terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sobre jardins e borboletas



A gente acredita na ilusão. De que está tudo bem, de que vai passar. E vai mesmo. Vai passar a dor, depois de secar por dentro, de tanta lágrima posta pra fora, de tanto sentimento esmagado ou mal cuidado, que nem aquelas flores no jardim, castigadas pelo sol e sem nem um pingo de água pra dar a esperança de mais um tempinho de vida, de mais um suspiro, uma corzinha só; tão seca que chega a doer, e faz aquele barulho peculiar de coisa morta, de planta morta. Aí passa a dor, porque não tem mais o que doer, tá tudo seco, sem vida; e a gente sente um vazio, sente falta até da dor, e sente também uma tristeza morna, sem brilho, e um desgosto por ter acreditado na ilusão ou por não ter acreditado em outra ilusão, e sente saudades do que foi e do que não foi e do que poderia ter sido. É assim que a gente faz, a gente não, EU faço assim, me proclamo racional, de besta que sou, e como se não bastasse acho que sei bem o que quer o coração, que é tudo fase e que não se demora. A gente (a gente?) só não percebe que às vezes a cabeça engana, porque a cabeça não age sozinha, e tem um monte de coisas dando palpite, e a mais forte delas é o medo, que se impõe, com aquele pose de corretíssimo, de "eu te disse!". Que medo? Você sabe: medo de tentar, de sofrer, de ter sido em vão, de repetir o erro, de fazer mais do mesmo, de ser burra. Aí a gente corre pro outro lado, tropeça na vaidade e no individualismo, e naquele argumento vazio de que 'sou livre e faço o que quero', e na bandeira da independência e da auto-suficiência. Quanta bobagem!

Um comentário:

  1. "me proclamo racional, de besta que sou, e como se não bastasse acho que bem sei o que quer o coração."
    Disse tudo. :x

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