quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Ninguém é de ninguém

Retirei esse texto incrível do blog "Antônia no Divã". Me senti tão contemplada que resolvi compartilhar aqui. Quem quiser ler a postagem original, o link é esse aqui:  http://antonianodiva.com.br/efemerides/ninguem-e-de-ninguem/

“Eu não tenho mais nenhum sonho em cima de você”


Essa frase foi proferida pelo meu pai, quando discordávamos de alguns planos de futuro. Eu, a pseudo-herdeira, sabia que ele só estava brabo comigo e tentando com aquilo nos manter juntos através da amarra da decepção dele. Óbvio que ouvir isso de alguém, alguém que você ama muito, é tão sutil quanto um tiro no peito. Ainda que sentisse a dor, eu só sobrevivi porque estava fardada de um colete a prova de balas chamado individualidade. E aqui não confunda individualidade com egoísmo, egocentrismo e outros “ismos” negativos. Mas puramente a capacidade de se enxergar como um indivíduo. De exercer sua autonomia. Afinal, ninguém pertence a ninguém. Ou não deveria.

Calma, eu não nasci de um ovo. Eu tenho família que me ama muito, que me apoiou e irá me apoiar em todas as fases da vida. Ainda que discordando muitas vezes, e sofrendo tantas outras – os melhores pais criam os filhos pro mundo. Não dá pra voar alto sem sair debaixo da asa deles. O que também não quer dizer que o processo é tarefa fácil. Família tem que lidar intensamente com a tal da projeção, seja nos sonhos de seus pais em você se tornar uma bailarina ou um astronauta. Seja porque você nunca vai querer decepcionar as pessoas que te botaram no mundo. O que acontece dentro de casa (e depois na vida), é que aprendemos a projetar grandes expectativas em cima pessoas, e quando frustrados apontamos que as pessoas é que eram pequenas. Não eram. Eram apenas pessoas. Com dramas e peculiaridades singulares e imprevisíveis. Então vem a maturidade, e temos que aprender aos trancos e barrancos a ter sonhos pessoais em cima de expectativas próprias. E agora como é que faz?

Eu tive que deitar muito tempo em um divã pra entender que o que é do outro, é do outro. E queria jogar minha terapeuta pela janela cada vez que ela me dizia isso. Com o tempo, consegui enxergar que minhas expectativas em cima de outras pessoas eram projeções únicas e exclusivamente minhas, e que ninguém era culpado em não atendê-las. Fato é que não sabemos nos bastar. Aliás, não queremos nos bastar. Entendemos que uma vez nos bastando, seremos reclusos em nossa individualidade, quando o que acontece é justamente o contrário.

Quando a gente se basta, a gente não PRECISA de mais ninguém, e passa a ESCOLHER estar com alguém. Seja família, amigos ou um amor. A companhia desta gente toda é muito mais gostosa quando eles não carregam a responsabilidade de ser um pedaço nosso, do qual a ausência não nos permite sermos inteiros, completos. Desta forma, faz muito mais sentido entender e trabalhar para que nossos entes queridos tornem-se uma extensão de nós, ou seja, uma parte extra que nos faz ainda melhores. É batata frita do nosso Mc, não o hambúrguer.

A verdade mais perturbadora que já escrevi em todo o conteúdo do blog foi dizer em voz alta que ninguém precisa de ninguém pra seguir vivendo, e que isso é chocante e libertador (evite aqui jogar suas pedras dizendo que estou alegando que uma pessoa largue os filhos pequenos para se mudar para Bora Bora, não é isso!). Estou falando de pessoas adultas presas as correntes da expectativa alheia. E eu entendo que pra muita gente seguir as próprias vontades seja feio, dolorido ou até desonroso. A pergunta é: não segui-las, faz bem pra quem? Você casaria porque é o que esperam de você, “até que a morte os separe”? Assumiria um legado inteiro de alguém, porque lhe foi apontado? Conseguiria aproveitar o caminho, quando lhe foi imposto o destino?

Não nos permitimos ir embora das outras pessoas ou deixá-las ir embora porque aceitamos as amarras impostas, ou criamos as nossas próprias. Não arriscamos ousar sozinhos, porque se falharmos, falharemos sozinhos e não haverá ninguém em quem colocar a culpa. Lembrando sempre que “culpa” é mais da metade da “desCULPA“. Jogamos no outro a responsabilidade de nossas próprias decisões, apenas para cultivar o que? O ressentimento? Agora imagina ser para o resto de sua vida responsável pela alegria, tristeza, amor, compreensão, felicidade de outro alguém? Onde arrumaríamos tempo e energia para a nossa própria felicidade e aceitação? O que é do outro é do outro. Ninguém é de ninguém. Nós podemos colaborar com a felicidade alheia, jamais ser os donos dela. Nós podemos compartilhar da nossa felicidade, jamais entregá-la nas mãos de outra pessoa.

O que precisamos entender é que somente através do conhecimento e amor próprio, que conseguiremos genuinamente entregar o melhor de nós ao outro, sem torná-lo prisioneiro. “Cultive o jardim”, lembre-se daquela velha frase. “As borboletas virão sozinhas”. Entendemos que não dá é pra ser uma junção de pedaços dos outros, ao invés de ser um inteiro de si próprio. Quando meu pai alegou que não tinha mais nenhum sonho em cima de mim, expliquei que ele nunca deveria ter tido. E que ele me amando muito – do jeito que sei que ele me ama – vai entender que não posso ser a menina dos sonhos dele, porque estou lutando bravamente pra ser a mulher dos meus.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

É tempo...



É tempo de tirar as óculos pra deixar brilhar o olhar. De remover as armaduras e sentir os dias na pele, ásperos ou delicados, duros ou agradáveis, brutos ou sensíveis. De despir-se das roupas e dos rótulos que com elas vêm. De jogar fora o velho chapéu que cobre a cabeça, e também as velhas idéias. De rever conceitos e sentimentos. De tirar o pó dos livros e das risadas e devolvê-los pra rotina. De doar os objetos e os afetos guardados. De lavar as mãos e a alma, purificar os pensamentos e limpar a sujeira dos cantos da mente. De tirar as pedrinhas dos sapatos e os espinhos do coração. De renovar o passaporte das vontades. De cultivar hortas e amizades. De cuidar melhor do corpo e da casa, suas moradas. De retirar as grades das janelas do mundo e se livrar das prisões invisíveis. De curtir o calor agradável do sol e dos desejos. De se abrir para as luzes do dia e dos sorrisos. De se permitir desfrutar o aconchego da cama e dos abraços. De viver uma vida da qual não precise de descanso ou de pausa.

