçar a barra: havia saído sozinha para se distrair e não para fritar em questões tão abstratas. Percebeu que também havia uma senhora sozinha na mesma fileira que ela, mas no canto superior oposto. E então, nesse momento, viu entrar na sala ainda iluminada uma mulher de trinta e poucos anos, bonita e estilosa. Parecia feliz e segura, isso sim. Estava tão radiante! Seus cabelos, na altura dos ombros e desfiados, davam um ar leve ao seu rosto. O nariz era delicado, levemente arrebitado e os lábios carnudos. Ela subiu os degraus da sala com passos firmes e graciosos. Vestida uma calça jeans surrada e um pouco larga para seu corpo esguio. O casaco roxo e o cachecol colorido compunham o visual. Sentou-se duas fileiras à frente de Laura, três cadeiras à direita.  Laura imaginou se aquela balzacquiana também estaria na mesma condição que ela, em conflitos, ou se era tão independente a ponto de frequentar sozinha os cinemas e outros estabelecimentos, ainda que estivesse tudo bem nas tantas esferas da vida; será que era casada?  Solteira?

Um minuto depois, a mulher se levantou, ficou um pouco de lado e tirou o cachecol e o casaco. Os seios ficavam marcados por baixo da blusa em tom pastel que usava, sem soutien. Será que não sentia frio? Será que tinha vindo caminhando também, e agora sentia calor? Laura não conseguia tirar os olhos daquela figura exótica e atraente. Observou ela se sentar novamente, quase em câmera lenta.  E quando as luzes se apagaram ela levou um susto; olhou para os lados e se recompôs. Mais uma vez pensou: "estou viajando!".

Conto: sutilezas - parte I

Por: Thais Wadhy





O encontro havia sido marcado para o meio-dia. Era um encontro despretensioso e amigável depois de alguns meses de rusgas e atritos. Quando desligou o telefone, pensou em quanto tempo haviam perdido em discussões ou - pior - em silêncio. Percebeu o quanto tinha sido importante, então, a última conversa - clara e aberta, sem armaduras ou ataques. Sorriu por dentro.

Enquanto tomava banho, pensou no que diria ao encontrar alguém que tanto representava em sua vida.  O almoço poderia dar início a nova etapa, a um outro nível de convivência, mas não sabia como tudo poderia fluir. Absorta, lavou os cabelos longos, ensaboou delicadamente o corpo. Como gostava da sensação do sabonete na pele, deslizando pelas curvas, suave e perfumado! Sentia seu próprio toque enquanto imagens eróticas e abstratas vinham à sua cabeça, compondo situações e cenários imaginários. "Estou viajando!", concluiu.

Voltou a si, finalizou o banho e enxugou-se um pouco mais rápido do que fazia normalmente, demonstrando uma ponta de ansiedade que, até então, não havia percebido. Então, deu alguns passos até o espelho e olhou bem para si, admirando os próprios traços e até as imperfeições. Virou-se de perfil, encolheu a barriga, segurou os próprios seios, empinou a bunda. Depois segurou os cabelos, deixando cair alguns fios pelo rosto, e sorriu. Debruçou-se sobre a pia até chegar bem perto de seu próprio reflexo, encarou-se e então olhou pra dentro de si, pela íris, a vasculhar o que estaria causando aquela ponta de desconforto. Respirou fundo e pesado até embaçar o vidro. Recuou, pensativa. Não tinha certeza sobre o que sentia. Logo ela, tão convicta de suas verdades. Talvez estivesse começando a perceber que a razão nem sempre "tem razão".

No quarto, hidratou seu corpo vagarosamente, como sempre fazia, sentindo e acariciando cada parte do corpo: braços, costas, barriga.... pernas e coxas. Pensou no que usaria e escolheu, na cabeça, um vestido fresco, solto e feminino que gostava de usar nas ocasiões que queria se sentir bonita e confortável. Vestiu-se e, em seguida, maquiou-se levemente, ressaltando o olhar frágil e misterioso, que esconde segredos e até as próprias forças. Sentiu-se leve, finalmente. Todo o ritual de cuidar de si mesma fez bem para corpo, alma e coração. Estava certa de que aquele encontro só faria bem aos dois.


***

Contradições



E é quando tudo parece calmo que por dentro sou só tempestade. 
E é quando tudo parece sereno que os furacões desvastam meu coração.
E é quando tudo parece equilibrado que o peso do mundo esmaga minhas costas.
E é quando tudo parece claro as sombras escurecem meus pensamentos.
E é quando tudo parece razoável que perco o bom senso.
E quanto menos demonstro, mais preciso.

domingo, 28 de outubro de 2012

Salada de pensamentos numa tarde de domingo

Ao longo da vida, aprendemos muito mais com as experiências do que com leitura, conhecimento, troca de ideias. Aliás, posso afirmar que, muitas vezes, só entendemos de fato o sentido das palavras quando vivenciamos as experiências relatadas. Sentir é fundamental ao aprendizado... Ou melhor, os cinco sentidos são fundamentais ao aprendizado!

Como falar de amor sem nunca ter amado? Como ler e entender o relato de uma dor ou angústia sem ter sentido isso na pele? Podemos até compreender, mas é só a partir da experiência que podemos de fato dizer "eu sei o que é isso". Aprendemos de fato quando utilizamos todos os sentidos, e não apenas a razão.

No campo da razão, é a mesma coisa: lemos relatos científicos, estudos de caso, artigos, mas é não é à toa que toda metodologia de ensino utiliza de procedimentos de prática, seja em laboratórios, pesquisas de campo ou outras ferramentas de aprendizagem. Até na solução de crimes é preciso fazer a reconstituição das cenas para que se tenha, pelo menos, uma ideia do que foi vivenciado. 

E, na minha tentativa de ser um ser exageradamente racional, de querer solucionar todas as questões da vida no plano da razão e do pensamento, não percebi que estava ficando.... limitada (burra?!). Viver é parte essencial do amadurecimento, da evolução, do aprendizado e do crescimento.

....


Falando em aprendizado....

Ler sobre a solidão nunca me fez entender de fato o que é sentir-se tristemente só. A prática tem me mostrado que até então eu nunca tinha ficado realmente só e agora, com a experiência dos últimos tempos, tenho aprendido sobre o assunto. Essa falta de vivência me fez exaltar demais a ideia de que ficar sozinha é bom, e é mesmo. Mas, como tudo na vida, solitude tem limites. Ainda que o tempo de aproveitar a si mesmo seja fundamental na vida de qualquer pessoa, fazendo as coisas que se gosta - como ler, meditar, refletir, assistir um filme, ouvir música ou curtir o ócio -, a vida só tem sentido quando compartilhada. Idéias, sentimentos, sensações por si só não têm valor se não foram repartidas.

Só comecei a entender isso durante os últimos dias, os quais passei exageradamente sozinha em casa. Li um livro e tive vontade de conversar sobre ele, de repartir o que senti e o que pensei durante a leitura. Assisti um filme e tive a mesma sensação: de que adianta todo esse conteúdo se ele ficar guardado dentro de mim? Aí veio a ansiedade e a necessidade de estar perto de alguém, pra compartilhar tudo que havia absorvido. Indo além: a beleza de uma paisagem, a gostosura de um suco natural gelado: tudo é muito melhor quando podemos dividir com alguém. 

Não é à toa que usamos tanto as redes sociais, como forma de compartilhar ideias, experiências, emoções, seja através de fotos, comentários, textos ou o que for. As redes sociais são ferramentas que usamos para não nos sentirmos sozinhos em nossas ideias, emoções, sensações, ainda que esses recursos sejam usados de forma equivocada - muitas vezes substituindo as relações humanas.

Em última instância, queremos nos relacionar com as pessoas para aprender, sentir e viver, compartilhando ideias, emoções, sentimentos e momentos.......

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A escola hoje e os alunos que não aprendem

Artigo de Roberto Leal Lobo*
Roberto Leal Lobo e Silva Filho é professor titular aposentado do Instituto de Física de São Carlos da USP e presidente do Instituto Lobo. Artigo publicado na Folha de São Paulo de 23/10/12. 



A educação brasileira está em crise. Além da recorrente violência escolar - a imprensa noticia com frequência casos de alunos armados ou com drogas, além de agressões a professores -, pais e filhos parecem achar que a escola não pode contrariar os alunos ou exigir desempenho. As próprias famílias não conseguem impor limites aos filhos - às vezes, nem os pais têm limites -, algo que se espraia à sala de aula.

