segunda-feira, 1 de novembro de 2010

F desenhado no céu rubro

"Quando ele foi embora, resolvi lutar. Não é o que dizem, lute, lute? Durante meses esquadrinhei cada uma das acusações que me fazia, combatendo ponto por ponto. Ele se queivaxa de tudo, até do que tinha gostado na véspera. Eu não entendia nada.

Tu lobo, eu cordeiro. Acusar aquele a quem se está abandonando é o método mais fácil de liquidar a fatura. Noventa por cento pura retórica. Qual é o par que não tem queixas recíprocas? Quem não comete erros? Hora de esvaziar o lixo, pessoal. Não importa que o abandonado enfilere suas razões - algumas boas como trigo maduro. Não adianta desenrolar seu belo pergaminho de prós, mesmo com a extensão do Amazonas e a fertilidade do Nilo na cheia. O outro já ergueu uma bandeira de contras e é surdo à litania do que viveram juntos, cego ao passado glorioso. Passado? Que passado? (...) Mas no olhar de quem parte, a pilha de vivências deixadas vale tanto quanto um marco alemão de Weimar. (...) Quem não comete erros? É verdade também que o amor pode ser salvo. (...) Mas só se salva o amor que dois querem salvar. Caso contrário você será tão ouvido quanto uma cabra idiota balindo no deserto. Não uive para a lua sozinho pois só vai conseguir uma dor de garganta."

Trecho do livro "Como Esquecer", de Myriam Campello.

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