É tempo de ser você de novo. É tempo, menina.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O amor é pra quem tem coragem.



Que "viver é pra quem tem coragem" eu já sabia. Mas me dei conta de que amor também. Em tempos de relações descartáveis e de individualismo exacerbado, amar é praticamente um ato revolucionário. Afinal, dá trabalho doar para o outro nosso tempo, energia, sentimentos; ou exercer a tolerância e a paciência; ou ainda abrir as portas de casa e do coração. 

Depois de tanto silêncio e reclusão, almejo que venham tempos de muito amor na minha vida. Porque coragem eu tenho!

Quero alguém que chegue como sopro de brisa, de mansinho, e encontre aconchego nos meus braços e coração. Que venha para somar planos, afetos, cuidados, gentilezas, desejos. 

Quero caminhar de mãos dadas nas trilhas da vida, desbravando o mundo e o que há de mais íntimo dentro de mim. Explorar o universo ao meu redor e o infinito particular. 

Quero olhos tranquilos de quem contempla paisagens e fogosos de quem deseja com intensidade; corpos que se entregam e se incendeiam, ombros que acolhem, mãos que apoiam, palavras que acalmam.

Quero abraços sinceros, beijos apaixonados, silêncios esclarecedores.

Quero o toque que, como música, faz dançar meu corpo. Quero o sussurro que arrepia, voz que tranquiliza, o cheiro que embriaga, o gosto que vicia.

Que alguém por inteiro para, juntos, transbordarmos.

domingo, 2 de agosto de 2015

Mergulho profundo na Chapada dos Veadeiros




Às vezes, é preciso voltar para si mesmo. Viver os momentos de introspecção e arrumar a nossa própria casa, morada dos pensamentos e sentimentos. Jogar fora o que já não serve mais, renovar, reciclar. 

Quando chega a hora, é preciso respeitar as demandas da própria subjetividade e mergulhar em si mesmo. Nadar por águas inexploradas,  nos lençóis freáticos do nosso ser, onde a luz não chega. E isso requer coragem, porque vemos coisas que não gostaríamos, encaramos defeitos, erros, desvios de conduta. Ficamos frente a frente com o que há de melhor e pior dentro de nós mesmos para reconhecer que somos... humanos.

Alguns lugares favorecem esses momentos; se nos abrirmos para as possibilidades, eles têm a capacidade de permitir que o mergulho seja mais profundo. Criam uma ambiência equilibrada de pouco ruído, menos interferências externas. 

Foi assim na Chapada dos Veadeiros: em meia à natureza exuberante, rochas e cachoeiras, mergulhei em mim mesma para analisar um turbilhão de emoções boas e ruins que remexiam por dentro, fruto dos acontecimentos dos últimos tempos. Precisava entender sentimentos e pensamentos que guiavam minhas ações e reações. 

Pela primeira vez em meses, olhei de frente a tristeza que tomava conta de mim. Deixei que ela aflorasse, ao invés de somente entendê-la ou justificá-la como fruto de circunstâncias objetivas. Assim, pude compreender os efeitos dela em minha vida, em seus diversos aspectos, sem que a razão gritasse seus argumentos.

A verdade é que ser capaz de processar a realidade não reduz o sofrimento, a tristeza. E entendi que preciso dar voz aos meus sentimentos, ao invés de tentar controlá-los ou oprimi-los. É mais fácil lidar com o que está explícito; então, deixar aflorar as emoções de forma sincera é a melhor forma de lidar com elas.  

Aproveitei os dias na Chapada para refletir, chorar e sentir com as entranhas, até ficar esgotada. Então, entrar nas águas de uma cachoeira fria e lavar a alma, renovar-me. Pude me libertar das minhas próprias prisões emocionais.



A forma positiva de encarar a vida

Essas reflexões sinceras também trouxeram para minha mente e coração uma dose de realidade e pude entender melhor como as coisas são de fato, sem as ilusões, que causam tanta frustração e desgaste emocional. Trouxeram leveza e serenidade para encarar o real de forma tranquila, reconhecendo e respeitando minhas limitações e também das pessoas ao meu redor. Assim, despida das expectativas e das idealizações, reconhecendo que bom e mal são lados da mesma moeda, vejo tudo com olhos brandos e amáveis. Ninguém é perfeito,  eu também não sou e nem preciso querer ser.

E, apesar dos pesares, vejo que tenho uma forma positiva de encarar a vida suas experiências, boas ou ruins. No final das contas, tudo é aprendizado, evolução. Cada vivência ajuda a nos construir e a nos polir, para sermos pessoas melhores a cada dia, basta estarmos abertos a isso. E eu estou.




A Chapada dos Veadeiros teve o poder de me tocar profundamente, deixar boas impressões na alma e renovar o sorriso no rosto!

A Chapada dos Veadeiros

Vista do Miranda da Nova Aurora, em Cavalcante.

Na última semana, estive na Chapada dos Veadeiros. Foi uma viagem inesperada e, talvez por isso, trouxe muitas surpresas boas e, claro, aprendizados. 

Fui com pessoas com as quais não tenho muita intimidade; mas éramos um grupo e as coisas tinham que funcionar dessa forma, então sabia que teria que levar os dias com mais tranquilidade, exercendo bastante o senso de coletividade. Deixei de lado o egoísmo e até um pouco do individualismo, e isso foi muito positivo pra mim, pessoalmente; pude exercer a tolerância e a flexibilidade, com leveza e alegria. 

Alugamos um carro, porque viajar pela região sem transporte é muito difícil; tudo fica muito longe, até pela dimensão do lugar.  E para depender de caronas e ônibus, é necessário ir com mais tempo - e nós não tínhamos muito. Seriam apenas 4 dias pra conhecer vários atrativos.




A Chapada é um lugar gigantesco e de belezas únicas. São tantos lugares incríveis que teria que passar pelo menos um mês para conhecer um pouco a região e suas cachoeiras, cânions, trilhas e paisagens. Começamos pela cidade de Cavalcante, que fica a uns 90km de Alto Paraíso - cidade mais conhecida e estruturada de lá.

Cavalcante é uma cidadezinha bem pequena e aconchegante, que não tem muita estrutura. Ficamos numa pousada sensacional chamada Aruana. Os quartos são aconchegantes e limpos, a paisagem é linda e foi o melhor café da manhã da Chapada dos Veadeiros, sem dúvida. Aliás, um dos melhores que já experimentei por essas andanças Brasil afora. Indico.

Nosso quarto na Pousada Aruana e as rochas ao redor. Lindo demais!