Esse problema, que está se tornando quase epidêmico no Brasil, não é desconhecido em outros países. Neste momento, vale lembrar um livro francês que nunca foi muito divulgado no Brasil. Para quem está preocupado com a situação das escolas, vale ler "A Escola dos Bárbaros", de Isabelle Stal e Françoise Thom, publicado no Brasil pela Edusp ainda em 1987, apontando um cenário que só se agravaria no Brasil nas décadas seguintes. As autoras são duas professoras francesas que contam a degradação que viam surgir nas escolas daquele país já na década de 1980.

Os problemas que elas enxergaram nunca soaram tão familiares. Elas consideram que a falta de disciplina nas escolas reflete uma sociedade que "adota o prazer como o ideal, em todas as direções - para tal sociedade, o objetivo da civilização é se divertir sem limites". Ou seja, a escola desistiu de conduzir os jovens à vida adulta. Nesse sentido, as autoras acertam em cheio ao apontar a profusão de práticas extracurriculares, fáceis e sem conteúdo, que servem para matar o tempo do jovem, como um dos grandes problemas da escola de hoje em dia.

Os pais brasileiros podem reconhecer com facilidade essa moda dominando também as nossas escolas. Nas palavras das autoras: "É uma enganação afirmar que a inaptidão para expressar-se, que a ignorância crassa em história, em geografia, em literatura e a incapacidade em seguir um raciocínio elementar" sejam um preço que tenhamos de pagar para que todos se sintam à vontade na escola, permitindo a "inclusão" de todos os alunos. Sob o pretexto de instaurar na escola a igualdade, o ensino é nivelado por baixo. Não há como escrever melhor do que elas: "A ambição da igualdade a todo preço desencoraja o esforço de aprender, tipicamente individual". Não se pode abandonar o ensino de conteúdo ou deixar que os alunos escolham o que querem aprender. É possível incluir todos os alunos na escola - isto é, democratizar o ensino, criando uma escola que atenda à massa - sem a atual catástrofe.

Além dessas teses, as autoras criticam, com muita dureza, pedagogos, professores, administradores, sindicatos de professores e a nova geração de pais. Os sindicatos, especialmente, estão mais preocupados em defender a mediocridade e o corporativismo. Eles apontam soluções simplistas para todos os males que afligem o ensino básico, como o aumento dos orçamentos ou ações tecnológicas nas escolas. Isso sem falar nas ideologias que banalizam o ensino, como se o papel principal da escola não fosse tirar o aluno da ignorância.

O livro pode ser ácido e ter adjetivos em excesso. Pode até ser injusto com relação à importância de democratizar o acesso à educação, algo fundamental para diminuir as injustiças da sociedade. Mas ele é preciso ao defender a destruição de alguns paradigmas tão em moda no Brasil, como:

- A qualidade inquestionável e universal do trabalho em grupo;
- A "postura crítica" sobreposta à absorção de conhecimento;
- A frouxidão e a permissividade em vez de disciplina e cobrança;
- A prioridade das atividades "sociais" em vez do estudo persistente;
- A valorização dos pesquisadores de banalidades;
- A ênfase nas metodologias em vez dos conteúdos.

Vale a reflexão: quantas gerações de alunos serão prejudicadas até o estudo persistente e o conteúdo voltarem a ser valorizados?

* A equipe do Jornal da Ciência esclarece que o conteúdo e opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade do autor e não refletem necessariamente a opinião do jornal.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Pode chorar

Deixa rolar o pranto que alivia.
Chorar não mata,
guardar sim: asfixia.
Deixa a lágrima descer, e de garoa virar tempestade.
Chorar faz bem, menina,
de alegria ou de saudade.
Pode pedir meu ombro, carinho, um lenço;
eu ofereço os dois, meu colo e... silêncio.


Deite aqui, menina. Choraremos juntas.
Poucas coisas constroem tanta intimidade quanto compartilhar o choro.
Mesmo conhecendo bem suas curvas e as cicatrizes de sua pele,
mesmo conhecendo partes escondidas do seu corpo,
ainda há mistérios e segredos a descobrir.
Só as lágrimas revelam as marcas mais profundas da alma.

Tempos estranhos...



Me disseram que 2012 seria um ano de mudanças, definições, de aproximações e rompimentos. Bom, não sei. Sei que têm sido tempos estranhos, no bom sentido. Tempo de leveza e alegrias; tempo de movimento.Transformações? Sim, elas aconteceram, como sempre acontecem ao longo de nossas vidas, à medida que os dias passam. Encontros e desencontros também. Mas, em meio a tudo isso, daria maior destaque para as descobertas. Descobertas de mim, do outro, das possibilidades e oportunidades que a vida leva e traz, num movimento líquido e fluido, gostoso.

Tolerância, humildade, compreensão, respeito, perdão e aceitação são "palavras" (virtudes? atitudes?) que ganham cada vez mais importância na minha rotina, não só com o outro, mas comigo mesma. São essas coisas que têm trazido leveza e fluidez para o dia-a-dia, além de sorrisos espontâneos e gestos de carinho despretensiosos.

Por outro lado, outras convicções se consolidam e o que é de "base" ou de "princípio" ganha força, não por inflexibilidade de pensamentos e ações, mas pela compreensão e consciência de que me fazem ser uma pessoa melhor a cada dia. É preciso coragem pra ser fiel a si mesmo.

Talvez o que tenha mudado mais durante este estranho ano de 2012 tenha sido minha perspectiva de mundo. Alguns chamam de amadurecimento, outros de evolução. Pra mim, é simplesmente o fluxo natural da vida: as experiências ensinam e as transformações acontecem dentro da gente e mudam nosso olhar sobre o outro, sobre as coisas.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Divagando sobre os ciúmes.



Ciúmes é uma forma de mostrar que a gente não quer que a pessoa que a gente gosta seja feliz longe da gente. Não aceitamos que ela sorria, que ela se divirta, que tenha outros amores ou outras paixões (a depender do grau do ciúme, claro). Não quer que curta a vida e que esteja bem sozinha, longe de você e de seus cuidados. Não sabemos viver em liberdade, queremos ser "necessários" ou imprescindíveis.

A gente tem ciúme quando a pessoa amada não nos chama no momento difícil e liga pra outro alguém. Queremos ser a pessoa mais importante, sempre; estar em primeiro plano em todas as circunstâncias. Não é à toa que as mães têm tanto ciúme dos filhos, porque sentem-se em segundo plano, perdem a prioridade.

Temos ciúme daquele amigo que saiu com outra turma e nem nos chamou; de não sermos convidados para algum evento e um colega próximo, sim; de não estarmos no porta-retrato; de não recebermos um presente daquela importante viagem; de não sermos eleitos o melhor amigo; de não sermos padrinhos ou madrinhas; do cachorro não fazer festa quando chegamos; do sobrinho criança que só não sorri pra gente.

No fundo, no fundo, temos mesmo é insegurança. É aquele medo de sermos esquecidos ou não sermos mais tão importantes. É um receio de nos tornarmos secundários ou dispensáveis. O ciúme está sempre ligado à nossa subjetividade, e não à atitude do outro.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Numa tarde de setembro

E entre uma tarde quente de setembro e tantas mudanças que aconteceram nos últimos tempos, escrevo. Depois de muitas dias sem inspiração, sem tempo, sem... vontade. Havia coisas demais pra organizar, dentro e fora de mim.

Agora, não há mais caixas pela sala e nem no coração. Foi tudo lentamente ocupando novos espaços, transformando. Sinto então a leveza tomar conta da minha vida. Bate o vento, traz alguma poeira da rua. Poluição da cidade, e só. Aqui, nenhum papel amarelado, nenhuma sentimento coberto de pó do passado, nenhum pensamento escondido nos cantos.

Olho pela janela, a cortina dança ao sopro de brisa. Meu coração dança junto.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Let it go

Verdade seja dita: eu nunca deixei você doer dentro de mim. Seu espaço imaculado foi preservado a todo custo, pois era puro demais para ter contato com mazelas e enfermidades que você mesmo criou em meu coração. Odiei situações, odiei pessoas, culpei o mundo e a mim mesma, mas você permeneceu intocada, intocável.

