quarta-feira, 14 de outubro de 2009

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Espinhos

"Algumas vezes eu fiz muito mal para pessoas que me amaram. Não é paranóia não. É verdade. Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos - e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso".

Jubuda



"Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros. Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora. Você é, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir. Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que se lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante".

Martha Medeiros

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sobre jardins e borboletas



A gente acredita na ilusão. De que está tudo bem, de que vai passar. E vai mesmo. Vai passar a dor, depois de secar por dentro, de tanta lágrima posta pra fora, de tanto sentimento esmagado ou mal cuidado, que nem aquelas flores no jardim, castigadas pelo sol e sem nem um pingo de água pra dar a esperança de mais um tempinho de vida, de mais um suspiro, uma corzinha só; tão seca que chega a doer, e faz aquele barulho peculiar de coisa morta, de planta morta. Aí passa a dor, porque não tem mais o que doer, tá tudo seco, sem vida; e a gente sente um vazio, sente falta até da dor, e sente também uma tristeza morna, sem brilho, e um desgosto por ter acreditado na ilusão ou por não ter acreditado em outra ilusão, e sente saudades do que foi e do que não foi e do que poderia ter sido. É assim que a gente faz, a gente não, EU faço assim, me proclamo racional, de besta que sou, e como se não bastasse acho que sei bem o que quer o coração, que é tudo fase e que não se demora. A gente (a gente?) só não percebe que às vezes a cabeça engana, porque a cabeça não age sozinha, e tem um monte de coisas dando palpite, e a mais forte delas é o medo, que se impõe, com aquele pose de corretíssimo, de "eu te disse!". Que medo? Você sabe: medo de tentar, de sofrer, de ter sido em vão, de repetir o erro, de fazer mais do mesmo, de ser burra. Aí a gente corre pro outro lado, tropeça na vaidade e no individualismo, e naquele argumento vazio de que 'sou livre e faço o que quero', e na bandeira da independência e da auto-suficiência. Quanta bobagem!

Saudade


"Te desejo uma fé enorme, em qualquer coisa, não importa o quê, como aquela fé que a gente teve um dia; me deseja também uma coisa bem bonita, uma coisa qualquer maravilhosa, que me faça acreditar em tudo de novo, que nos faça acreditar em tudo outra vez".

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Voltas


Volta e meia
Vai e volta
meia volta, volta inteira
Vem, vai
Vai-não-vai
E a gente assim, sem sair do lugar.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O segredo do sucesso


Tenho pensando que o planejamento da vida profisisonal é inversamente proporcional ao planejamento da vida pessoal. Planejo a minha empresa, planejo minha carreira, planejo minhas ações e investimentos. E a minha vida pessoal? Sem comentários. Esse coração aqui esconde segredos a sete chaves, e não somente uma. E estou longe de chegar a desvendar seus mistérios. Estou mais próxima de entender o mercado financeiro ou fonográfico.

É, não há planejamento que sustente as regalias do coração. E, pensando bem, seria sem graça se a gente pudesse prever os sentimentos e organizá-los. A razão equilibra a orquestra regida pelo coração, mas essa área é dele, e ele não larga as rédeas, e talvez nem deva largar. Afinal, o coração não é tão burro assim, ele sabe o que faz. E a razão está sempre lá, de conselheira.


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Bagunça.


"Tem um congestionamento aqui dentro de mim. São muitas pessoas querendo falar, se exibir, se expressar. Achei que estava entrando em um período de calmaria, a maturidade afinal, e de repente esse furacão. As incompatibilidades de conceitos, o sobe-e-desce emocional, é um mulherio afoito que parece não caber no meu corpo pequeno. (...) Há um tumulto na sala querendo enfiar-se pelos quartos, banheiros, varanda; debruçado no parapeito, ele se esparrama por todos os meus cantos. (...) Por que nessas horas a gente diz coisas que nunca pensou? Depois fica aquele vaso quebrado no meio do peito, a gente tentando remendar o que se partiu no vício de não se conter. Coisa repetitiva..."

(Trecho tirado do livro UMA VIDA INVENTADA, de Maitê Proença).

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sina nossa

"Esgotei meu estoque de surtos, nesse ponto. Fico com o bom. Carrego nossa cumplicidade, nossa afinidade descontrolada, nossos sorrisos por nada, nossas palavras ditas ao mesmo tempo, nossas lágrimas descuidadas lendo a poesia um do outro, nossos planos. Levo todo o futuro planejado entre brincadeiras bobas. O pedaço do meu coração a bater fora do meu peito, que eu sonhei ser pedaço teu, comigo. Levo as cenas que pintamos, as brincadeiras que fizemos, as coisas sérias. As pancadas que nos demos, do lado de dentro. Levo a sinceridade, a noção de saber que estivemos juntos nisso com a mesma intensidade, e minha delicadeza ao saber fundir tuas oscilações em meio às minhas certezas, de maneira tal, que eu achava que podia ser segura por nós dois. Não pude. Mas levo. Levo aquelas trilhas sonoras todas, levo tua previsibilidade, nosso primeiro diálogo, a maneira como aparecemos, nossas letras de mesma cor. Você agora cinza, eu vermelha. E todas as conversas infindáveis, que iam num ritmo louco e que sempre, sempre fica muito a ser dito. Levo tudo o que dividimos. E nosso egoísmo, também. Levo você..."(...)

Tirado do blog liricass.blogspot.com. Leia na íntegra clicando aqui.

sábado, 26 de setembro de 2009

Sai dessa


Sonhei que existia uma avenida
Sem entrada e sem saída pra gente comemorar
Toda hora, todo dia, toda vida
Na tristeza e na alegria, sem platéia e sem patrão

Hoje eu sonhei que cerveja sai da bica
No banheiro não tem fila nem existe contramão
Que o trabalho é ali na nossa esquina
E depois do meio dia, nem polícia e nem ladrão

Sonhei, como faço todo dia
Como você não sabia, meu senhor não levo a mal
A beleza, o amor, a fantasia
O que tece e o que desfia não se aprende no jornal

Hoje eu sonhei, mas não vou pedir desculpas
E nem vou levar a culpa de ser povo e ser artista
Sai dessa, moço, por favor não crie clima
Seu buraco é mais embaixo
Nosso astral é mais em cima.