No primeiro dia, fomos ao Quilombo Kalunga para conhecer a cachoeira mais famosa da região, a Santa Bárbara. É uma cachoeira maravilhosa, mas que fica bastante cheia, principalmente em alta temporada. São 20 reais para entrar, mais o guia. Sim: a contratação do guia do próprio quilombo ou da cidade é obrigatória. São 70 reais, mas é possível juntar várias pessoas (máximo de 10) e dividir o custo. 

A trilha é bem curta e tranquila. Quando a gente chega, dá de cara com esse espetáculo:

Cachoeira Santa Bárbara, em Cavalcante - GO (Chapada dos Veadeiros)

Ainda visitamos a cachoeira do Tamanduá e a Bom Jesus, no mesmo dia. Aproveitei para brincar de boulder nessa rocha! 

Rocha na cachoeira Bom Jesus, em Cavalcante - GO (Chapada dos Veadeiros)

No segundo dia, fizemos uma caminhada um pouco mais longa e conhecemos uma das cachoeiras mais bonitas que eu já vi. Como é preciso andar um pouco mais, o lugar fica bem vazio. Inclusive, éramos os únicos por lá. Também é preciso contratar um guia pra ir, no mesmo valor, mais a entrada de R$ 10,00. Vale cada centavo.

Cachoeira Candaru em Cavalcante - GO (Chapada dos Veadeiros).


São duas quedas e dois poços gigantes para nadar, com água verde e cristalina. O poço da queda mais alta é maior e mais fundo, melhor para mergulhar. A queda de baixo também tem um poço grande e muitas rochas ao redor para sentar, descansar e admirar as belezas do lugar.

Poço da segunda queda da Cachoeira Candaru.

Poço da primeira queda da Cachoeira Candaru.

Poço da segunda queda visto de cima, do poço da primeira queda.

Poço da primeira queda e uma beirada das duas quedas da Cachoeira Candaru.

A segunda queda vista de cima, do poço da primeira queda.

Nessa noite, depois dos passeios, seguimos para Alto Paraíso. Dormimos por lá na Pousada Caminho de Santiago (inclusive não indico, não gostamos muito) e, na manhã seguinte, fomos para o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em São Jorge). Fica a 30km de Alto Paraíso e a estrada é um tapete. Tem até ciclovia para quem animar fazer o percurso de bike. 

O PNCV não cobra entrada e as trilhas são bem marcadas e sinalizadas. Não é necessário contratar guia, a não ser que queira. Para quem não tem o costume de fazer trilhas e caminhadas, vale a pena contratar, porque as trilhas são um tanto longas.

No Parque, me dividi do grupo. Era a oportunidade de, pelo menos um dia, fazer curtir o local no esquema que gosto: caminhando muito, correndo pelas trilhas, contemplando as belezas no meu tempo. Então, primeiro fiz correndo trilha dos Saltos, 5km para ir. Parei no mirante da cachoeira de 120m, para admirar essa vista:

Vista do Miranda - trilha dos Saltos - PNCV.

Salto de 120m - Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Depois cheguei ao salto de 80m e aproveitei para nadar e me refrescar no poço gigante que tem lá. Mas o lugar estava muito cheio, então não quis ficar por muito tempo. Aguardei o pessoal chegar, descansei um pouco para decidir o que fazer.

Salto de 80m - Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

O pessoal decidiu curtir mais um tempo o Salto de 80m. Eu não; era meu dia de ficar mais só e fazer as coisas que gosto, curtir o lugar do meu jeito. De lá, voltei 4km até a bifurcação onde começava a trilha de mais 4km até os cânions e Cachoeira Cariocas. Aproveitei para correr durante quase todo o percurso, coisa que adoro fazer. 

Cachoeira Cariocas - Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros

Olha eu aí num momento turista!

Me refresquei primeiro na cachoeira, descansei, meditei e depois fui até os cânions (mais ou menos 1km da cachoeira). Como amo rochas e água, não podia perder essa paisagem:

Cânions - PNCV

Cânions - PNCV

Depois de me encantar com tanta beleza e mergulhar na água fria, as energias estavam renovadas para voltar os 5km até a portaria do Parque. Voltei em ritmo bom, correndo e caminhando, e na chegada pude me deliciar com um suco de cupuaçu revigorante que um pessoal vende na entrada enquanto esperava o restante do grupo retornar. Foi um dia incrível!

Nessa noite, ficamos em São Jorge. Estava rolando o tradicional Encontro de Culturas que acontece na região (http://www.encontrodeculturas.com.br/2015/). Comemos e curtimos um pouco do evento. Era nosso último dia na Chapada. 

No dia seguinte, passamos pelo Vale da Lua antes de pegar a estrada de volta pra Brasília. Última oportunidade de tomar um banho de água fria (e lá estava fria meeeesmo) e relaxar. 

Vale da Lua - Chapada dos Veadeiros.

O lugar é lindo e diferente. E bem turístico também (estava cheio!). São R$ 20,00 para entrar e tem vários poços para nadar. Ficamos um pouco e então seguimos viagem. 

Valeu a pena conhecer a Chapada; deu vontade de voltar para ficar mais dias e em esquema mais roots, acampando e conhecendo trilhas mais distantes e longas. Tem coisas demais para se ver e viver na região. Com certeza vai entrar na minha lista dos desejos!

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Prazer, Thais.

Para quem não me conhece, sou uma leonina com ascendente em peixes, forte e sensível. Posso ser tempestade ou calmaria, criança alegre ou velha chata; flor da montanha ou dama da noite. De bicho do mato a mulher de negócios, me permito ser tantas em uma só. 

Plagiando Heráclito, sei que na minha vida a única constante é a mudança. Encaro a minha caminhada como um processo de aprendizado e evolução, e deixo as experiências e as relações me transformarem a cada dia. Olho pra dentro com olhos brandos e fico feliz com o que me tornei; sou segura de mim e sigo amadurecendo. Olho pra fora e percebo que é difícil bancar tantas metamorfoses; as pessoas com quem nos relacionamos nem sempre processam as transformações da mesma forma que a gente.

Refletindo sobre isso, penso em quantas vezes disse "eu te conheço" para outra pessoa. Que equívoco. Não, não conheço; não há como conhecer alguém tão plenamente, em toda sua complexidade. Cada pessoa é uma esfera cheia; dentro dela estão os pensamentos, os sentimentos, as percepções, as experiências, as subjetividades. Esse conteúdo está em constante movimento, mutação. Impossível acessar, apreender e processar tanta informação.

As relações interpessoais são como interseções dessas esferas e elas podem variar de tamanho, representando o grau de afinidade, proximidade, convivência ou interação entre as pessoas. Essas interseções também estão em movimento. Afinal, as relações mudam com o passar do tempo - e com a interferência de outras variáveis.