Às vezes, penso se ainda é preciso cutucar a ferida e deixá-la sangrar, para sentir toda a dor e frustração que nunca me permiti sentir. Seria essa a melhor forma de purificar o que, em dias frios, ainda lateja? Talvez não; talvez eu preciso de um exercício básico de desapego, de deixar ir. A vida segue, e seguiu; então, pra que olhar tanto pra trás?

Let it go, let it be.




"Que os teus olhos sejam dois sóis olhando a luz da vida em cada amanhecer.
Que cada dia seja um novo recomeço, onde tua alma dance na luz.
Que em cada passo teu fiquem marcas luminosas de tua passagem em cada coração.
Que em cada amigo o teu coração faça festa,
que celebre o canto da amizade profunda, que liga as almas afins.
Que em teus momentos de solidão e cansaço, esteja sempre presente em teu coração a lembrança de que tudo passa e se transforma, quando a alma é grande e generosa."

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Love and relationship

"That's what we do, we fight! You tell me when I'm being an arrogant son of a bitch and I tell you when you're being a pain in the ass, which you are 99% of the time. I'm not afraid to hurt your feelings. You have like a 2 second rebound rate and you're back doing the next pain in the ass thing. So it's not gonna be easy. It's gonna be really hard and we're gonna have to work at this everyday. But I wanna do that because I want you, I want all of you, forever, you and me, everyday."

Noah (The Notebook)

Pra refletir!

"...your life is your life don’t let it be clubbed into dank submission.. be on the watch. there are ways out. there is a light somewhere. it may not be much light but it beats the darkness. be on the watch. the gods will offer you chances. know them. take them. you can’t beat death but you can beat death in life, sometimes. and the more often you learn to do it, the more light there will be. your life is your life. know it while you have it... you are marvelous the gods wait to delight in you..."

Charles Bukowski

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Ampulheta



Cada grão da ampulheta da minha vida parece representar uma dose de realidade que o tempo traz.
Uma realidade áspera e pálida como areia, que vai preenchendo sistematicamente meu coração.
O coração, sufocado, seca aos poucos, definha na falta de um pouco da brisa da passionalidade....



terça-feira, 10 de julho de 2012

Tudo novo de novo.

E, saindo de casa, descobri as dificuldades de morar sozinha.

E digo que o mais difícil não é o cuidado com cada cômodo da casa,
ou a preocupação com os horários que o lixeiro passa;
não é a roupa pra lavar ou as louças sujas na pia;
não é o chão sujo ou a poeira dos móveis;
não  é a cama pra arrumar ou o banheiro pra limpar;
não são os gastos cotidianos ou as compras do mês.

A parte difícil é cuidar de si mesmo;
vencer a preguiça e fazer a sua comida preferida;
sair pra correr quando o sofá chama e não há ninguém para cobrar atitude;
deixar tudo limpo e organizado ainda que ninguém veja, só a gente;
curtir o ócio quando não há nada para fazer ou ninguém para fazer companhia;
sofrer sozinha, sorrir sozinha, dormir sozinha.

Um aprendizado a cada dia.

E viva a nova vida!



segunda-feira, 9 de julho de 2012

Vida cotidiana

Dia calmo. Um suspiro, um gole de cerveja, conversa jogada fora com tempero de alho e cebola e algumas arestas. Nada que exigisse um pouco mais de cuidado. Daqueles momentos que, em silêncio e com calma, registra-se no campo dos sentimentos, mesmo que não se saiba os efeitos, as consequências ou mesmo a relevância. Vida cotidiana em sua máxima expressão, tão normal que assusta e tira a fala. Para onde foram as particularidades, as excentricidades? Tantas ideias, tantas vontades? Parece que se perderam em meio a tantas mudanças somadas a uma boa dose de realidade. Será a vida dando um tapa em minha cara?

E depois de uma ou outra risada em meio a cenas de uma vida que não é minha, páro e olho ao meu redor. Observo a sala, a cozinha. Tudo está diferente ou eu que mudei por dentro? Onde está aquela inquietude, onde está aquela ansiedade pelo novo, pelo intenso, pelo profundo? Ao contrário, anseio pela paz e por uma rotina recheada de coisas simples, como um sorriso inocente e palavras sinceras; como amor e café pela manhã.

Sem ter o que dizer e também sem querer dizer nada, vou lavar louças e penso nas coisas mais práticas da minha nova vida: na roupa pra lavar, na cama pra arrumar, nas compras a fazer...  em qualquer coisa que tire o foco da minha confusão emocional, com  a qual me deparei nesse dia calmo, um típico domingo em casa, na nova casa. Depois, uma despedida morna entre amigos que parecem não mais se conhecer, enquanto o coração insiste em pulsar a uns 600km de distância, e que acelera a cada toque do celular.

Agora, sozinha em casa, olho pela janela e vejo a meia lua cheia minguando, exibindo sua beleza. A louça foi lavada, a casa foi arrumada, tudo em seu devido lugar; até eu, que me sinto em casa pela primeira vez em 10 anos. Menos meu coração teimoso, que faz questão de deixar claro que não está satisfeito com a nova rotina e que não aceita paleativos. Ok, já isso eu já entendi: não adianta tapear o coração, negociar carinho e aconchego. Ele sabe o que quer. Já avisou minha cabeça, mas esta ainda não tomou providências, insistindo em colocar outros assuntos como prioridade. Até quando?


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Curtir e compartilhar.



Ouvi isso outro dia: a gente se casa (ou junta, ou namora) pela necessidade que temos de sermos notados, de termos ums testemunha de nossos feitos, alguém que se importe com o que somos e com o que fazemos. É, creio que seja verdade... as pessoas precisam ser percebidas e notadas neste mundo de culto às personalidades. Afinal, não sou ninguém se não sou percebido ou notado.

As redes sociais são indícios desse comportamento. O Instagram está cada vez mais bombado de imagens de um suco ou café no meio da tarde; algo que parecia despretencioso, alguém pode "curtir", aí torna-se interessante. A visão de uma árvore ou uma paisagem no meio da tarde não é mais coisa banal, vira foto artística. O bar e o restaurante parecem cada vez mais legais e mesmo a decoração da casa da avó, antes tão "batida", torna-se vintage, cool ou cult. Olha, e não tiro meu corpo fora: tenho meu perfil no Instagram.

Olhando com olhos mais brandos, menos críticos, diria que isso acontecem porque a felicidade só é legítima e plena se compartilhada. Que graça teria uma bela visão do mar, uma vista privilegiada dos Andes ou mesmo uma casa nas montanhas se não for pra compartilhar com os amigos, com os queridos, com os amados? Com cônjuges, namorados, amantes? Não sejamos tão duros conosco; cada comparilhamento que fazemos nas redes sociais não é sinal de futilidade absoluta ou de "falta do que fazer". Às vezes, pode indicar: isso me encanta tanto que quero que você também veja, vivencie. Ah, ser humano, ser social!

Tenho vivido ótimos momentos em minha nova vida, admirando belas paisagens, compartilhando-as também. Tem gente que curte, tem gente que critica. Mas... faço por mim. Quero multiplicar a felicidade de cada instante, dividindo-a com aqueles que me cercam. E eu adoro as coisas simples da vida; por que não compatilhá-las?

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Sentimentalidades

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional." 

(Carlos Drummond de Andrade)

Excessos

Tem dias que me embriago de mim mesma.
Hormônios, pensamentos, sentimentos, tudo ao mesmo tempo (agora?).
Vou em excedendo, me exaltando. E, por um instante, é uma delícia: diversão, risadas, euforia.

Sim, é bom extravazar de vez em quando.

Mas embriaguez é como droga, e tudo fica cinza no dia seguinte
E fico pensando: onde foi que me perdi?

Me embriago com meus próprios excessos e depois me sinto mal. Fico triste.
Culpa cristã? Ou apenas um chamado da consciência?



quarta-feira, 16 de maio de 2012

Ciclo da leitura: puro êxtase



Fico extasiada quando acabo de ler um bom livro.
Minha cabeça borbulha com mil ideias, as quais preciso compartilhar com alguém.
Compartilhando, me encanto novamente com boas conversas, com a troca de ideias e perspectivas.
Então, diante do novo, quero aprender e entender outros pontos de vista...
E vem a vontade de quero ler de novo!
O ciclo recomeça....

E quanto mais eu leio, mais quero ler.
Não me frustra ter a certeza de que muito pouco (ou nada) sei.
Ao contrário, me motiva... a ler, a conversar....

