quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Ninguém é de ninguém

Retirei esse texto incrível do blog "Antônia no Divã". Me senti tão contemplada que resolvi compartilhar aqui. Quem quiser ler a postagem original, o link é esse aqui:  http://antonianodiva.com.br/efemerides/ninguem-e-de-ninguem/

“Eu não tenho mais nenhum sonho em cima de você”


Essa frase foi proferida pelo meu pai, quando discordávamos de alguns planos de futuro. Eu, a pseudo-herdeira, sabia que ele só estava brabo comigo e tentando com aquilo nos manter juntos através da amarra da decepção dele. Óbvio que ouvir isso de alguém, alguém que você ama muito, é tão sutil quanto um tiro no peito. Ainda que sentisse a dor, eu só sobrevivi porque estava fardada de um colete a prova de balas chamado individualidade. E aqui não confunda individualidade com egoísmo, egocentrismo e outros “ismos” negativos. Mas puramente a capacidade de se enxergar como um indivíduo. De exercer sua autonomia. Afinal, ninguém pertence a ninguém. Ou não deveria.

Calma, eu não nasci de um ovo. Eu tenho família que me ama muito, que me apoiou e irá me apoiar em todas as fases da vida. Ainda que discordando muitas vezes, e sofrendo tantas outras – os melhores pais criam os filhos pro mundo. Não dá pra voar alto sem sair debaixo da asa deles. O que também não quer dizer que o processo é tarefa fácil. Família tem que lidar intensamente com a tal da projeção, seja nos sonhos de seus pais em você se tornar uma bailarina ou um astronauta. Seja porque você nunca vai querer decepcionar as pessoas que te botaram no mundo. O que acontece dentro de casa (e depois na vida), é que aprendemos a projetar grandes expectativas em cima pessoas, e quando frustrados apontamos que as pessoas é que eram pequenas. Não eram. Eram apenas pessoas. Com dramas e peculiaridades singulares e imprevisíveis. Então vem a maturidade, e temos que aprender aos trancos e barrancos a ter sonhos pessoais em cima de expectativas próprias. E agora como é que faz?

Eu tive que deitar muito tempo em um divã pra entender que o que é do outro, é do outro. E queria jogar minha terapeuta pela janela cada vez que ela me dizia isso. Com o tempo, consegui enxergar que minhas expectativas em cima de outras pessoas eram projeções únicas e exclusivamente minhas, e que ninguém era culpado em não atendê-las. Fato é que não sabemos nos bastar. Aliás, não queremos nos bastar. Entendemos que uma vez nos bastando, seremos reclusos em nossa individualidade, quando o que acontece é justamente o contrário.

Quando a gente se basta, a gente não PRECISA de mais ninguém, e passa a ESCOLHER estar com alguém. Seja família, amigos ou um amor. A companhia desta gente toda é muito mais gostosa quando eles não carregam a responsabilidade de ser um pedaço nosso, do qual a ausência não nos permite sermos inteiros, completos. Desta forma, faz muito mais sentido entender e trabalhar para que nossos entes queridos tornem-se uma extensão de nós, ou seja, uma parte extra que nos faz ainda melhores. É batata frita do nosso Mc, não o hambúrguer.

A verdade mais perturbadora que já escrevi em todo o conteúdo do blog foi dizer em voz alta que ninguém precisa de ninguém pra seguir vivendo, e que isso é chocante e libertador (evite aqui jogar suas pedras dizendo que estou alegando que uma pessoa largue os filhos pequenos para se mudar para Bora Bora, não é isso!). Estou falando de pessoas adultas presas as correntes da expectativa alheia. E eu entendo que pra muita gente seguir as próprias vontades seja feio, dolorido ou até desonroso. A pergunta é: não segui-las, faz bem pra quem? Você casaria porque é o que esperam de você, “até que a morte os separe”? Assumiria um legado inteiro de alguém, porque lhe foi apontado? Conseguiria aproveitar o caminho, quando lhe foi imposto o destino?

Não nos permitimos ir embora das outras pessoas ou deixá-las ir embora porque aceitamos as amarras impostas, ou criamos as nossas próprias. Não arriscamos ousar sozinhos, porque se falharmos, falharemos sozinhos e não haverá ninguém em quem colocar a culpa. Lembrando sempre que “culpa” é mais da metade da “desCULPA“. Jogamos no outro a responsabilidade de nossas próprias decisões, apenas para cultivar o que? O ressentimento? Agora imagina ser para o resto de sua vida responsável pela alegria, tristeza, amor, compreensão, felicidade de outro alguém? Onde arrumaríamos tempo e energia para a nossa própria felicidade e aceitação? O que é do outro é do outro. Ninguém é de ninguém. Nós podemos colaborar com a felicidade alheia, jamais ser os donos dela. Nós podemos compartilhar da nossa felicidade, jamais entregá-la nas mãos de outra pessoa.