Por isso, dificilmente conhecemos toda a esfera de cada indivíduo; primeiro, porque ela não é estática, muda sempre. Segundo porque nossas relações são dialéticas; e terceiro porque além da nossa relação com aquele indivíduo, há a relação dele com a família, com o trabalho, com outros amigos, com o lazer e etc. Então é um erro achar que conhecemos as pessoas melhor do que elas mesmas, só porque nos identificamos com os problemas, situações, circunstâncias. É um erro projetar nelas algumas respostas que daríamos aos nossos problemas e questões. Aliás, se nem nós mesmos somos capazes de nos conhecer por inteiro, imagina saber tanto do outro?

Olhamos para as pessoas e as enxergamos, geralmente, usando o filtro dos nossos valores, percepções e maneira de ver a vida. Não as vemos como elas são, mas como nós somos.  Simplificamos o outro. Achamos que pode se resumir a alguns conceitos (até porque assim é muito mais fácil identificá-lo). Mas a verdade é que ninguém se encaixa em rótulos. Cada pessoa é um ser único que passa por batalhas que nem imaginamos, internas e externas; carrega suas pedras e seus medos; leva consigo seus traumas, pensamentos e sentimentos. Cada ser encara a existência de uma forma única, ainda que permeada de ideologias coletivas ou de comportamentos padrões. Cabe a nós respeitar ou, caso o nível de amizade permita, ouvir e opinar. Julgar, nunca.




Vivo a cada dia tentando, mais do que entender, respeitar cada indivíduo, suas escolhas, suas lutas e sua maneira de ser. Exercício diário de tolerância, aceitação, amor.


quinta-feira, 16 de julho de 2015

Algumas lições que aprendemos com os gatos



Quem convive com gatos sabe que esses bichanos têm muito a nos ensinar. Veja algumas lições que todos deveriam aprender com eles:
  1. Amor é diferente de dependência emocional. Ser independente não significa amar menos.
  2. Não importa o nível de independência, tem horas que colo e carinho são mais que bem vindos!
  3. Estar algumas vezes indisponível faz com que a presença seja valorizada.
  4. Espontaneidade e autenticidade nos torna únicos e especiais.
  5. Liberdade de ser e agir é algo natural; ninguém nasceu para suprir expectativas alheias. 
  6. Curtir preguiça é uma delícia.
  7. Brincar mantém jovem o nosso espírito, independente da idade.

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Caminhos



Para os caminhos difíceis, força. 
Para os tortuosos, perseverança. 
Para os longos, paciência. 
Para os escuros, coragem. 
Para os pesados, leveza. 
Para os tranqüilos, alegria. 
Para os desafiadores, gratidão.

terça-feira, 7 de julho de 2015

Escalada da vida



Viver pra mim é como escalar uma montanha: trata-se de uma aventura muitas vezes difícil e cansativa, mas que tem suas belezas raras. A paisagem, a atmosfera, o clima. Respiro fundo e sinto a natureza ao meu redor. Com força e coragem, vou subindo...

No trajeto, aprendo muito sobre mim mesma, me transformo e evoluo - física e emocionalmente. À medida que deslizo sobre as rochas, vou progredindo. É como uma dança, o movimento dos quadris.... o jogo de cintura.

À medida que chego ao topo, tenho a recompensa: olho pra trás e me orgulho do percurso; olho pra frente e as esperanças se renovam. E no "aqui e agora" sou só gratidão pela dádiva que é estar viva. ‪

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Primeiro fique sozinho



"Primeiro fique sozinho. Primeiro comece a se divertir sozinho. Primeiro amar a si mesmo. Primeiro ser tão autenticamente feliz, que se ninguém vem, não importa; você está cheio, transbordando.

Se ninguém bate à sua porta, está tudo bem – Você não está em falta. Você não está esperando por alguém para vir e bater à porta. Você está em casa. Se alguém vier, bom, belo. Se ninguém vier, também é bom e belo.

Em seguida, você pode passar para um relacionamento. Agora você se move como um mestre, não como um mendigo. Agora você se move como um imperador, não como um mendigo. E a pessoa que viveu em sua solidão será sempre atraídos para outra pessoa que também está vivendo sua solidão lindamente, porque o mesmo atrai o mesmo.

Quando dois mestres se encontram – mestres do seu ser, de sua solidão - felicidade não é apenas acrescentada: é multiplicada. Torna-se um tremendo fenômeno de celebração. E eles não exploram um ao outro, eles compartilham. Eles não utilizam o outro. Em vez disso, pelo contrário, ambos tornam-se UM e desfrutam da existência que os rodeia."

OSHO

terça-feira, 30 de junho de 2015

Dádiva



Algumas pessoas aparecem de forma inusitada na nossa vida e a transformam de forma tão profunda que deixam marcas eternas. A intensidade supera o tempo e, por isso, parece que as conhecemos desde sempre e para sempre. A presença delas nos preenche e compartilhar a vida torna-se uma multiplicação de prazeres e aprendizados. Quando isso acontece, o sentimento transcende rótulos, conceitos e razões. A ligação se dá na esfera da essência e se traduz em afinidades e afeto. Com elas, ficamos em paz, com a mente tranquila e o coração sereno. Nos despimos das máscaras, dos papéis sociais e nos vestimos de nós mesmos. Nos sentimos em casa, bem vindos, queridos, independente de nossas virtudes ou limitações, do jeito maduro ou infantil. O silêncio não incomoda, acolhe. Isso é raro: experimentar a dádiva que é o exercício pleno do amor.

segunda-feira, 29 de junho de 2015

Cânion



Corre em mim, por entre as rochas duras, resistentes e majestosas,
um rio de sentimentos, pensamentos e percepções.
Ele segue seu curso com força e fluidez.

Não é fácil chegar até ele;
para se refrescar ou se deleitar em suas águas claras,
é preciso escalar as paredes do cânion.
Requer força, vontade, coragem!
Uma espécie de seleção natural:
os perrengues desanimam os desinteressados
ou aqueles que se contentam com relações superficiais.

Às vezes, em circunstâncias de chuva forte
ou de obstrução do fluxo,
este rio enche demais.
Quase me afogo em palavras não ditas,
nos sentimentos aprisionados,
em choro contido.

Para essas ocasiões, tenho aprendido a nadar...
respirar, bater pernas, usar os braços.
E quando a correnteza é forte demais,
me deixo levar pelo fluxo, enfrentando o pavor de ser levada.
Melhor do que se agarrar a velhos galhos ou troncos apodrecidos.



domingo, 21 de junho de 2015

É tempo de partir



Vá, meu amigo.

