segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O que as mulheres querem?


"E chegado o Natal, elas começam a dar dicas imperceptíveis sobre a prenda que realmente querem mas os homens continuam sem perceber. Mesmo que os sinais sejam evidentes: chega de perfumes, livros ou CDs. Um dia eles são finalmente chamados à razão, abrem a boca de espanto em forma de goraz na banca do peixe e exalam este pensamento: "Mas que raio é que as mulheres verdadeiramente querem?".

No filme "O Que as Mulheres Querem" (2000), o macho-alfa Mel Gibson, um publicitário chauvinista, chega mesmo ao desespero de se travestir, depilar, pintar e enfiar uns collants para entrar na mente de uma mulher e assim descobrir o enigma. Mas era um caso de desespero pois tratava-se de não perder o seu emprego devido à chefe, Helen Hunt. E só quando fica com a capacidade sobrenatural de 'ouvir' os pensamentos das mulheres (na língua 'venusiana' delas em contraponto ao seu 'marcianês') é que ganha a vantagem competitiva nas campanhas publicitárias direccionadas ao público feminino. E a meio do filme enlouquece.

Dez anos depois a questão não se entrega a publicitários misóginos com poderes telepáticos. A Boston Consulting Group fez uma pesquisa a 12 mil mulheres em 40 países - um dos maiores estudos de mercado alguma vez efectuados e que foi publicado há dois meses - e a resposta foi desarmantemente simples: 'tempo'. E não, não é 'dar um tempo' ou um 'preciso de tempo para mim'. Consta que essas até são tiradas de cromossoma y.

Alguns argumentam que esta é uma conclusão óbvia. Ora deve ser gente com poderes sobrenaturais, digo eu. Este trend feminino é um fenómeno à escala global nos países de economia industrializada seja na China poluída ou Suécia igualitária, sendo uma necessidade transversal a produtos fitness, financeiros ou domésticos. E a equação repete-se: quanto mais liberdade as mulheres têm para perseguir os seus objectivos de auto-realização, mais dinheiro possuem mas menos tempo têm disponível e mais infelizes se sentem.

Claro que os homens dirão que com eles se passa o mesmo. Só que não é preciso nenhum estudo da BCG para saber que, por exemplo, o 'tempo masculino' é razoavelmente diferente do E=MC2 e mais parecido com uma relação binária: nascer\morrer; acordar\dormir; levantar tampo sanita\esquecer baixar tampo sanita; mulher a falar\mulher calada; jogo\intervalo; receber\gastar. Pode é ter mais ou menos polimento civilizado mas esta é uma generalização aceitável (sejamos francos, boys).

O estudo conclui que as mulheres estão esmagadas entre a carreira e a sobrecarga de tarefas, a maternidade, o trabalho doméstico, e cuidar da imagem (para se apresentar como 'pronta' têm horas e anos na composição prévia da sua feminilidade), tendo que exercer em simultâneo vários papéis - esposa, mãe, sócia, profissional, amiga, colega, irmã e filha - lutando por esticar os dias reconvertendo a sua existência numa 'revolução da des-satistação'. Os homens fingem não saber isto enquanto lêem o desportivo no laptop.

Está contudo a surgir uma avassaladora 'economia no feminino' virada para o factor tempo, tendo em conta os valores destas consumidoras, dizem da BCG. As mulheres privilegiam os valores humanos e têm "objectivos sublimes", garantem os autores do estudo. As coisas mais importantes para elas são: amor (77%), saúde (58%), honestidade (51%) e bem-estar emocional (48%). O que é diferente da canalha dos homens que, como sabemos através de Charlie Sheen no filme "Wall Street" e agora foi confirmado por aquilo do subprime, Madoff e BPN, davam péssimos convidados da Oprah.

Que deve um homem fazer com esta informação? Bom, sem querer intrometer-me na vida alheia podia oferecer 'tempo'. Por exemplo... um ano a aspirar a casa ou a decidir as ementas das refeições da família. Para os mais práticos, um Rolex cravejado a diamantes é um derivado, mas também serve."

Luiz Pedro Nunes
http://aeiou.expresso.pt/gen.pl?p=stories&op=view&fokey=ex.stories/552325

Nenhum comentário:

Postar um comentário