O que precisamos entender é que somente através do conhecimento e amor próprio, que conseguiremos genuinamente entregar o melhor de nós ao outro, sem torná-lo prisioneiro. “Cultive o jardim”, lembre-se daquela velha frase. “As borboletas virão sozinhas”. Entendemos que não dá é pra ser uma junção de pedaços dos outros, ao invés de ser um inteiro de si próprio. Quando meu pai alegou que não tinha mais nenhum sonho em cima de mim, expliquei que ele nunca deveria ter tido. E que ele me amando muito – do jeito que sei que ele me ama – vai entender que não posso ser a menina dos sonhos dele, porque estou lutando bravamente pra ser a mulher dos meus.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

É tempo...



É tempo de tirar as óculos pra deixar brilhar o olhar. De remover as armaduras e sentir os dias na pele, ásperos ou delicados, duros ou agradáveis, brutos ou sensíveis. De despir-se das roupas e dos rótulos que com elas vêm. De jogar fora o velho chapéu que cobre a cabeça, e também as velhas idéias. De rever conceitos e sentimentos. De tirar o pó dos livros e das risadas e devolvê-los pra rotina. De doar os objetos e os afetos guardados. De lavar as mãos e a alma, purificar os pensamentos e limpar a sujeira dos cantos da mente. De tirar as pedrinhas dos sapatos e os espinhos do coração. De renovar o passaporte das vontades. De cultivar hortas e amizades. De cuidar melhor do corpo e da casa, suas moradas. De retirar as grades das janelas do mundo e se livrar das prisões invisíveis. De curtir o calor agradável do sol e dos desejos. De se abrir para as luzes do dia e dos sorrisos. De se permitir desfrutar o aconchego da cama e dos abraços. De viver uma vida da qual não precise de descanso ou de pausa.

É tempo de ser você de novo. É tempo, menina.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O amor é pra quem tem coragem.



Que "viver é pra quem tem coragem" eu já sabia. Mas me dei conta de que amor também. Em tempos de relações descartáveis e de individualismo exacerbado, amar é praticamente um ato revolucionário. Afinal, dá trabalho doar para o outro nosso tempo, energia, sentimentos; ou exercer a tolerância e a paciência; ou ainda abrir as portas de casa e do coração. 

Depois de tanto silêncio e reclusão, almejo que venham tempos de muito amor na minha vida. Porque coragem eu tenho!

Quero alguém que chegue como sopro de brisa, de mansinho, e encontre aconchego nos meus braços e coração. Que venha para somar planos, afetos, cuidados, gentilezas, desejos. 

Quero caminhar de mãos dadas nas trilhas da vida, desbravando o mundo e o que há de mais íntimo dentro de mim. Explorar o universo ao meu redor e o infinito particular. 

Quero olhos tranquilos de quem contempla paisagens e fogosos de quem deseja com intensidade; corpos que se entregam e se incendeiam, ombros que acolhem, mãos que apoiam, palavras que acalmam.

Quero abraços sinceros, beijos apaixonados, silêncios esclarecedores.

Quero o toque que, como música, faz dançar meu corpo. Quero o sussurro que arrepia, voz que tranquiliza, o cheiro que embriaga, o gosto que vicia.

Que alguém por inteiro para, juntos, transbordarmos.

domingo, 2 de agosto de 2015

Mergulho profundo na Chapada dos Veadeiros




Às vezes, é preciso voltar para si mesmo. Viver os momentos de introspecção e arrumar a nossa própria casa, morada dos pensamentos e sentimentos. Jogar fora o que já não serve mais, renovar, reciclar. 

Quando chega a hora, é preciso respeitar as demandas da própria subjetividade e mergulhar em si mesmo. Nadar por águas inexploradas,  nos lençóis freáticos do nosso ser, onde a luz não chega. E isso requer coragem, porque vemos coisas que não gostaríamos, encaramos defeitos, erros, desvios de conduta. Ficamos frente a frente com o que há de melhor e pior dentro de nós mesmos para reconhecer que somos... humanos.

Alguns lugares favorecem esses momentos; se nos abrirmos para as possibilidades, eles têm a capacidade de permitir que o mergulho seja mais profundo. Criam uma ambiência equilibrada de pouco ruído, menos interferências externas. 