Gosto das pessoas que me ajudam a alimentar esses ciclos.
Que me estimulam e me ajudam a crescer ser uma pessoa melhor....



terça-feira, 15 de maio de 2012

Mudanças

E a vida vai mostrando
que novos caminhos,
mais do que oportunidades,
trazem pra gente
um novo eu.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Mais um diálogo a dois


- Você tem medo?
- Não. É tudo muito claro e certo pra mim. Estou feliz, vivendo em plenitude. E você, tem?
- Estou apavorada.
- Apavorada? Por que?
- É tudo muito claro e certo pra mim. Estou feliz, vivendo em plenitude.


História de amor: conto de fadas sem final feliz

Conta a lenda que houve um diálogo repleto de declarações de amor entre um casal recém-enamorado. O diálogo, segundo contam, foi mais ou menos assim:

Ele disse: Gosto da sua companhia. Estar perto de você já me basta, mesmo que esteja em silêncio.
Ela disse:  Eu nunca imaginei que fôssemos ficar juntos um dia....  Mas agora, tudo parece fazer sentido, como se a vida nos guiasse até esse ponto, em que estivesse pronta pra viver algo com você, além da amizade.  Viver a plenitude do sentimento, de poder compartilhar coisas de amigo, de companheiro... e também de me entregar pra você, como mulher.
Ele disse: Parece que tudo se encaixou na hora certa. Não acredito muito nisso, nem em destino... mas tem horas que eu penso "tudo convergiu pra que aqui, agora, isso fosse possível". Estou feliz...
Ela disse: Isso, é como se as coisas acontecessem no momento certo, na hora certa, e que estivessem programadas para acontecer. Como se a nossa vida fosse "destinada" a isso; só aguardava o momento adequado...   E o mais estranho é que eu também acreditava que nós mesmos fazemos o nosso destino.
Ele disse: Agora eu me sinto vivendo em plenitude e liberdade. Sinto-me inteiro.
Ela disse: Que delícia, estamos em sintonia de sentimento.

 E tudo parecia tão perfeito...  e então eles viveram infelizes para sempre.

 Moral da história? Cada um tem a sua.

Curta história de um amor de verdade

Contribuição de Erika Caroline.


Ela diz "estou indo embora" querendo dizer "não sei se é a decisão certa".
Ele diz "já vai tarde, sabe disso", querendo abraça-la e confortá-la.
Silêncio....
Ele diz "Leva um casaco, tá frio", querendo oferecer seu calor.
Ela diz "Estou levando…", querendo ficar e tentar mais uma vez.
Ele diz "bom...", sem palavras para o momento.
Ela diz "é… Então, adeus. Ah… tem comida na geladeira...", querendo mais um jantar a dois.

E assim acaba a relação, entre omissões e palavras não ditas.

Feel so close

I feel so close to you right now
It's a force field
I wear my heart upon my sleeve, like a big deal
Your love pours down on, mean surrounds me like a waterfall
And there's no stopping us right now
I feel so close to you right now

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Vou cuidar das minhas...

“O homem, porque não tem senão uma vida, não tem nenhuma possibilidade de verificar a hipótese através de experimentos, de maneira que não saberá nunca se errou ou acertou ao obedecer a um sentimento. Tudo é vivido pela primeira vez e sem preparação. Como se um ator entrasse em cena sem nunca ter ensaiado. Pelo fato da vida ser, relativamente, tão curta e não comportar “reprises” para emendarmos nossos erros, somos forçados a agir, na maior parte das vezes, por impulsos, em especial nos atos que tendem a determinar nosso futuro. Somos como atores convocados a representar uma tragédia (ou comédia), sem ter feito um único ensaio, apenas com uma ligeira e apressada leitura do script. Nunca saberemos, de fato, se a intuição que nos determinou seguir certo sentimento foi correta ou não. Não há tempo para essa verificação. Por isso, precisamos cuidar das nossas emoções com carinho muito especial."

Vou cuidar das minhas.

Luto.

Um padrão afetivo morreu.

Let me fly

Baixar a guarda, admitir o erro, confessar as limitações, perceber que é impossível ser sempre amada e querida. Alguém, em algum momento, não vai gostar da gente. Aliás, não só não vai gostar, como também vai nos odiar, nos culpar, apontar nossos erros e mostrar o quanto somos.... humanos. 

Odeio minha mania de querer abraçar meio mundo, poupar a outra metade, e... me magoar. Me sentir tão podada e limitada quanto periquitos domésticos, cujas asas são cortadas para que não voem para longe de quem tanto os ama..... e os prende. 

Me deixe voar.


Encontrei esse texto nos rascunhos. Apesar de não se ajustar ao contexto, se ajusta à vida. Decidi publicar.

Pensamentos soltos sobre mudanças

Por: Thais Wadhy
Num momento da vida em que almejo mudança, é preciso pensar no tipo de mudança que quero para a minha vida. Mudar por mudar não é suficiente para suprir necessidades, ainda que represente passos importantes no trilhar desse caminho, desse percurso rumo a uma revolução interna. 

Mas que mudança quero? Você poderia perguntar. Não sei. Sinto como se estivesse pairando no ar em busca de respostas para perguntas que nem sei quais são. Nos últimos tempos, o que faço é pensar, pensar e tentar buscar sentido para minha vida, para minhas escolhas. Muitas vezes, em vão. Tudo parece simplesmente não fazer sentido e eu já não sei mais o que fazer, então me deixo levar pela inércia, pela rotina. Coisas cotidianas que preenchem o tempo, mas não a alma. 

"Então, pare de pensar no futuro e viva o presente!", já me disseram. Se, por um lado, é importante pensar no presente e no que quero agora, uma vez que o futuro nada mais é que a consequência do hoje (como diria um querido amigo, em noites de longas conversas, "ele sempre existirá para buscarmos"), por outro, é impossível não projetar expectativas em relação ao que pode ser e pensar possíveis cenários. Como, afinal, me imagino daqui a alguns anos? Sem esse horizonte, fica difícil tomar decisões.

Bom, futuro ou presente, a verdade é que não consigo nem mesmo me enxergar nesse momento. Então, nas últimas duas semanas, aproveitei uma oportunidade para me afastar fiisicamente da minha realidade. E tenho sentido certo aconchego nesse novo lugar que, devido ao distanciamento físico da minha realidade (muitas vezes opressora), deixa meus pensamentos mais livres para divagar sobre coisas da vida. Essas ideias acabam sendo uma espécie de norte, ainda que não sejam um porto seguro. 

Apesar do sopro de brisa, estou precisando me encontrar para voltar a ter leveza na minha vida, para voltar a celebrar a existência e a enxergá-la com olhos brandos de quem é feliz por existir, ainda que vivencie momentos de alegria, tristeza, melancolia, felicidade, prazer, dor. Afinal, bons ou ruins, sentimentos e momentos são privilégios dos vivos. Pior seria não sentir nada, plagiando novamente meu querido amigo Carlos.

"Quanto mais sabemos o que somos e o que queremos, menos as coisas nos incomodam". E é justamente por isso que preciso desse encontro comigo mesma. Afinal, como escreveu Caio Fernando Abreu:  "você me pergunta: que que eu faço? Não faça, eu digo. Não faça nada, fazendo tudo, acordando todo dia, passando café, arrumando a cama, dando uma volta na quadra, ouvindo um som, alimentando a Pobre. Você tá ansioso e isso é muito pouco religioso. Pasme: acho que você é muito pouco religioso. Mesmo. Você deixou de queimar fumo e foi procurar Deus. Que é isso? Tá substituindo a maconha por Jesusinho? Zézim, vou te falar um lugar-comum desprezível, agora, lá vai: você não vai encontrar caminho nenhum fora de você. E você sabe disso. O caminho é in, não off. Você não vai encontrá-lo em Deus nem na maconha, nem mudando para Nova York, nem...."

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O bolo da Thatá

O bolo da thatá é uma receita pra poucos.
Ela não dá pra qualquer um.
Eu a conheci há pouco, mas acho que ela gostou de mim,
com poucos dias a receita era minha.
Não posso dar detalhes, mas talvez algumas dicas.
Tem que ser feito com muito carinho e gentileza, senão desanda.
O modo de preparo é rápido, mas melindroso.
Não execute a receita com muita ansiedade, senão ela não te conta o
pulo do gato.
É assim o bolo da Thatá, um cuidado, mas muito bem explicadinho.

