quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
Claro como a luz do sol
As pessoas não entendem. They don't get it.
Mas que diabos eu queria? Nem eu mesma entendia, mesmo estando tão envolvida na situação. Que difícil é decifrar códigos internos, expressos em sentimentos e sutilezas. Passei dias, horas a fio a pensar sobre as circunstâncias, ações e reações. Cheguei a refletir em voz alta, para garantir que não estava perdendo a coerência.... uma forma de enxergar melhor a história como um todo. Mas a verdade é que não tinha todos os elementos necessários para compor um cenário completo, panorâmico. Impossível ter, não é?
Me esforçava para ter clareza, e então surgia você na minha mente. Sorrisos, expressões, trejeitos. Olfativa que sou, fechava os olhos e conseguia até mesmo sentir o seu cheiro. Via você, me via, via nós dois juntos. Uma alegria brotava de dentro... e de novo ficava confusa.
O que é que está acontecendo? Por que é que você não se encaixa num conceito comum, para que eu possa compreender melhor o que se passa?
Foi nesse momento que um raio de lucidez me atingiu. No quarto, a música começava a me envolver e me senti como em um sonho. Repeti para mim a mesma pergunta: por que é que você não se encaixa num conceito comum, para que eu possa compreender melhor o que se passa? Sorri. Uma felicidade genuína começava a tomar conta de mim. Ri alto. Subindo as mãos pelo rosto até o cabelo, puxei a juba pro alto e gargalhei. Era claro agora.
Aqueles fragmentos que montei e remontei para compor um cenário finalmente ganharam vida, porque é assim que você é: cheio de vida e movimento, nunca um quadro estático que se pode analisar e compreender! Em outras palavras: você nunca se encaixaria num conceito comum... e era justamente essa a sua beleza.
Sua maneira leve de conduzir a vida, sua alegria, seu jeito solto e a forma que exerce a liberdade de ser exatamente aquilo que quer.... características que me encantaram desde quando te conheci e que nos tornaram tão próximos, tão afins. Não faz o menor sentido almejar que seja diferente, que corresponda aos meus desejos ou que mude; ao contrário: gosto de você pelo que é. E talvez se você mudasse e se encaixasse num outro padrão, o encantamento se perderia e nossas afinidades também.
Agora entendo por que estive tão confusa: quis encaixar você num lugar e de um jeito que não te cabem. E pior: quis me encaixar num modelo que também já não me serve. E então, a partir dessa sobriedade, fiquei repensando e divagando sobre meus sentimentos. Afinal de contas, o que sinto por você? O que espero dessa "relação"?
A simplicidade da resposta me assustou... fiquei intrigada por ter "perdido" tempo em demasia tentando decifrar o que agora é óbvio: quero viver com plenitude e intensidade o que vier e o que quiser. Um dia de cada vez, com leveza e liberdade. Sentir, deixar fluir naturalmente, sem expectativas, sem projeções. Quero compartilhar momentos de alegria, dar risadas, trocar idéias e curtir as coisas simples da vida sempre que o desejo coincidir. E quando não coincidir, deixar com tranquilidade que você viva e seja feliz do seu modo, sozinho ou acompanhado. Quero ser o melhor de mim e deixar que você faça o mesmo. Quero o exercício pleno da individualidade, da liberdade e do amor.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015
Com os olhos do amor
Eu sempre tento enxergar as pessoas com o filtro do amor. Entendo que cada um "sabe a dor e a delícia de ser o que é" e, por isso, não há por que julgarmos as atitudes, reações e emoções daqueles que nos rodeiam. É um exercício diário, difícil de ser praticado. Mas me sinto feliz e grata por ter essa consciência e por me esforçar nesse sentido... confesso que tenho obtido êxito na maior parte das vezes.
Paciência e silêncio são aliados nessa batalha, ajudam no combates às conclusões precipitadas e julgamentos.
O desafio então tem sido lançar sobre mim esse mesmo olhar de tolerância, bondade, gentileza, humanidade. Deixar de lado o olhar inquisidor, reprovador, exigente, perfeccionista. Entender minhas limitações e aceitá-las. Me perdoar pelos meus erros e usá-los apenas como forma de aprender mais, crescer, evoluir.....
Não sou perfeita e é justamente isso que me torna única.
Paciência e silêncio são aliados nessa batalha, ajudam no combates às conclusões precipitadas e julgamentos.
Be kind to yourself too. |
O desafio então tem sido lançar sobre mim esse mesmo olhar de tolerância, bondade, gentileza, humanidade. Deixar de lado o olhar inquisidor, reprovador, exigente, perfeccionista. Entender minhas limitações e aceitá-las. Me perdoar pelos meus erros e usá-los apenas como forma de aprender mais, crescer, evoluir.....