Vá porque seus sonhos são do tamanho do mundo e não cabem em fronteiras. Seus sonhos são de todas as cores e texturas, perpassam montanhas e rios e horizontes sem fim. Eles superam os limites da razão para ganhar vida, pulsando por aí.

Vá porque sua luz precisa brilhar por outras bandas, iluminar caminhos escuros e projetar-se nas luas que encontrar. Irradie sua energia onde estiver, sem economias; contagie as pessoas.

Vá porque ainda há muito o que aprender, e as experiências são os melhores professores que podemos ter. Se jogue em sua existência e sinta tudo com a paixão e a intensidade que merece. Dê asas aos seus 5 sentidos, explore-os! Deguste cada pedaço de chão por onde passar, sinta o cheiro que exala da vida, toque o som do universo, escute o silêncio das palavras não ditas, veja além do óbvio! Seus olhos anseiam por expandir o campo de visão, admirar e sentir outras belezas. Que seu coração possa ser sua lente quando ver as pessoas e a natureza ao redor.

Vá porque a vida é curta, é um sopro. Cada momento é único, é presente, é dádiva. Aproveite-os! Encha seus dias com paixão, alegrias, leveza, risadas e afeto. É aqui e agora que a gente constrói o futuro... Plante tudo aquilo que deseja colher e olhe pra frente com fé e esperança. Os frutos virão! Como diz o ditado, "o plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória"; então cultive tudo o que te faz bem e feliz!

Vá porque é tempo de apaixonar-se ainda mais por você mesmo, pelo seu jeito, pela forma de encarar o mundo e de evoluir a partir das vivências. E de apaixonar-se também pelo outro, pelos outros, pelas tantas pessoas que irá encontrar por aí.

Vá porque é tempo de ir, já que você não cabe mais em si mesmo. Vá expandir os limites de seu corpo e mente. Você é um espírito livre, cidadão do mundo; explore-o, conquiste-o. E deixe pra ele o seu legado, contribuindo para torná-lo um pouco melhor do que encontrou. Espalhe suas sementes de força e coragem. Força para romper barreiras e enfrentar obstáculos, coragem para libertar dos medos e encarar as dificuldades.

Não é difícil deixá-lo ir, porque sou daquelas que nunca colocaria passarinho na gaiola. É muito mais bonito vê-lo solto, cantando e voando livremente. Bicho solto volta quando quer, e se volta é porque tem ligação forte com o que deixou pra trás.

Voe, meu amigo, voe alto. E volte quando quiser. As portas e os braços estarão sempre abertos para te receber. Ausências são incapazes de romper laços de afeto!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Nariz no vento, olhar no horizonte

Texto do meu querido amigo Justino Augusto. Tive que me "apropriar" dessa lindeza! 





Trilhas e milhas. Quem sabe encontro alguém pra andar mais eu a segunda milha. E a terceira. E a quarta. E quantas mais e tantas mais. E Que curte mato. E que não questione caminhar em meio a pedras, e atravessar rios de águas cor de chá; que não reclame se a pele arranhar em carmesim; que sorria ao subir montes prá, de lá de "riba", contemplar as pessoinhas lá embaixo, como formigas, ou os caminhos como filamentos, longe; que não tema adentrar cavernas nunca dantes vistas, que se delicie aprofundar-se em poços profundos ocultos entre fendas da montanha. Que alargue os braços prá sentir o vento soprar por entre canions desconhecidos; que não peça por uma cama confortável ao se horizontalizar em solo úmido, que não horrorize por dormir sob a abóboda infinita cheinha de pontos de luz, por vezes sem abrigo, ou ao caminhar por dias sem ver mais ninguém, que não se desespere ao se ver solta num abismo segura apenas por uma tenue corda. Que não tema ao perceber que tem apenas bichos, pedra, água, céu e a mim por companhia. E que goste de mim. (...) Mas se não curtir nada disso, pelo menos que me deixe ir. E me permita voltar. 


quarta-feira, 10 de junho de 2015

Manifesto pela liberdade de ser



Observando as pessoas com quem convivo, a forma de ser de cada um, de agir e reagir, a maneira que enxergam o mundo e a si mesmos, a conduta, os sentimentos e pensamentos, penso: "sou privilegiada, convivo com pessoas incríveis".

Mas ultimamente tenho questionado essa ideia, porque ela me sufoca. Não que as pessoas não sejam incríveis, elas são. Mas colocar nelas este rótulo e dar a elas este papel é, de certo modo, enquadrá-las e encaixá-las em moldes da categoria "incrível". Ou seja, colocar o outro nesse lugar "especial" - que eu mesma criei (idealizei) - é uma forma de querer aprisioná-lo, porque não quero que ele saia de lá, que quebre o padrão de conduta. E ninguém veio ao mundo para ser modelo, para conduzir escolhas e atitudes de forma a atingir as minhas expectativas. 

Quando nos decepcionamos, a culpa não é do outro, é nossa! Porque criamos falsas expectativas e achamos que as pessoas vão corresponder a elas, que vão agir como esperamos. Aí nos frustramos. Além disso, os "escolhidos" por mim podem não querer estar nesse "lugar especial" onde as coloquei. Então, que tal deixá-las serem livres? Serem simplesmente como são, sem rótulos ou enquadramentos?

Eu mesma não quero ocupar nenhum altar. Quero simplesmente ter a liberdade de agir, reagir, pensar e sentir do jeito que quero ou consigo, sem ser julgada por isso, sem ter a sensação de estar "decepcionando". Quero ser verdadeira comigo mesma e, consequentemente, com todos que me cercam. Ser livre, sem prisões subjetivas.



Sobre trilhas e travessias



Quando começo uma trilha, olho para o horizonte e penso em todo o percurso. Ele parece longo demais, difícil, com suas subidas íngremes, descidas cascalhadas, rios para atravessar. Imagino o cansaço, as dificuldades. Mas então, dou os primeiros passos, dou início à minha marcha de passos curtos, rápidos e ritmados. A paisagem é linda, o sol me enche de energia e nada mais importa: estou ali por inteiro, exatamente onde e como queria estar. O destino já não me preocupa, nem o tempo, nem os obstáculos; de corpo e mente presentes, canto, caminho, paro para descansar e admirar as belezas ao meu redor. Toda ansiedade e preocupação desaparecem, tudo é sereno, equilibrado. 