Texto de Nininha: http://hermindismadeup.blogspot.com.br/

terça-feira, 10 de abril de 2012

As escolhas de uma vida

Pedro Bial

A gente é o que a gente escolhe ser, o destino pouco tem a ver com isso. Desde pequenos aprendemos que, ao fazer uma opção, estamos descartando outra, e de opção em opção vamos tecendo essa teia que se convencionou chamar "minha vida".

Não é tarefa fácil. No momento em que se escolhe ser médico, se está abrindo mão de ser piloto de avião. Ao optar pela vida de atriz, será quase impossível conciliar com a arquitetura.

No amor, a mesma coisa: namora-se um, outro, e mais outro, num excitante vaivém de romances. Até que chega um momento em que é preciso decidir entre passar o resto da vida sem compromisso formal com alguém, apenas vivenciando amores e deixando-os ir embora quando se findam, ou casar, e através do casamento fundar uma microempresa, com direito a casa própria, orçamento doméstico e responsabilidades. As duas opções têm seus prós e contras: viver sem laços e viver com laços...

Escolha: beber até cair ou virar vegetariano e budista? Todas as alternativas são válidas, mas há um preço a pagar por elas.Quem dera pudéssemos ser uma pessoa diferente a cada 6 meses, ser casados de segunda a sexta e solteiros nos finais de semana, ter filhos quando se está bem-disposto e não tê-los quando se está cansado.

Por isso é tão importante o autoconhecimento. Por isso é necessário ler muito, ouvir os outros, estagiar em várias tribos, prestar atenção ao que acontece em volta e não cultivar preconceitos. Nossas escolhas não podem ser apenas intuitivas, elas têm que refletir o que a gente é.

Lógico que se devem reavaliar decisões e trocar de caminho: Ninguém é o mesmo para sempre. Mas que essas mudanças de rota venham para acrescentar e não para anular a vivência do caminho anteriormente percorrido.

A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as conseqüências destas ações.

Lembrem-se:suas escolhas têm 50% de chance de darem certo, mas também 50% de chance de darem errado.

A escolha é sua...

Pequeno Príncipe

"As pessoas grandes adoram os números. Quando a gente lhes fala de um novo amigo, elas jamais se informam do essencial. Não perguntam nunca: "Qual é o som da sua voz? Quais os brinquedos que prefere? Será que ele coleciona borboletas?". Mas perguntam: "Qual é a sua idade? Quantos irmãos tem ele? Quanto pesa? Quanto ganha seu pai?". Somente então é que elas julgam conhecê-lo. Se dissemos às pessoas grandes: "Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado..." elas não conseguem, de modo nenhum, fazer uma idéia da casa. É preciso dizer-lhes: "Vi uma casa de seiscentos contos". Então elas exclamam: "Que beleza!"."

segunda-feira, 9 de abril de 2012

E nesse momento de introspecção....

Já haviam me falado que essa vida não é fácil. 
Que escolhas precisam ser feitas em cada parte do caminho, e que ficaria com saudade do que poderia ter sido. 
Que as pessoas têm tempos diferentes, e que não significa que meu tempo é o "certo"; mas que preciso respeitá-lo.
Que dinheiro não traz felicidade, mas que é difícil simplesmente sobreviver sem ele. 
Que o sucesso profissional, na sociedade atual, aprisiona; porque significa que fazer o que é condizente com os parâmetros de uma sociedade injusta e opressora.
Que viveria grande parte da minha vida num conflito entre o que quero fazer e o que precisa ser feito. 
Que auto-conhecimento é o mais difícil de ser adquirido, mais que física quântica ou nanotecnologia.
Que as tristezas, assim com as alegrias, fazem parte da vida e de cada ser humano, assim como o bem e o mal.

Mas conhecimento não evita sofrimento, nem angústia, nem mesmo esse sentimento de entrar para dentro de si, de ficar introvertida, introspectiva, buscando respostas para perguntas que mudam o tempo inteiro. Vou indo, vou seguindo, nada mais que isso. Um dia de cada vez, rumo à plenitude da vida, a tudo que posso ser.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Tem um mundo lá fora....(parte 2)

E podem me perguntar: mas por que?
É tristeza?
É saudade?
É angústia?

E eu respondo: não!
Sou eu querendo viver, querendo sair da gaiola
Gaiola sem grades, de amarras invisíveis me impedem de voar...
Vou em busca dos meus sonhos que deixei pra trás,
em busca de mim mesma, das minhas respostas.

Preciso mais que um belo horizonte para ser feliz!

Tem um mundo lá fora....

E, pensativa, ela perguntou: mas você não vai se assentar em algum lugar?

E respondi: já me assentei a vida inteira. 30 anos com raízes, agora quero voar.

Paradoxo do perfeccionismo

Thais Wadhy

Num esforço constante
vou tentando te agradar,
vou buscando te mostrar
que minha existência tem rumo
e que nesse mundo estou
pra fazer você feliz,
pra ser sua cara-metade, a metade da laranja
pra te amar e pedir bis. 

Mas, assim, não sou mais eu,
sou retalhos, sou pedaços,
sou mais nós e menos laços,
quebra-cabeça montado,
tentando ser paisagem.

Pra quem tem um pouco de tudo,
falta muito do essencial,
falta algo especial,
ainda que seja algo simples,
como fruta no pé, banho de chuva, 
beijo molhado, ou você.

E o pior da história,
não é que vivo frustrada, 
não é que vivo triste, não é que vivo cansada.
O pior de tudo, de viver nessa ilusão,
de buscar ser o que esperas, 
de buscar a perfeição;
É que, não satisfeita,
querendo também ser feliz,
querendo também ser suprida, querendo regar minha raiz,
te coloco no ciclo da minha louca insensatez,
crio expectativas enormes e espero minha vez
de poder exigir que também faça o que quero,
que também sinta o que sinto, que ofereça o que espero....

E assim, nesse paradoxo do perfeccionismo,
vou tocando a vida, sem plenamente viver.
E tentando ser mais, vou sendo menos de mim. 
E tentando ter mais, vou tendo menos você.
E a cada dia, somos menos nós dois.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Bóra ser feliz?

"Se alguém vier com papo perigoso de dizer que é preciso paciência pra viver
Que andando ali quieto
Comportado, limitado
Só coitado, você não vai se perder
Que manso imitando uma boiada, 
você vai boca fechada pro curral sem merecer
Que Deus só manda ajuda a quem se ferra, 
e quando o guarda-chuva emperra certamente vai chover.
Se joga na primeira ousadia, que tá pra nascer o dia do futuro que te adora.
E bota o microfone na lapela, olha pra vida e diz pra ela...
Eu quero ser feliz agora"

segunda-feira, 26 de março de 2012

O que está acontecendo?

"O mundo está ao contrário e ninguém reparou
O que está acontecendo?
Eu estava em paz quando você chegou..."

sexta-feira, 16 de março de 2012

Seja bem vindo, outono


A vida é cíclica, como as estações do ano. Fui primavera em minha relação, quando a paixão floresceu. Depois, fui verão, quando a energia e o amor estavam em plena atividade. Estou passando por um período de outono: folhas e frutos caindo, não há mais a vitalidade de outrora. Agora, enfrentarei o inverno. Talvez não tão rigoroso, porque o dilui ao longo do último período. Mas ainda assim, entendo a importância de fechar-me e viver esta fase para que possa entender o que se passou e curar as feridas; só assim estarei pronta para florescer novamente.

Nada é eterno. Agora entendo o sentido de reiventar-se sempre; as transformações que acontecem dentro da gente, na vida e nas relações é o que as renova, prolongando a vitalidade.

terça-feira, 13 de março de 2012

Os apressados

Texto de D(i)jalma Nunes Grandi

"No fim, os impertinentes somos nós mesmos. Como acontece que a cada satisfação corresponde uma decepção, vamos à procura de outras vaidades, substitutas, que poderão ser numeradas, catalogadas, classificadas, para depois serem abandonadas.

Nossos dias estão sofrendo de aceleração gradativa. Com essa história de foguetes espaciais, parece que a mania de empuxos para a arrancada vai contagiando os homens. Todos querem ganhar tempo perdendo-o depois não se sabe com o que. Ser ligeiro nas pernas, de mãos, de raciocínio. Ser rápido na competição, adiantar-se a todos, vencendo obstáculos. Não faz mal que na precipitação o sujeito deixe um pedaço dos bofes, não importa que seu estômago se pareça com uma fornalha de olaria digerindo tijolos requeimados. O essencial é andar aos trancos e barrancos.