Não sou perfeita e é justamente isso que me torna única.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015
Emancipação emocional
Gustavo Gitti
http://olugar.org/emancipacao-emocional/
Contrariando o clichê, é minha esposa quem deixa a toalha molhada em cima da cama, junto com roupas que ela provou e decidiu não usar. É um bom cenário para me irritar. A razão parece simples, mas se movo a atenção da mente exteriorizada para o corpo emocional, o que realmente acontece ali? Eu me entorto diante de uma aparência e não sei como me desentortar sozinho. O jeito que encontro de acabar com a irritação é pedindo que ela mude, que não faça mais isso.
Vivemos assim quase o tempo todo, mexendo fora sem saber como mexer dentro. A prova dessa operação é a incapacidade de voltar a respirar em meio a uma crise sem antes resolver o que pensamos ser o problema. Se alguém nos diz “Respire, relaxe, é isso o que você realmente quer”, nós respondemos: “Me ajude a reconquistá-la, me ajude a ganhar mais dinheiro…” Ou seja: “Me ajude a respirar e relaxar do único jeito que sei respirar e relaxar.”
Ao usar as pessoas para equilibrar nosso mundo interno, viramos reféns de suas oscilações. Em vez de “Estou apaixonado!”, a gente deveria dizer: “Outra pessoa começou a modular minhas emoções!” Nossa sorte, que parece azar, é que o outro se rebela. Toda briga parece uma tentativa de ajustar a forma como estamos sendo usados ou pacificar a rebeldia do outro em não nos deixar usá-lo.
Para quebrar essa negociação infinita, precisamos investigar quais experiências internas nós desejamos quando queremos deitar de conchinha, beber caipirinha na praia, ter sucesso nos negócios, ser reconhecido entre os amigos, casar e morar junto. Se o que desejamos só surge em determinados locais e com pessoas especiais, estamos perdidos. Mas não é o caso! O que buscamos são qualidades como relaxamento, estabilidade e ludicidade, que talvez possam ser cultivadas de modo autônomo, sem nenhum fenômeno específico ao redor.
Ciúme, ódio, apego, carência, desconfiança, ansiedade, mágoa são gestos ou posições nas quais o corpo e a mente se enrijecem. Para voltar a fluir, tentamos controlar a situação ou, pelo menos, reinterpretá-la com diálogos internos e pensamentos positivos. Raramente experimentamos trabalhar a aflição na raiz, nos reequilibrando de modo direto e não discursivo, sem esperar que o outro mude ou que as condições externas melhorem.
Agora a pergunta crucial: o que estou fazendo para não mais me irritar? Será que eu sei ficar sozinho, em silêncio, relaxado, mesmo em meio a confusões longe de serem resolvidas? Conheço métodos para cultivar autonomia de ânimo? Como de fato me emancipar?
*Originalmente publicado na coluna “Quarta pessoa” da revista Vida Simples (maio 2014)
http://olugar.org/emancipacao-emocional/
Contrariando o clichê, é minha esposa quem deixa a toalha molhada em cima da cama, junto com roupas que ela provou e decidiu não usar. É um bom cenário para me irritar. A razão parece simples, mas se movo a atenção da mente exteriorizada para o corpo emocional, o que realmente acontece ali? Eu me entorto diante de uma aparência e não sei como me desentortar sozinho. O jeito que encontro de acabar com a irritação é pedindo que ela mude, que não faça mais isso.
Vivemos assim quase o tempo todo, mexendo fora sem saber como mexer dentro. A prova dessa operação é a incapacidade de voltar a respirar em meio a uma crise sem antes resolver o que pensamos ser o problema. Se alguém nos diz “Respire, relaxe, é isso o que você realmente quer”, nós respondemos: “Me ajude a reconquistá-la, me ajude a ganhar mais dinheiro…” Ou seja: “Me ajude a respirar e relaxar do único jeito que sei respirar e relaxar.”
Ao usar as pessoas para equilibrar nosso mundo interno, viramos reféns de suas oscilações. Em vez de “Estou apaixonado!”, a gente deveria dizer: “Outra pessoa começou a modular minhas emoções!” Nossa sorte, que parece azar, é que o outro se rebela. Toda briga parece uma tentativa de ajustar a forma como estamos sendo usados ou pacificar a rebeldia do outro em não nos deixar usá-lo.
