"De frente para o espelho, despiu-se vagarosamente. As luzes acesas denunciavam suas imperfeições, mas gostou do que viu. Olhou bem para si: para os cabelos lisos, levemente iluminados por raios dourados, como se tivessem sido tocados pelo sol de inverno; para a pele ainda jovem, não como a de adolescente, pois apresentava marcas de suas vivências, mas viva e macia; para os seios que permaneciam firmes, lindos como sempre foram; o olhar era profundo e expressivo, quase hipnotizante; a boca não dizia nada, mas os lábios insinuavam sensualidade. Sim, era bonita, pensara, para sua própria surpresa. Não costumava achar-se bonita. E, de repente, transbordou em si uma vontade de se deixar envolver e ser abraçada, de que reconhecessem toda sua doce feminilidade por trás da fortaleza que sempre fora, dura e impermeável. Quis despir-se novamente, tirar as armaduras, as máscaras, as defesas. Quis mostrar que também tinha seu lado frágil. Mas, ao invés disso, vestiu-se novamente, respirou fundo e saiu pela porta com seu ar levemente superior, pisoteando obstáculos. Não poderia demonstrar suas verdades e suas vergonhas daquela maneira. E a breve fragilidade ficou presa no espelho, que ela voltaria a encarar ao final do dia..."
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