Autor desconhecido.
Não conheci Eliza. Não sei o que ela fazia para viver, ou mesmo sobreviver, nem posso afirmar que ela era boa pra apanhar, era boa pra cuspir. Os nomes e os zeppelins vão e vêm sem cessar, renovando sempre a história enodoada de dramas e damas.
Não quero discutir a monstruosidade dos relatos dos últimos dias, com detalhes ignóbeis e performáticos de vilões e bufões, que fizeram com que a cidade apavorada se quedasse paralisada. Quero me ater às mulheres que amamos, Marias Madalenas de todos os dias.
Puta não é uma palavra querida, ainda que esteja em nossa boca em momentos regulares de nossas vidas, para alguns em momentos muito regulares. Talvez o pouco afeto de que goza o determinante seja reflexo do pouco sentimento dispensado ao determinado, ainda que este esteja prenhe de amar. Poderia dizer que está prenhe de “amor”, mas isso acarretaria uma discussão mais profunda, que não é o objetivo deste texto.
Talvez pareça paradoxal que algo que esteja prenhe de amar não contenha amor, uma vez que amar e amor têm o mesmo radical (linguístico e pragmático). Talvez pareça paradoxal que uma mulher com a qual tenhamos contato tão íntimo seja objeto de tanto desprezo e asco (este objeto não é casual), que seja tão estimada antes e tão desconsiderada depois. Talvez pareça paradoxal menosprezar uma mercadoria pela qual se paga, que ansiosamente é aguardada e que, fato consumado, desvalorizada de maneira vil. Talvez pareça paradoxal erigir o dirigível com tanto aprumo e vigor para vê-lo, mais tarde, tombar mortalmente como o Hindenburg. O paradoxo da parecência é uma característica do ser humano.
Quando incendiaram o índio Galdino, o argumento dos adolescentes foi que eles acharam que se tratava de um mendigo. Quando espancaram uma doméstica em um ponto de ônibus na cidade do Rio de Janeiro, o argumento dos adolescentes foi que eles acharam que se tratava de uma garota de programa. Nesse jogo de premissas, a conclusão é óbvia.
Toda essa repercussão sobre a profissão de “modelo” de Eliza, se era garota de programa, atriz de filmes eróticos ou qualquer eufemismo que o valha, abafa a humanidade do caso, reminiscência inequívoca de um imaginário popular que desqualifica totalmente as prostitutas. Observe que, dos três palavrões mais comuns de nossa língua, dois deles carregam “puta” em sua estrutura; há um ditado antigo que afirma “Conversa de puta Deus não escuta.” (não nos esqueçamos da importância da religião em nossa cultura e sociedade); quando uma mulher precisa ser desqualificada, o primeiro adjetivo a ser lembrado, em geral, é puta, zoologicamente metamorfoseado em piranha se dito por uma mulher.
Em contrapartida, há um chavão do imaginário popular que afirma que uma mulher para ser uma boa esposa precisar ser “na rua uma dama e uma puta na cama”. Novamente, o paradoxo da parecência.
Não faço apologia aos extremos – nem à prostituição nem à hagiologia das meretrizes; não afirmo que os preceitos abordados neste texto sejam definitivos ou compartilhados integralmente por homens e mulheres. A reflexão é sobre a humanidade, sobre homens e mulheres, sobre aquilo que nos permite afirmar que constituímos uma civilização. De que adianta o zeppelin partir se seguimos cuspindo e arremessando bosta na maldita?
Não conheci Eliza. Não sei o que ela fazia para viver, ou mesmo sobreviver, nem posso afirmar que ela era boa pra apanhar, era boa pra cuspir. Os nomes e os zeppelins vão e vêm sem cessar, renovando sempre a história enodoada de dramas e damas.
Não quero discutir a monstruosidade dos relatos dos últimos dias, com detalhes ignóbeis e performáticos de vilões e bufões, que fizeram com que a cidade apavorada se quedasse paralisada. Quero me ater às mulheres que amamos, Marias Madalenas de todos os dias.
Puta não é uma palavra querida, ainda que esteja em nossa boca em momentos regulares de nossas vidas, para alguns em momentos muito regulares. Talvez o pouco afeto de que goza o determinante seja reflexo do pouco sentimento dispensado ao determinado, ainda que este esteja prenhe de amar. Poderia dizer que está prenhe de “amor”, mas isso acarretaria uma discussão mais profunda, que não é o objetivo deste texto.
Talvez pareça paradoxal que algo que esteja prenhe de amar não contenha amor, uma vez que amar e amor têm o mesmo radical (linguístico e pragmático). Talvez pareça paradoxal que uma mulher com a qual tenhamos contato tão íntimo seja objeto de tanto desprezo e asco (este objeto não é casual), que seja tão estimada antes e tão desconsiderada depois. Talvez pareça paradoxal menosprezar uma mercadoria pela qual se paga, que ansiosamente é aguardada e que, fato consumado, desvalorizada de maneira vil. Talvez pareça paradoxal erigir o dirigível com tanto aprumo e vigor para vê-lo, mais tarde, tombar mortalmente como o Hindenburg. O paradoxo da parecência é uma característica do ser humano.
Quando incendiaram o índio Galdino, o argumento dos adolescentes foi que eles acharam que se tratava de um mendigo. Quando espancaram uma doméstica em um ponto de ônibus na cidade do Rio de Janeiro, o argumento dos adolescentes foi que eles acharam que se tratava de uma garota de programa. Nesse jogo de premissas, a conclusão é óbvia.
Toda essa repercussão sobre a profissão de “modelo” de Eliza, se era garota de programa, atriz de filmes eróticos ou qualquer eufemismo que o valha, abafa a humanidade do caso, reminiscência inequívoca de um imaginário popular que desqualifica totalmente as prostitutas. Observe que, dos três palavrões mais comuns de nossa língua, dois deles carregam “puta” em sua estrutura; há um ditado antigo que afirma “Conversa de puta Deus não escuta.” (não nos esqueçamos da importância da religião em nossa cultura e sociedade); quando uma mulher precisa ser desqualificada, o primeiro adjetivo a ser lembrado, em geral, é puta, zoologicamente metamorfoseado em piranha se dito por uma mulher.
Em contrapartida, há um chavão do imaginário popular que afirma que uma mulher para ser uma boa esposa precisar ser “na rua uma dama e uma puta na cama”. Novamente, o paradoxo da parecência.
Não faço apologia aos extremos – nem à prostituição nem à hagiologia das meretrizes; não afirmo que os preceitos abordados neste texto sejam definitivos ou compartilhados integralmente por homens e mulheres. A reflexão é sobre a humanidade, sobre homens e mulheres, sobre aquilo que nos permite afirmar que constituímos uma civilização. De que adianta o zeppelin partir se seguimos cuspindo e arremessando bosta na maldita?
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