Para quebrar essa negociação infinita, precisamos investigar quais experiências internas nós desejamos quando queremos deitar de conchinha, beber caipirinha na praia, ter sucesso nos negócios, ser reconhecido entre os amigos, casar e morar junto. Se o que desejamos só surge em determinados locais e com pessoas especiais, estamos perdidos. Mas não é o caso! O que buscamos são qualidades como relaxamento, estabilidade e ludicidade, que talvez possam ser cultivadas de modo autônomo, sem nenhum fenômeno específico ao redor.
Ciúme, ódio, apego, carência, desconfiança, ansiedade, mágoa são gestos ou posições nas quais o corpo e a mente se enrijecem. Para voltar a fluir, tentamos controlar a situação ou, pelo menos, reinterpretá-la com diálogos internos e pensamentos positivos. Raramente experimentamos trabalhar a aflição na raiz, nos reequilibrando de modo direto e não discursivo, sem esperar que o outro mude ou que as condições externas melhorem.
Agora a pergunta crucial: o que estou fazendo para não mais me irritar? Será que eu sei ficar sozinho, em silêncio, relaxado, mesmo em meio a confusões longe de serem resolvidas? Conheço métodos para cultivar autonomia de ânimo? Como de fato me emancipar?
*Originalmente publicado na coluna “Quarta pessoa” da revista Vida Simples (maio 2014)
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
Fragmentos
Te vi em partes e, aos poucos, fui montando meu quebra-cabeças. O estranho é que algumas peças, por mais que parecessem se encaixar, não compunham o cenário; formavam uma imagem distorcida.
O todo nem sempre é apenas a soma das partes. Os fragmentos que juntei de você pelos sorrisos, palavras e atitudes não foram suficientes para se encaixarem com harmonia. Não por culpa sua, mas por culpa dos elementos que selecionei - alguns de outros jogos -, das conexões que fiz, das colas e linhas que usei para compor a paisagem. E confesso: usei também peças desenhadas, que pintei com as tintas das expectativas e das ilusões. Quis ver você perfeito no meu retrato, mas não foi possível. Nunca é, nunca será.
Me dei conta dos equívocos e então, com serenidade e com o filtro da tolerância, do respeito e do amor, fui remontando o quebra-cabeças, substituindo as partes que ali estavam por engano. Ainda que faltem algumas peças, já enxergo uma imagem muito mais real: de um ser humano com todas as forças e fraquezas que carrega, toda coragem e medo, qualidades e imperfeições. Uma pessoa livre para ser exatamente como quer ser, independente das minhas vontades.
Hoje olho pra você e sorrio.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015
Time to move on
Foi uma semana subjetivamente desgastante, de circunstâncias delicadas, que demandam força emocional. Misturas de sentimentos, pensamentos confusos. Enquanto preparo a salada com uma enorme variedade de ingredientes, penso que é exatamente assim se encontram minhas emoções: misturadas; pedaços doces, ácidos, insossos, picantes. Salada de emoções. Uma lágrima escorre pelos olhos.
Fico pensando em como é difícil fazer escolhas quando estas envolvem os sentimentos. Sei o que fazer, qual a melhor saída e por que; mas me nego a decidir. E sei o motivo: a dificuldade está em "abrir mão", em deixar para trás um pedaço de mim, ainda que não me faça tão bem. Afinal, por mais que concorde e entenda as razões, não há como negar que os sentimentos são vivos e reais e, exatamente por isso, se mostram tão fortes e presentes. E assim como todas as coisas da vida, eles nunca são de todo ruins - ou bons. Então, por mais que tragam alguma angústia, trazem também alegrias plenas e verdadeiras... ainda que momentâneas. E exatamente por isso é tão doído abandoná-los. Deixamos pra trás uma felicidade genuína.
Mas não quero parecer tola. Não quero viver de ilusões ou mesmo de pequenas doses de coisas boas. Não quero metade, quero por inteiro, pacote completo! Aceito até mesmo as tristezas, se vierem acompanhadas do riso despretensioso, do olhar sincero, dos afetos e carinhos.
Meus 33 anos e todas as experiências advindas deles me ensinaram muita coisa; uma delas, é que o coração não é inteligente o suficiente para tomar decisões sozinho, pois lhe falta lucidez e discernimento. Pra isso serve o cérebro... para ponderar, avaliar, trazer elementos novos e uma visão diferente para que possa tomar decisões equilibradas e proporcionais.
Assim, escrevo entristecida, mas sei que hoje razão e emoção chegaram num consenso: é preciso desapegar. Desapegar daquilo que "poderia ter sido", do que foi e já não é mais, das migalhas de sentimentos que restaram, bons ou ruins. É hora de fechar o ciclo, seguir em frente, movimentar-me e abrir espaço para o novo entrar. Sem peso, sem rancor, sem medo; apenas com a alegria ingênua de quem nunca se machucou.
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