Ninguém pensa em alternar a pressa com a calma. Não há tempo para isso. Viver é agitar-se, sair de si mesmo, estafar-se. Quem não faz isso não é digno de deitar-se numa cama à noite para gozar de uma insoniazinha permanente.

Um belo dia o apressado acorda abatido. Começa a querer mudar. Começa a pensar em gozar devagar aquilo que lhe custou tanta correria. Sentado na cama, de pijamas, com um cigarrinho a engomar-lhe os lábios, com um primeiro cafezinho, o homem pela primeira vez na vida 'deixa-se' cair novamente no travesseiro e manda a vida às favas. Vai começar a desmoralizar a insônia."

2 de abril de 1961, trecho selecionado por Cristiane Grandi.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Fatalmente

‎"...o impulso para amar, para encontrar e conhecer e mergulhar no outro, é o que nos traz para perto da vida. E é por isso que quando se está de braços abertos, se está dando as costas para a morte. Ou deixando, calmamente, tão calmamente quanto possível, que ela venha a seu tempo — porque fatalmente virá."

Poesia das emoções

Aqui dentro ainda é tudo poesia, que vai de Carlos Drummond a Augusto dos Anjos.

Em busca de serenidade e sabedoria


Como é difícil resolver o conflito entre o que deve ser feito e o que se quer.... 
Como é difícil ter paciência para esperar, serenidade para conduzir a vida,
sabendo que é preciso abrir mão do desejável em prol do que é "certo"....
Sabendo que os planos não são infalíveis, 
que o tempo da vida e das pessoas não é o mesmo que o nosso,
 e que o tempo certo é o tempo natural em que tudo flui
sem precisar de empurrões ou pressões....

Que eu tenha serenidade para aceitar as coisas que não posso modificar
coragem para modificar o que posso
e sabedoria para distinguir uma coisa da outra.

Assim seja.

segunda-feira, 5 de março de 2012

A idade e seus enganos

Acreditava que a sensatez viesse com o tempo e com a vivência. Nem sempre. Tem sido fácil perdê-la aos 30, apesar do acúmulo de experiências. Mas uma coisa é certa: com o passar dos anos, fica mais fácil - nesses momentos - recuperar a sanidade, colocar os pés no chão e ajustar os passos e o caminho percorrido. Também fica mais fácil visualizar as escolhas e suas consequências; tomar decisões; controlar a ansiedade. 

Só tem uma coisa que a escola da vida traz que não tenho certeza se é bom ou ruim: as porradas e as tristezas tornam-nos seres mais racionais, ainda que os sentimentos latejem por dentro. Dominamos os impulsos e domamos algumas reações. Será isso sinal de evolução? Ou simplesmente a perda da nossa condição de ser humano? Não estaremos perdendo a espontaneidade por causa das boas e velhas regras de convivência, ou pelo medo? Estamos nos tornando seres programados?

É tempo de questionamentos.....

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Para uma avenca partindo

Caio Fernando Abreu

"Olha, antes do ônibus partir eu tenho uma porção de coisas pra te dizer, dessas coisas assim que não se dizem costumeiramente, sabe, dessas coisas tão difíceis de serem ditas que geralmente ficam caladas, porque nunca se sabe nem como serão ditas nem como serão ouvidas, compreende? Olha, falta muito pouco tempo, e se eu não te disser agora talvez não diga nunca mais, porque tanto eu como você sentiremos uma falta enorme dessas coisas, e se elas não chegarem a ser ditas nem eu nem você nos sentiremos satisfeitos com tudo que existimos, porque elas não foram existidas completamente, entende, porque as vivemos apenas naquela dimensão em que é permitido viver, não, não é isso que eu quero dizer, não existe uma dimensão permitida e uma outra proibida, indevassável, não me entenda mal, mas é que a gente tem tanto medo de penetrar naquilo que não sabe se terá coragem de viver, no mais fundo, eu quero dizer, é isso mesmo, você está acompanhando meu raciocínio? Falava do mais fundo, desse que existe em você, em mim, em todos esses outros com suas malas, suas bolsas, suas maçãs, não, não sei porque todo mundo compra maçãs antes de viajar, nunca tinha pensado nisso, por favor, não me interrompa, realmente não sei, existem coisas que a gente ainda não pensou, que a gente talvez nunca pense, eu, por exemplo, nunca pensei que houvesse alguma coisa a dizer além de tudo o que já foi dito, ou melhor pensei sim, não, pensar propriamente dito não, mas eu sabia, é verdade que eu sabia, que havia uma outra coisa atrás e além das nossas mãos dadas, dos nossos corpos nus, eu dentro de você, e mesmo atrás dos silêncios, aqueles silêncios saciados, quando a gente descobria alguma coisa pequena para observar, um fio de luz coado pela janela, um latido de cão no meio da noite, você sabe que eu não falaria dessas coisas se não tivesse a certeza de que você sentia o mesmo que eu a respeito dos fios de luz, dos latidos de cães, é, eu não falaria, uma vez eu disse que a nossa diferença fundamental é que você era capaz apenas de viver as superfícies, enquanto eu era capaz de ir ao mais fundo, você riu porque eu dizia que não era cantando desvairadamente até ficar rouca que você ia conseguir saber alguma coisa a respeito de si própria, mas sabe, você tinha razão em rir daquele jeito porque eu também não tinha me dado conta de que enquanto ia dizendo aquelas coisas eu também cantava desvairadamente até ficar rouco, o que eu quero dizer é que nós dois cantamos desvairadamente até agora sem nos darmos contas, é por isso que estou tão rouco assim, não, não é dessa coisa de garganta que falo, é de uma outra de dentro, entende? Por favor, não ria dessa maneira nem fique consultando o relógio o tempo todo, não é preciso, deixa eu te dizer antes que o ônibus parta que você cresceu em mim de um jeito completamente insuspeitado, assim como se você fosse apenas uma semente e eu plantasse você esperando ver uma plantinha qualquer, pequena, rala, uma avenca, talvez samambaia, no máximo uma roseira, é, não estou sendo agressivo não, esperava de você apenas coisas assim, avenca, samambaia, roseira, mas nunca, em nenhum momento essa coisa enorme que me obrigou a abrir todas as janelas, e depois as portas, e pouco a pouco derrubar todas as paredes e arrancar o telhado para que você crescesse livremente, você não cresceria se eu a mantivesse presa num pequeno vaso, eu compreendi a tempo que você precisava de muito espaço, claro, claro que eu compro uma revista pra você, eu sei, é bom ler durante a viagem, embora eu prefira ficar olhando pela janela e pensando coisas, estas mesmas coisas que estou tentando dizer a você sem conseguir, por favor, me ajuda, senão vai ser muito tarde, daqui a pouco não vai mais ser possível, e se eu não disser tudo não poderei nem dizer e nem fazer mais nada, é preciso que a gente tente de todas as maneiras, é o que estou fazendo, sim, esta é minha última tentativa, olha, é bom você pegar sua passagem, porque você sempre perde tudo nessa sua bolsa, não sei como é que você consegue, é bom você ficar com ela na mão para evitar qualquer atraso, sim, é bom evitar os atrasos, mas agora escuta: eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor, claro que eu dou um cigarro pra você, não, ainda não, faltam uns cinco minutos, eu sei que não devia fumar tanto, é eu sei que os meus dentes estão ficando escuros, e essa tosse intolerável, você acha mesmo a minha tosse intolerável? Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, o fato de você achar minha tosse intolerável, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, porque se você gostasse, gostaria também da minha tosse, dos meus dentes escuros, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas, espera um pouco, eu vou te dizer de todas as coisas, é por isso que estou falando, fecha a revista, por favor, olha, se você não prestar muita atenção você não vai conseguir entender nada, sei, sei, eu também gosto muito do Peter Fonda, mas isso agora não tem nenhuma importância, é fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem, está bem, eu espero aqui do lado da janela, é melhor mesmo você subir, continuamos conversando enquanto o ônibus não sai, espera, as maçãs ficam comigo, é muito importante, vou dizer tudo numa só frase, você vai ......... ............ ............. ............ .......... ........... ............. ............ ............ ............ ......... ........... ............ ............ sim, eu sei, eu vou escrever, não eu não vou escrever, mas é bom você botar um casaco, está esfriando tanto, depois, na estrada, olha, antes do ônibus partir eu quero te dizer uma porção de coisas, será que vai dar tempo? Escuta, não fecha a janela, está tudo definido aqui dentro, é só uma coisa, espera um pouco mais, depois você arruma as malas e as botas, fica tranqüila, esse velho não vai incomodar você, olha, eu ainda não disse tudo, e a culpa é única e exclusivamente sua, por que você fica sempre me interrompendo e me fazendo suspeitar que você não passa mesmo duma simples avenca? Eu preciso de muito silêncio e de muita concentração para dizer todas as coisas que eu tinha pra te dizer, olha, antes de você ir embora eu quero te dizer quê..."

