segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

A falta que faz.....

Por: Thais Wadhy



Lá estava ela, deitada no sofá a ler um livro qualquer. Não estava muito interessada, a leitura era uma espécie de passatempo para afastar o tédio e o cansaço que estava de si mesma e de seus pensamentos. Se pudesse, tiraria férias de sua subjetividade. Mas não podia; teria que se aguentar naqueles momentos de crise e de transformações. Então, utilizava de alguns artifícios, como a leitura.

Gostava de ler, principalmente livros que traziam algum tipo de reflexão sobre a vida, as pessoas, as formas de se relacionar com o mundo. Estes traziam pra ela nova perspectiva, era como um sopro de consciência. Mas não era o caso do que estava lendo. Não queria nada que provocasse ainda mais pensamentos e devanios. Queria tranquilidade, serenidade.

Era um dia preguiçoso, sem muitas expectativas. Um domingo morno, parado, o vento soprava tímido. O tempo parecia suspenso. Até que, em meio à leitura, o seu celular apita, avisando que uma mensagem havia chegado. Era ele: seu último amor, cujo término havia sido dolorido, triste, mal resolvido. A ruptura era um dos assuntos que ocupavam frequentemente seus pensamentos e lhe tiravam o sono. Nos últimos meses, vasculhava sua memória em busca do que havia feito de errado e em busca de respostas para a situação atual. O que havia acontecido com os dois? Por que...?

Com certo receio, pegou o celular e leu a mensagem; pensou se responderia. Eram frases banais, do dia-a-dia, nada de mais. Isso a deixou ainda mais intrigada, pois há tempos não tinham contato... e agora palavras assim, soltas? Será que já havia superado o trauma do término, que tudo já havia passado pra ele? Será que estava pronto para viver com ela uma amizade? ? Ela não sabia se estava pronta. Sentia a falta dele, mesmo que não assumisse com frequência, tentando sempre mudar o foco. Ficou olhando para o aparelho, lendo e relendo cada palavra escrita, tentando decifrar mistérios ocultos, encontrar recados nas entrelinhas. Nada.

Uma onda de melancolia invadiu seu coração. Tudo o que sentia veio à tona como um vulcão em erupção; uma avalanche de emoções que arrancaram qualquer barreira que ela porventura havia instalado em si mesma. Reviveu em sua mente por alguns momentos a relação acabada e sentiu em cada milímetro do corpo todas as misturas de sensações que lhe provocava; queria tanto poder falar com ele o quanto sentia pelo término.... Se imaginava dizendo....

Sinto falta dos seus beijos doces e apaixonados, da sua mão de longos dedos envolvendo a minha cintura por baixo da blusa; do toque despretensioso em minhas coxas; do seu cheiro envolvente ao me abraçar. Do jeito intenso de fazermos amor com o corpo e com a alma, das horas intermináveis de brincadeiras na cama. Das declarações de amor eterno e das trilhas sonoras que pareciam ter sido compostas pra gente. Da minha cabeça deitada em seu peito, do seu jeito sem graça de rir das minhas cutucadas. Dos planos, dos projetos, da vida a dois, dos desejos e sonhos. Do silêncio que tudo dizia entre nós, dos olhares confortantes e compreensivos, das longas e agradáveis conversas antes de dormir, do nosso jeito moleque e brincalhão. Da nossa maneira peculiar de trocar ideias, falar sobre a vida e compreender nosso lugar junto no universo. De poder ligar a qualquer hora do dia ou da noite para ouvir palavras de conforto e carinho. De ter com quem contar nas horas incertas e nos momentos de insegurança.  Do seu jeito de me envolver em seus braços e me apertar forte, das noites mal dormidas assistindo filmes e DVD's. Das contradições, que sempre me fizeram amadurecer e ser uma pessoa melhor a cada dia; aliás, sinto falta do seu jeito de me fazer querer ser uma pessoa melhor a cada dia. Do seu jeito carinhoso de falar comigo e das frases arrogantes ditas de brincadeira. Das mensagens fora de hora, das fotos trocadas, do seu sorriso e da sua gargalhada. Do seu jeito tímido e às vezes ranzinza, dos poucos momentos extrovertidos nos quais pouco lhe reconhecia. Das viagens e dos planos de viagens, de caminhar de mãos dadas. Do seu jeito peculiar de me acolher e confortar. Das experiências vividas, das recordações e do que poderia ter sido. Sinto falta até da saudade... que hoje nem é mais saudade, só ausência.....


E então, esgotada, chorou.

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