Essas lições das minhas experiências com trilhas e travessias eu tenho tentado levar pra minha vida, de maneira geral. Estar mais no presente, dar um passo de cada vez, viver os dias com leveza e intensidade, aproveitar a jornada (mesmo os perrengues), não antecipar ou adiar momentos e decisões, percorrer o caminho curtindo o que há de bom e enfrentando os obstáculos que aparecerem de forma objetiva e tranquila.


terça-feira, 5 de maio de 2015

Gratidão e felicidade



Eu tentei não me envolver. Tentei manter a distância que se espera haver entre amigos que se querem bem. Tentei manter a nossa conexão no campo do afeto fraternal, lutando contra a pressão que existe há algum tempo pra mudar de lado. 

Eu tentei!!! Me esforcei pra ver você "só" como o amigo que acolhe, que escuta, que gargalha junto, que nem sempre abraça, mas quando o faz, envolve também a alma. Tentei não me encantar pela visão que vai além do óbvio e pelos olhos que vão além do desejo. Tentei não ir além e manter os sentimentos sob controle. Mas meu coração teimoso e aventureiro não quis ficar no conforto da amizade. Se rebelou e começou a bater mais forte a cada ligação, mensagem, momento compartilhado. Ele induz sonhos acordados, e quase sinto seus abraços, beijos e carícias nas noites solitárias em minha cama vazia. E assim tem sido desde então. 

Ainda bem que a cabeça ainda está no lugar e que também tem poder sobre os sentidos. Traz serenidade, calma e leveza. Posso encarar a realidade, enxergá-la com clareza e compreender que tudo isso não passa de uma projeção minha;  que o amor que insiste em transbordar deve ser guardado até que se transforme novamente...  Assim consigo viver ao seu lado com tranquilidade. 

Apesar dos conflitos internos, sou grata pela relação que construímos, de afeto e amizade. Ela me deixa muito feliz! É como cobertor em dias frios, sombra em dias quentes, sopro de brisa no deserto, chuva de verão. É como um mergulho em cachoeira após horas de caminhada ou um copo de cerveja às 19hs. É amor que acolhe, aconchega, acalma, alivia.  :-)

segunda-feira, 4 de maio de 2015

Uma reflexão sobre a vida de solteira



A vida de solteira é uma delícia. E não só pela possibilidade de conhecer gente nova, aventurar-se no sexo ou beijar várias bocas. É porque, nesses momentos, não precisamos dividir: a gente se coloca como prioridade em tudo. 

Em tempos de solteiro, fazemos as viagens que queremos, sem precisar negociar roteiros, tempo e companhias. Aproveitamos para ir a lugares que nunca fomos, em esquemas e com pessoas diferentes.  Topamos as coisas com mais facilidade, sem nos preocupar. Acampar, ficar sem banho, visitar lugares estranhos, ver o nascer do sol, aceitar uma oportunidade inesperada pra viajar; tudo é válido. Afinal, basta termos a vontade (e o dinheiro!).

Em tempos de solteiro, não precisamos planejar o final de semana com antecedência. A gente topa um convite de última hora pra sair na sexta, acorda pra correr no sábado, come o que quer, vai ao cinema ou pra balada, chega em casa de manhã, curte preguiça, liga pras pessoas, fica na internet, lê livros e se entedia. Fazemos tudo no nosso tempo e ritmo.

Em tempos de solteiro, somos mais livres para nos relacionarmos. Experimentamos novas situações, conhecemos gente nova, curtimos a paquera, entramos em joguinhos de conquista, ousamos no sexo e ficamos sem ele, quando nos convém. Sem obrigações ou cobranças.

Em tempos de solteiro, gastamos menos. Temos menos compromissos sociais, menos obrigações, menos demandas, menos presentes. Tudo acontece do nosso jeito.

Mas, tenho que admitir: ainda assim, troco tudo isso pelo aconchego dos braços de alguém! Mas alguém por quem valha a pena abrir mão disso tudo, porque relacionar-se exige tanta coisa.... Então, antes só do que num relacionamento que não acrescenta!

Relacionar-se requer ceder, compreender, entender, aprender, reaprender, tolerar, perdoar, exercitar a paciência, respeitar, comunicar. Relacionar-se é verbo; é mais que amor: é amar, com tudo que essa prática demanda. Relacionar-se é escolha! É optar pelo pacote completo; é esforçar-se de um lado e, de outro, receber recompensas como cumplicidade e companheirismo.

Relacionar-se é também crescer junto, compartilhar sorrisos e risadas, dividir tristezas, somar esforços, multiplicar alegrias; é dar as mãos, ceder o ombro e receber o colo, ou vice-versa. É trilhar o mesmo caminho, no mesmo ritmo, ainda que nem sempre juntos. É viver o presente, olhando gentilmente pro futuro...

O grande dilema é conciliar vontades; é "encontrar" alguém que esteja no mesmo "timing".  Alguém que, junto com a gente, esteja disposto a tomar essas decisões, enfrentar consequências e abrir mão do que for necessário. Alguém que olhe nos olhos e diga, de coração, "tamo junto".


sexta-feira, 17 de abril de 2015

Confesso



“Confesso que ando muito cansado, sabe? Mas um cansaço diferente… um cansaço de não querer mais reclamar, de não querer pedir, de não fazer nada, de deixar as coisas acontecerem. Confesso que às vezes me dão umas crises de choro que parecem não parar, um medo e ao mesmo tempo uma certeza de tudo que quero ser, que quero fazer. Confesso que você estava em todos esses meus planos, mas eu sinto que as coisas vão escorrendo entre meus dedos, se derramando, não me pertecendo. Estou realmente cansado. Cansado e cansado de ser mar agitado, de ser tempestade… quero ser mar calmo. Preciso de segurança, de amor, de compreensão, de atenção, de alguém que sente comigo e fale: “Calma, eu estou com você e vou te proteger! Nós vamos ser fortes juntos, juntos, juntos.” Confesso que preciso de sorrisos, abraços, chocolates, bons filmes, paciência e coisas desse tipo. Confesso, confesso, confesso. Confesso que agora só espero você.”

quarta-feira, 15 de abril de 2015

Vamos fazer um contrato?



Foi você que abriu meus olhos pra essa forma de me relacionar com o outro, estabelecendo "contratos" de conduta com cláusulas bem delineadas. Penso, repenso e organizo: o que pode e o que não pode, as regras, as funções; e deixo tudo bem explícito para ser consultado por todos os envolvidos. Sim, eu comunico. "Combinado não sai caro", não é assim que dizem por aí?

Percebi que funciono bem assim, porque fica mais fácil quando a minha razão estabelece os parâmetros pro meu coração. Mas, é fato que esse meu jeito ainda gera conflitos - internos e externos. Internos, porque meu coração muitas vezes é teimoso e rebelde, não se submete facilmente. E porque tenho um forte gosto pela liberdade. E externos porque.... precisa falar?