Fruit tree

Amores e plantas


Sozinha, sentada na poltrona do ônibus, ela pensava na vida, olhando pra fora. Cabeça apoiada na janela, óculos escuros para esconder os olhos tristes. Gostava dessa individualidade, desse silêncio emocional, porque assim poderia refetir sobre si mesma, sem interferências. Fones no ouvido, o suave som de Nick Drake embalava as memórias e os pensamentos; nem reparou que um estranho havia se sentado ao seu lado, procurando uma oportunidade para iniciar uma conversa. Talvez falasse algo sobre o clima ou sobre a beleza da paisagem que podia ser contemplada pela janela. Mas aquele momento não era propício. Apesar de gostar das pessoas, de conversas despretenciosas, de novas perspectivas e novas vozes, naquele momento estava bem consigo mesma, e assim deveria ser. Precisava de espaço, e tinha encontrado o seu em um ônibus velho, numa estrada até então desconhecida, sentada na poltrona, a olhar a vista. Enxergava muito além do que estava diante dos olhos; a sensibilidade estava aflorada e a mente, aberta. O destino? Não importava. O caminho era muito mais importante.

Viu uma árvore sem vida; pensou na relação que acabara de deixar pra trás ao entrar naquele ônibus. Como a árvore, já estava seca, oca. As flores coloridas e perfumadas, os frutos suculentos e as folhas verdes não existiam mais. Já não absorvia nutrientes do solo, já não realizava suas funções vitais. Decretou que aquele ali seria a sepultura de seu falecido amor, junto da velha árvore de troncos podres.

Do lado de fora, as plantas, as flores, a poeira ia ficando pra trás, como a árvore morta. Imaginou as sementes que, fatalmente, cairiam no asfalto. Nunca cresceriam, nunca chegariam a ser árvore, nunca gerariam frutos ou flores. Estavam fadadas ao fracasso. Outras cairiam em solo impróprio, infértil. Poderiam ousar algum crescimento, mas não duraria muito. Era assim que ela enxergava sua nova paixão, a que estava nascendo: o sentimento servira para despertá-la de sua cegueira emocional que a impossibilitava de ver que seu relacionamento já havia acabado (estava morto!), mas não poderia florescer, não podia virar árvore. Estava com os dias contados porque lhe faltava os ingredientes básicos de sobrevivência de um amor, ou talvez não fosse a estação do ano mais adequada. Inverno, talvez. Mas não primavera.

 Já tinha ouvido muitas vezes que era a pessoa certa na hora errada; já havia dito isso algumas vezes. Mas, naquele momento, sentada na poltrona, suspirando, com os olhos tristes e a boca seca, tentou acreditar que realmente há um propósito para tudo, que nada acontece por acaso, que não existe hora errada, que existe uma vontade divina, que há coisas demais entre o céu e a terra, que um dia entenderia tudo aquilo, e todas as coisas do mundo que amenizam a dor de uma vontade reprimida, de um desejo não realizado, de uma paixão não vivida. "Talvez não era para ser", disse baixinho enquando, em seu íntimo, lembrava-se de um conto de Caio. Desejou ser, pelo menos, uma avenca ou uma samambaia. Quem sabe uma roseira....

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Volver a los 17


"El amor es torbellino de pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros,
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero"

(Violeta Parra)

Tchau, Frutillar


Frutillar é uma cidade localizada no sul do Chile, próxima a Puerto Montt. A cidadezinha, muito charmosa, apresenta traços de sua colonização alemã: casas, bares e comidas. 

Depois de dias de chuva, o sol, tímido, resolveu dar o ar da graça. Dia fresco e agradável numa cidade de uma atmosfera deliciosa. Visitar lugares assim faz bem pra vista e pra alma....

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Chile: me gusta





Conhecer lugares novos é sempre uma alegria. Cultura e pessoas diferentes, aventuras gastronômicas e novas ideias. A cada lugar que visito, entro em uma viagem interna, conhecendo novos cantos da minha percepção, das minhas vontades e de meus pensamentos. A cabeça que se abre para uma nova ideia nunca retorna ao tamanho original, concordo; aquela que se abre para mundos distintos então.....


Santiago - Chile
Com o Chile, repete-se esse fenômeno. Experiência maravilhosa de visitar um outro país, com cultura, clima e alimentação diferentes do Brasil que eu conheço (direi assim porque reconheço a diversidade do meu país, e ainda há muito o que conhecer antes de dizer que o Chile é diferente de todo o Brasil). Posso dizer que percebi, até agora, dois Chiles diferentes: o central (Santiago e Cajón del Maipo) e o do sul (Puerto Montt). 






Santiago é uma típica capital e, como toda metrópole, é nítida a diferença entre regiões. Há quem diga que Santiago é uma cidade "de primeiro mundo", rica, bonita e organizada. Dizer isso é conhecer os bairros ricos, bem planejados, com prédios modernos, praças arborizadas, pessoas de maior poder aquisitivo. Mas há muitas outros bons lugares para se ver! Como as viñas, que são alvo de todo turista que se preze, belíssimas e muito charmosas, próximas às cordilleiras. Concha y Toro é lindíssima, muito bem estruturada; turística. E há as viñas menores, como a charmosa Aquitania. E como são bonitas as cordilleiras cercando as viñas e a cidade! 

Aquitania
O Centro, ainda que tumultuado, é interessantíssimo. Pessoas caminhando rapidamente de um lado pro outro, turistas, trabalhadores, tudo junto e misturado. Tomar "café con piernas", comprar lembranças baratas que farão muita gente feliz na volta pra casa, ver gente de todo tipo e lojas esquisitas. As construções são mais antigas, o que dá um ar meio vintage ao lugar. Ah, o centro.... "me encanta". 

Bairros charmosos e mais anternativos também fazem parte da paisagem urbana dessa cidade, com seus cafés e pubs mais sofisticados, como o Bella Vista e Providencia.

O clima quente e seco de Santiago, às vezes, sufoca. No verão, fica difícil andar pela cidade depois de meio-dia: o sol queima e todo lugar fica muito quente. Mas, depois das 17hs, o vento bate, quase como uma carícia depois do castigo.

Gostei de tudo isso na capital chilena. E gostei também das conversas que tive, as pessoas que conheci, da receptividade de meus anfitriões, dos vinhos que tomei, das cervejas artesanais, dos silêncios.


O sul é bem diferente disso tudo, exceto pela última parte. Bons vinhos, muitos frutos do mar, peixes, pessoas fantásticas e ótimas conversas com castellano improvisado fizeram parte de meus dias aqui em Puerto Montt, uma cidade pequena, com vista pra uma baía do Pacífico. Clima frio e úmido, casinhas de madeira, quase todas no mesmo estilo, bairros inteiros com casas iguais. A atmosfera daqui é tão agradável que nem mesmo a chuva constante foi motivo de pesar. Improvisamos confraternizações em casa, regadas a bons vinhos e muito assunto. Sem falar nos vulcões, nos grandes lagos, na rica beleza natural.

Ficarei mais alguns dias em Puerto Montt, depois retorno a Santiago. Que delícia! Certas viagens são como música: confortam o coração.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Força


"Não chores, meu filho;
Não chores, que a vida
É luta renhida:
Viver é lutar.
A vida é combate,
Que os fracos abate,
Que os fortes, os bravos
Só pode exaltar!"

