Algumas vezes, a Mudança chega de mansinho lá em casa. Enquanto preparo o café, ela se senta à mesa e espera. Ficamos em silêncio até eu me dar conta de que já não tenho mais manteiga na geladeira. "Não tem manteiga?", ela questiona. "Não.". Antigos hábitos que se foram. Depois ela também sai de fininho, da mesma forma que veio. Deixa sempre uma lembrança e a certeza de que vai voltar.
Mas nem sempre a presença dela é assim, tão calma e singela. Já entrou batendo as portas da casa e do coração. Nessas circunstâncias, esbravejei e gritei palavras absurdas como "sempre" e "nunca". Ela então se vira pra mim com expressão firme e, ao mesmo tempo, fraternal. "Dói, mas é necessário", ela diz com o olhar. E arremata: "eu avisei que voltaria...".
A Mudança já me encontrou por acaso em alguns lugares especiais. Assim, despretensiosamente. Esses são os melhores encontros, leves e agradáveis. É quando me dou conta do quanto gosto de sua companhia. Então até faço a ela convites informais: "Venha, chegue mais!" E ela vem, mesmo que já a tenha rejeitado em outras ocasiões. A Mudança não é orgulhosa. E ela sabe que é muito melhor chegar quando é convidada!
Mudança esteve aqui nos últimos dias. Acho que, por temer que não fosse recebê-la de braços abertos (já que esse ano ela me visitou em demasia), disfarçou-se de acaso e até de angústia. Quando percebi que era ela, encarei-a por alguns minutos e franzi a testa. Não gostei da atitude. Forcei um sorriso sem graça e ameacei virar as costas. Foi então que a Lucidez, que não encontrava há algumas semanas, chegou de repente e, vendo a situação, falou baixinho umas palavras em meu ouvido. Sorri, agradeci. Abracei a Mudança fortemente, com lágrimas nos olhos. Lucidez juntou-se pra formar um abraço triplo, que dura até hoje. Obrigada, minhas amigas!
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