Relacionar é, de certa forma, colocar o amor em prática. Tem gente que constrói comigo o contrato, linha por linha, e depois executa; outros, assinam ser ler e desviam do que foi combinado; e alguns burlam as regras mesmo cientes delas. Tudo isso faz parte, é o "risco do negócio", não é? As soluções têm sido humildade, tolerância, paciência e... amor. Venho praticando diariamente, num exercício constante em prol do bem-viver. Mas não é fácil.


Bom, quero celebrar com você um contrato. Eu, leonina com ascendente em peixes, mulher com os pés no chão e asas para voar, mente focada e imaginação nas nuvens, coração maior que o mundo. Você, sagitariano torto com jeito equilibrado de libra, cheio de sistemas próprios de conduta e com o coração sob as rédeas da razão. Um contrato de relacionamento com as cláusulas a seguir:
  1. Haverá amor além da amizade e amizade além do amor.
  2. Construiremos uma relação com base em três pilares: transparência, respeito e parceria. Porque sentimento não é pilar de nenhuma relação, é motivo. E só com essas estruturas é possível estabelecer uma convivência de harmonia, confiança, lealdade e cumplicidade.
  3. Exercitaremos diariamente o amor incondicional; não de forma tola e submissa, mas de forma verdadeira e grandiosa, acima dos conflitos e das expectativas. Amar o outro pelo que é, e não pelo que gostaríamos que fosse.
  4. Você poderá desfrutar de todo afeto que tenho pra dar, além de massagens nos pés e carinhos pelo corpo todo. Em troca, quero longas conversas e beijos apaixonados.
  5. Haverá conversas francas e, claro, silêncios sinceros (nunca omissos).
  6. Contaremos um com o outro, sempre.
  7. Abro mão de noites agitadas para curtir filme, jantar a dois, conversas, TV e jogos de tabuleiro; em troca, quero dias de trilhas,  esportes, passeios ao ar livre ou picnics nos parques da cidade. 
  8. As viagens acontecerão dentro do seu sistema e poderemos voltar no domingo de manhã para que possa começar a semana como gosta; em troca, você me cede algumas noites de quarta-feira, bem no meio da semana, para quebrar a rotina. 
  9. Ambos teremos vidas individuais, com o único compromisso de não quebrarmos a cláusula 2 deste contrato.
  10. O contrato se encerra automaticamente se as cláusulas 1 e 2 forem rompidas por qualquer uma das partes.
Se topar, basta assinar embaixo....

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Você pra mim é privilégio


É noite; momento em que penso mais em você. Primeiro surgem nos pensamentos as nossas conversas, as risadas, os silêncios, a intimidade, as afinidades. Repasso tudo, como num filme, e sorrio sozinha. Sua companhia me faz tão bem! Traz calma, leveza e serenidade. Passar tempo com você me enche de alegria....

Sozinha na cama, fecho os olhos e projeto em minha cabeça a sua imagem; te vejo de certa distância, pensativo, mãos no queixo acariciando os pêlos. Observo cada detalhe que me encanta: os olhos puxados, os cabelos presos, a barba rala, a nuca convidativa, o contorno da boca, a postura. Depois, algumas cenas invadem a minha mente; momentos específicos que me deixaram hipnotizada a te olhar, como o artista que admira a paisagem antes de capturá-la..... No cinema, você sério olha tela, meio de lado. Vejo seu perfil, olhos brilhantes; a luz de penumbra da tela iluminando o seu rosto, apoiado em sua mão direita. Nossa, como você é bonito!

Sua beleza me toca de uma forma diferente, porque ela vem em conjunto com tudo aquilo que você representa pra mim. Tenho vontade de te abraçar forte, de tocar o seu rosto com as duas mãos, de passar os dedos pelos seus lábios, de beijar seus olhos e, claro, a sua boca.  Vontade de acariciar seus cabelos, de morder a sua nuca, de deslizar as mãos pelo seu peito, de apertar seu corpo contra o meu pra sentir sua pele e o seu calor. Vontade de sentir seu cheio bem de perto, de massagear suas costas e depois deitar e me encaixar sobre você. De explorar cada canto com uma suavidade intensa, descobrir prazeres secretos, ouvir você respirar ofegante.

Hoje sonhei com você novamente. Pela primeira vez, nos beijamos. Foi intenso, como algo que fica guardado por muito tempo e então é colocado pra fora. Tão intenso que tivemos que deitar no chão, já que não podíamos voar. Acordei pensativa; "será?"; perguntas assim têm rondado meus pensamentos com frequência... "será que, de alguma forma, esse meu sentimento é correspondido?"; "será que você é ponderado demais ou realmente não sente nada por mim?"; "será?? será....".

Quando viajo demais em tudo que "poderia ser", a razão grita; então penso que é melhor não projetar nada, não criar expectativas, deixar que o tempo e a convivência determinem os rumos da nossa "relação". Porque, por enquanto, sei que o máximo que podemos ter são conversas amigáveis e momentos de carinho e afeto.

Esperanças e desejos à parte, o fato é que eu sempre penso em você...  E, às vezes, gostaria que se visse por um momento com os mesmos olhos que eu: olhos brandos, de amor e de afeto. Que enxergasse a beleza que irradia não só por seus atributos físicos, mas essencialmente pela sua forma de ser e pensar; a confiança e segurança que inspira; a serenidade que transmite. Que visse o quão especial você é e como te quero bem.


"Meu bem, 
você pra mim é privilégio,
sorte grande de uma vez na vida...."



segunda-feira, 23 de março de 2015

Ainda sou eu

"Ceder sem se dissolver,
compreender sem se sujeitar,
cuidar sem podar,
amar sem possuir e,
no final de tudo,
olhar pra trás e sentir: 
eu ainda sou eu."
Lya Luft.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Claro como a luz do sol



As pessoas não entendem. They don't get it. 

Mas que diabos eu queria? Nem eu mesma entendia, mesmo estando tão envolvida na situação.  Que difícil é decifrar códigos internos, expressos em sentimentos e sutilezas. Passei dias, horas a fio a pensar sobre as circunstâncias, ações e reações. Cheguei a refletir em voz alta, para garantir que não estava perdendo a coerência.... uma forma de enxergar melhor a história como um todo. Mas a verdade é que não tinha todos os elementos necessários para compor um cenário completo, panorâmico. Impossível ter, não é?