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A confiança



Eu não costumo duvidar das pessoas. Na verdade, digamos que sou um tanto "inocente", acredito demais nas pessoas. Tenho fé no ser humano, ainda que quebre a cara de vez em quando e que, uma vez o outra, o capetinha fale coisas ao pé do meu ouvido. Aliás, escrevendo isso me fez lembrar de um filme que eu adoro e que agora, pensando com meus botões, tem uma cena com a qual me identifico: "Um beijo roubado". É só um parênteses, não quero me alongar nos comentários sobre o filme, mas essa cena reflete um pouco o que penso. Natalie Portman diz a Norah Jones (Lizzie) que ela não deveria acreditar tanto nas pessoas. Lizzie reflete um pouco sobre isso e confessa, em uma carta da Jude Law, que tentou não acreditar nas pessoas e fracassou; depois ficou grata por isso.

Bom, voltando ao assunto do post... aconteceram algumas coisas na minha vida durante essa semana que me fizeram refletir muito sobre confiança. Como a confiança é tão difícil ser construída, é tào forte para sustentar relações e, ao mesmo tempo, tão frágil, que se quebra com um sopro.

O fato é: tem uma pessoa que trabalha na minha casa há mais de 13 anos. É uma pessoa ótima e séria, trabalhadora, mas tem um defeito: de vez em quando ela "toma posse de objetos que não são dela", vamos dizer assim pra não ficar tão pesado. São sempre coisas pequenas, sem valor, que estão meio esquecidas e, por isso, demoramos para dar falta. Aí, quando percebemos, é tarde demais. De vez em quando acontecem umas discussõeszinhas aqui em casa sobre o assunto, principalmente quando some algo que tem um valor especial pro dono. Foi o caso de uns baralhos de Portugal que ganhei de uma amiga muito querida: eles sumiram e eu quase surtei.... depois eles apareceram no lugar de novo, como que por milagre (lugar, diga-se de passagem, que eu já havia checado). É, de vez em quando ela "devolve" as coisas, acho que ela guarda e fica atenta pra ver se sentimos falta e, se não, ela se apossa de vez do objeto em questão. Outra coisa que ela devolveu foi uma nota de R$ 50,00; essa sim eu dei falta na hora e ela ficou bem sem graça quando me devolveu, desviando o olhar e inventando uma desculpa: "caiu no chão quando fui arrumar seu quarto e eu guardei". É, "guardou" em seu próprio bolso uma nota de R$ 50,00 que caiu da minha calça. estranho, não? Bom, resumindo: as coisas somem aqui em casa e nos "acostumamos" com isso, acreditando que as qualidades da nossa funcionária pesam mais na balança do que esse defeito; quando alguma coisa especial some, damos o grito e, e alguns casos, a coisa reaparece. Em outros, não.

Acontece que essa semana "sumiram" as alianças da minha mãe (ela usa uma aliança bem sofisticada, de brilhantes, com uns aparadores. Uma coisa meio madamesca). É que quando minha mãe mexe com produtos químicos, os anéis dão alergia e então ela tira pra dormir (ou quando vai ficar em casa)... e, no dia anterior, ela havia feito escova prograssiva em seus cabelos e os dedos estavam feridos no lugar da aliança. Então, ela foi ao dentista, sentiu o dedo coçar, mexeu nas alianças, voltou pra casa, fez mil coisas, dormiu, acordou e, quando percebeu, as alianças não estavam onde supostamente deveriam estar, em seu criado mudo (se não fosse mudo, poderia contar o que aconteceu... hehehe).  Ligou pra figura em questão e perguntou se ela tinha guardado; ela disse que não. 

Eu e minha mãe começamos uma saga pra achar as alianças. Reviramos o apartamento todo, tudinho, todos os cômodos e cantos: quarto dela, quarto dos meus irmãos, sala, debaixo dos móveis, nas camas, nas frestas, na geladeira! E nada. Só em um lugar não procuramos: dentro do armário onde guardamos as roupas de cama.

No dia seguinte, foi um escarcéu. Minha mãe pediu pra Fulana (não quero citar nomes, então vou chamá-la assim) encontrar as tais alianças e ela ficou ofendida. Começou um bate-boca dos infernos e uma troca de alfinetadas entre as duas que - como imaginei - não acabaria bem. Tom de voz elevado, choro... De certo modo, entendo o lado da Fulana, porque eu ficaria ofendida também se alguém insinuasse que eu estaria roubando. Mas também entendo o lado da minha mãe que, acostumada com algumas infrações da dita-cuja, achou que esse seria mais uma de seus delitos.

Depois do quebra-pau, eu e minha mãe demos mais uma vasculhada na casa toda pra ter certeza de que as alianças não tinham sido colocadas pela própria dona em lugares estranhos, por descuido. Não encontramos nada, mas não abrimos o tal armário.... E eu, defendendo o lado fraco da história, disse pra minha mãe: ela nunca iria roubar jóias de uso cotidiano....  são alianças! Você está o tempo todo com essas alianças, seria muito arriscado, muita burrice (Fulana é espertíssima). 

Bom, mais uma noite se passou e, no dia seguinte, minha mãe tomou a decisão de demitir a figura. Mas antes, precisava dar férias a ela (ela tinha 15 dias de férias vencidas). Então, a comunicou sobre as férias somente (e não sobre a demissão) e, desolada, ficou sem as alianças. Nesse dia, a passadeira veio também aqui em casa para passar a roupa limpa, inclusive a roupa de cama, que seria colocada no tal armário que não fora vasculhado. 

Quando Fulana foi pra casa dela e minha mãe resolveu guardar a roupa passada, adivinha? As alianças estavam no armário de roupa de cama. Pergunto a vocês: o que aconteceu? Não sabemos, e escrevi tudo isso pra chegar exatamente aqui, nesse ponto.

Hipóteses:
  1. A Fulana pegou as alianças mas achou que não desconfiaríamos dela (seguindo a minha linha de raciocínio de que ela nunca pegaria algo que usamos no dia-a-dia); mas, depois do chilique da patroa, arrependeu e colocou num lugar que minha mãe provavelmente não havia procurado. Deixou no armário logo no dia de guardar as roupas de cama limpas. 
  2. A Fulana queria provocar minha mãe, então desapareceu com a aliança por algum tempo pra depois as colocar num lugar estranho e ouvir minha mãe dizer, pela milionésima vez "estou doida, minha cabeça está ruim demais" (sim, elas têm certa rixa). Mas, me questiono: como ela poderia saber que o único lugar onde não procuramos havia sido esse armário??? Impossível....
  3. Minha mãe, que afirmou estar com alergia nos dias que as alianças sumiram, pode ter mexido no armário com as alianças na mão (ela as tira quando está com alergia) e deixado lá sem perceber, por descuido ou esquecimento.
Pergunto de novo: quem está certo? Não seria injustiça demitir a Fulana por algo que ela pode não ter feito?
Pra quem já assistiu "12 homens e uma sentença", vai entender o plágio: existe aqui uma dúvida razoável. Não podemos afirmar nada! Não é possível descobrir se ela pegou de fato as alianças ou se minha mãe está com a cabeças nas nuvens. Mas agora... pensem comigo: minha mãe não desconfiaria se a outra não tivesse nos dado tantos motivos no decorrer dos anos!

Então, dei um conselho pra minha mãe: demita-a. Não porque ela roubou os anéis (até acho que, dessa vez, a minha mãe é que estava errada e simplesmente deixou as alianças no armário), mas porque é uma relação onde não há mais confiança mútua. Ambas desconfiam uma da outra e sempre acham que as ações são de má-fé. A confiança foi quebrada, seriamente danificada.... como conviver assim?

É como nos relacionamentos amorosos: é preciso haver confiança para se viver em paz e construir uma relação saudável. Caso contrário, o relação corrói pelo ciúmes e pela paranóia. Quando há confiança, as duas partes podem ter liberdade para viver que não há cismas; o dia-a-dia é leve e alegre. Mas, se uma das partes quebra essa confiança, acabou. Dificilmente consegue-se viver bem novamente, porque ao menor sinal de uma traição, haverá brigas. E mesmo quando um disser "vou trabalhar até tarde" (e realmente for verdade) o outro desconfiará. Repito: como viver assim?

A confiança é como a base de um edifício: ela sustenta a estrutura e, uma vez rachada, o conserto é improvavél, ou demora um longo tempo, muito trabalho e dedicação. E afirmo: cuidado com as atitudes, seremos sempre julgados por elas. Se nossas atitudes inspiram confiança, confiança teremos. Se não....