Foi assim na Chapada dos Veadeiros: em meia à natureza exuberante, rochas e cachoeiras, mergulhei em mim mesma para analisar um turbilhão de emoções boas e ruins que remexiam por dentro, fruto dos acontecimentos dos últimos tempos. Precisava entender sentimentos e pensamentos que guiavam minhas ações e reações. 

Pela primeira vez em meses, olhei de frente a tristeza que tomava conta de mim. Deixei que ela aflorasse, ao invés de somente entendê-la ou justificá-la como fruto de circunstâncias objetivas. Assim, pude compreender os efeitos dela em minha vida, em seus diversos aspectos, sem que a razão gritasse seus argumentos.

A verdade é que ser capaz de processar a realidade não reduz o sofrimento, a tristeza. E entendi que preciso dar voz aos meus sentimentos, ao invés de tentar controlá-los ou oprimi-los. É mais fácil lidar com o que está explícito; então, deixar aflorar as emoções de forma sincera é a melhor forma de lidar com elas.  

Aproveitei os dias na Chapada para refletir, chorar e sentir com as entranhas, até ficar esgotada. Então, entrar nas águas de uma cachoeira fria e lavar a alma, renovar-me. Pude me libertar das minhas próprias prisões emocionais.



A forma positiva de encarar a vida

Essas reflexões sinceras também trouxeram para minha mente e coração uma dose de realidade e pude entender melhor como as coisas são de fato, sem as ilusões, que causam tanta frustração e desgaste emocional. Trouxeram leveza e serenidade para encarar o real de forma tranquila, reconhecendo e respeitando minhas limitações e também das pessoas ao meu redor. Assim, despida das expectativas e das idealizações, reconhecendo que bom e mal são lados da mesma moeda, vejo tudo com olhos brandos e amáveis. Ninguém é perfeito,  eu também não sou e nem preciso querer ser.

E, apesar dos pesares, vejo que tenho uma forma positiva de encarar a vida suas experiências, boas ou ruins. No final das contas, tudo é aprendizado, evolução. Cada vivência ajuda a nos construir e a nos polir, para sermos pessoas melhores a cada dia, basta estarmos abertos a isso. E eu estou.




A Chapada dos Veadeiros teve o poder de me tocar profundamente, deixar boas impressões na alma e renovar o sorriso no rosto!

A Chapada dos Veadeiros

Vista do Miranda da Nova Aurora, em Cavalcante.

Na última semana, estive na Chapada dos Veadeiros. Foi uma viagem inesperada e, talvez por isso, trouxe muitas surpresas boas e, claro, aprendizados. 

Fui com pessoas com as quais não tenho muita intimidade; mas éramos um grupo e as coisas tinham que funcionar dessa forma, então sabia que teria que levar os dias com mais tranquilidade, exercendo bastante o senso de coletividade. Deixei de lado o egoísmo e até um pouco do individualismo, e isso foi muito positivo pra mim, pessoalmente; pude exercer a tolerância e a flexibilidade, com leveza e alegria. 

Alugamos um carro, porque viajar pela região sem transporte é muito difícil; tudo fica muito longe, até pela dimensão do lugar.  E para depender de caronas e ônibus, é necessário ir com mais tempo - e nós não tínhamos muito. Seriam apenas 4 dias pra conhecer vários atrativos.




A Chapada é um lugar gigantesco e de belezas únicas. São tantos lugares incríveis que teria que passar pelo menos um mês para conhecer um pouco a região e suas cachoeiras, cânions, trilhas e paisagens. Começamos pela cidade de Cavalcante, que fica a uns 90km de Alto Paraíso - cidade mais conhecida e estruturada de lá.

Cavalcante é uma cidadezinha bem pequena e aconchegante, que não tem muita estrutura. Ficamos numa pousada sensacional chamada Aruana. Os quartos são aconchegantes e limpos, a paisagem é linda e foi o melhor café da manhã da Chapada dos Veadeiros, sem dúvida. Aliás, um dos melhores que já experimentei por essas andanças Brasil afora. Indico.

Nosso quarto na Pousada Aruana e as rochas ao redor. Lindo demais!

No primeiro dia, fomos ao Quilombo Kalunga para conhecer a cachoeira mais famosa da região, a Santa Bárbara. É uma cachoeira maravilhosa, mas que fica bastante cheia, principalmente em alta temporada. São 20 reais para entrar, mais o guia. Sim: a contratação do guia do próprio quilombo ou da cidade é obrigatória. São 70 reais, mas é possível juntar várias pessoas (máximo de 10) e dividir o custo. 

A trilha é bem curta e tranquila. Quando a gente chega, dá de cara com esse espetáculo:

Cachoeira Santa Bárbara, em Cavalcante - GO (Chapada dos Veadeiros)

Ainda visitamos a cachoeira do Tamanduá e a Bom Jesus, no mesmo dia. Aproveitei para brincar de boulder nessa rocha! 