Me esforçava para ter clareza, e então surgia você na minha mente. Sorrisos, expressões, trejeitos. Olfativa que sou, fechava os olhos e conseguia até mesmo sentir o seu cheiro. Via você, me via, via nós dois juntos. Uma alegria brotava de dentro... e de novo ficava confusa.

O que é que está acontecendo? Por que é que você não se encaixa num conceito comum, para que eu possa compreender melhor o que se passa?





Foi nesse momento que um raio de lucidez me atingiu. No quarto, a música começava a me envolver e me senti como em um sonho. Repeti para mim a mesma pergunta: por que é que você não se encaixa num conceito comum, para que eu possa compreender melhor o que se passa? Sorri. Uma felicidade genuína começava a tomar conta de mim. Ri alto. Subindo as mãos pelo rosto até o cabelo, puxei a juba pro alto e gargalhei. Era claro agora.

Aqueles fragmentos que montei e remontei para compor um cenário finalmente ganharam vida, porque é assim que você é: cheio de vida e movimento, nunca um quadro estático que se pode analisar e compreender!  Em outras palavras: você nunca se encaixaria num conceito comum... e era justamente essa a sua beleza.

Sua maneira leve de conduzir a vida, sua alegria, seu jeito solto e a forma que exerce a liberdade de ser exatamente aquilo que quer.... características que me encantaram desde quando te conheci e que nos tornaram tão próximos, tão afins. Não faz o menor sentido almejar que seja diferente, que corresponda aos meus desejos ou que mude; ao contrário: gosto de você pelo que é. E talvez se você mudasse e se encaixasse num outro padrão, o encantamento se perderia e nossas afinidades também.

Agora entendo por que estive tão confusa: quis encaixar você num lugar e de um jeito que não te cabem. E pior: quis me encaixar num modelo que também já não me serve. E então, a partir dessa sobriedade, fiquei repensando e divagando sobre meus sentimentos. Afinal de contas, o que sinto por você?  O que espero dessa "relação"?

A simplicidade da resposta me assustou... fiquei intrigada por ter "perdido" tempo em demasia tentando decifrar o que agora é óbvio: quero viver com plenitude e intensidade o que vier e o que quiser. Um dia de cada vez, com leveza e liberdade. Sentir, deixar fluir naturalmente, sem expectativas, sem projeções. Quero compartilhar momentos de alegria, dar risadas, trocar idéias e curtir as coisas simples da vida sempre que o desejo coincidir. E quando não coincidir,  deixar com tranquilidade que você viva e seja feliz do seu modo, sozinho ou acompanhado. Quero ser o melhor de mim e deixar que você faça o mesmo. Quero o exercício pleno da individualidade, da liberdade e do amor.




segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Com os olhos do amor

Eu sempre tento enxergar as pessoas com o filtro do amor. Entendo que cada um "sabe a dor e a delícia de ser o que é" e, por isso, não há por que julgarmos as atitudes, reações e emoções daqueles que nos rodeiam. É um exercício diário, difícil de ser praticado. Mas me sinto feliz e grata por ter essa consciência e por me esforçar nesse sentido... confesso que tenho obtido êxito na maior parte das vezes.

Paciência e silêncio são aliados nessa batalha, ajudam no combates às conclusões precipitadas e julgamentos. 


Be kind to yourself too.

O desafio então tem sido lançar sobre mim esse mesmo olhar de tolerância, bondade, gentileza, humanidade. Deixar de lado o olhar inquisidor, reprovador, exigente, perfeccionista. Entender minhas limitações e aceitá-las. Me perdoar pelos meus erros e usá-los apenas como forma de aprender mais, crescer, evoluir.....

Não sou perfeita e é justamente isso que me torna única.


quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Emancipação emocional

Gustavo Gitti
http://olugar.org/emancipacao-emocional/

Contrariando o clichê, é minha esposa quem deixa a toalha molhada em cima da cama, junto com roupas que ela provou e decidiu não usar. É um bom cenário para me irritar. A razão parece simples, mas se movo a atenção da mente exteriorizada para o corpo emocional, o que realmente acontece ali? Eu me entorto diante de uma aparência e não sei como me desentortar sozinho. O jeito que encontro de acabar com a irritação é pedindo que ela mude, que não faça mais isso.

Vivemos assim quase o tempo todo, mexendo fora sem saber como mexer dentro. A prova dessa operação é a incapacidade de voltar a respirar em meio a uma crise sem antes resolver o que pensamos ser o problema. Se alguém nos diz “Respire, relaxe, é isso o que você realmente quer”, nós respondemos: “Me ajude a reconquistá-la, me ajude a ganhar mais dinheiro…” Ou seja: “Me ajude a respirar e relaxar do único jeito que sei respirar e relaxar.”

Ao usar as pessoas para equilibrar nosso mundo interno, viramos reféns de suas oscilações. Em vez de “Estou apaixonado!”, a gente deveria dizer: “Outra pessoa começou a modular minhas emoções!” Nossa sorte, que parece azar, é que o outro se rebela. Toda briga parece uma tentativa de ajustar a forma como estamos sendo usados ou pacificar a rebeldia do outro em não nos deixar usá-lo.

“Azul é a cor mais quente” é um bom exemplo de nossas histórias de amor romântico: se o outro modula minha energia, me desespero assim que ele age livremente além do esperado (o problema não é se relacionar, o problema é se relacionar desse jeito, sem autonomia de ânimo)

Para quebrar essa negociação infinita, precisamos investigar quais experiências internas nós desejamos quando queremos deitar de conchinha, beber caipirinha na praia, ter sucesso nos negócios, ser reconhecido entre os amigos, casar e morar junto. Se o que desejamos só surge em determinados locais e com pessoas especiais, estamos perdidos. Mas não é o caso! O que buscamos são qualidades como relaxamento, estabilidade e ludicidade, que talvez possam ser cultivadas de modo autônomo, sem nenhum fenômeno específico ao redor.

Ciúme, ódio, apego, carência, desconfiança, ansiedade, mágoa são gestos ou posições nas quais o corpo e a mente se enrijecem. Para voltar a fluir, tentamos controlar a situação ou, pelo menos, reinterpretá-la com diálogos internos e pensamentos positivos. Raramente experimentamos trabalhar a aflição na raiz, nos reequilibrando de modo direto e não discursivo, sem esperar que o outro mude ou que as condições externas melhorem.

Agora a pergunta crucial: o que estou fazendo para não mais me irritar? Será que eu sei ficar sozinho, em silêncio, relaxado, mesmo em meio a confusões longe de serem resolvidas? Conheço métodos para cultivar autonomia de ânimo? Como de fato me emancipar?

*Originalmente publicado na coluna “Quarta pessoa” da revista Vida Simples (maio 2014)