Rocha na cachoeira Bom Jesus, em Cavalcante - GO (Chapada dos Veadeiros)

No segundo dia, fizemos uma caminhada um pouco mais longa e conhecemos uma das cachoeiras mais bonitas que eu já vi. Como é preciso andar um pouco mais, o lugar fica bem vazio. Inclusive, éramos os únicos por lá. Também é preciso contratar um guia pra ir, no mesmo valor, mais a entrada de R$ 10,00. Vale cada centavo.

Cachoeira Candaru em Cavalcante - GO (Chapada dos Veadeiros).


São duas quedas e dois poços gigantes para nadar, com água verde e cristalina. O poço da queda mais alta é maior e mais fundo, melhor para mergulhar. A queda de baixo também tem um poço grande e muitas rochas ao redor para sentar, descansar e admirar as belezas do lugar.

Poço da segunda queda da Cachoeira Candaru.

Poço da primeira queda da Cachoeira Candaru.

Poço da segunda queda visto de cima, do poço da primeira queda.

Poço da primeira queda e uma beirada das duas quedas da Cachoeira Candaru.

A segunda queda vista de cima, do poço da primeira queda.

Nessa noite, depois dos passeios, seguimos para Alto Paraíso. Dormimos por lá na Pousada Caminho de Santiago (inclusive não indico, não gostamos muito) e, na manhã seguinte, fomos para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em São Jorge). Fica a 30km de Alto Paraíso e a estrada é um tapete. Tem até ciclovia para quem animar fazer o percurso de bike. 

O PNCV não cobra entrada e as trilhas são bem marcadas e sinalizadas. Não é necessário contratar guia, a não ser que queira. Para quem não tem o costume de fazer trilhas e caminhadas, vale a pena contratar, porque as trilhas são um tanto longas.

No Parque, me dividi do grupo. Era a oportunidade de, pelo menos um dia, fazer curtir o local no esquema que gosto: caminhando muito, correndo pelas trilhas, contemplando as belezas no meu tempo. Então, primeiro fiz correndo trilha dos Saltos, 5km para ir. Parei no mirante da cachoeira de 120m, para admirar essa vista:

Vista do Miranda - trilha dos Saltos - PNCV.

Salto de 120m - Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Depois cheguei ao salto de 80m e aproveitei para nadar e me refrescar no poço gigante que tem lá. Mas o lugar estava muito cheio, então não quis ficar por muito tempo. Aguardei o pessoal chegar, descansei um pouco para decidir o que fazer.

Salto de 80m - Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

O pessoal decidiu curtir mais um tempo o Salto de 80m. Eu não; era meu dia de ficar mais só e fazer as coisas que gosto, curtir o lugar do meu jeito. De lá, voltei 4km até a bifurcação onde começava a trilha de mais 4km até os cânions e Cachoeira Cariocas. Aproveitei para correr durante quase todo o percurso, coisa que adoro fazer. 

Cachoeira Cariocas - Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Olha eu aí num momento turista!

Me refresquei primeiro na cachoeira, descansei, meditei e depois fui até os cânions (mais ou menos 1km da cachoeira). Como amo rochas e água, não podia perder essa paisagem:

Cânions - PNCV

Cânions - PNCV

Depois de me encantar com tanta beleza e mergulhar na água fria, as energias estavam renovadas para voltar os 5km até a portaria do Parque. Voltei em ritmo bom, correndo e caminhando, e na chegada pude me deliciar com um suco de cupuaçu revigorante que um pessoal vende na entrada enquanto esperava o restante do grupo retornar. Foi um dia incrível!

Nessa noite, ficamos em São Jorge. Estava rolando o tradicional Encontro de Culturas que acontece na região (http://www.encontrodeculturas.com.br/2015/). Comemos e curtimos um pouco do evento. Era nosso último dia na Chapada. 

No dia seguinte, passamos pelo Vale da Lua antes de pegar a estrada de volta pra Brasília. Última oportunidade de tomar um banho de água fria (e lá estava fria meeeesmo) e relaxar. 

Vale da Lua - Chapada dos Veadeiros.

O lugar é lindo e diferente. E bem turístico também (estava cheio!). São R$ 20,00 para entrar e tem vários poços para nadar. Ficamos um pouco e então seguimos viagem. 

Valeu a pena conhecer a Chapada; deu vontade de voltar para ficar mais dias e em esquema mais roots, acampando e conhecendo trilhas mais distantes e longas. Tem coisas demais para se ver e viver na região. Com certeza vai entrar na minha lista dos desejos!